30.6.06

Leitura recomendada

O texto integral da decisão do Supreme Court norte-americano no caso Hamadi vs Rumsfeld, sobre as chamadas military comissions em Guantanamo.
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Uma lei aprovada pelo Congresso em 2005 (o Detainee Treatment Act), prevê que, a partir de 30 de Dezembro de 2005, «no court, justice, or judge shall have jurisdiction to consider the habeas application of a Guantanamo Bay detainee». A principal questão discutida na decisão não é a da eventual (in)constitucionalidade de tal disposição, que não chega sequer a ser analisada, mas a da sua aplicabilidade aos processos pendentes na data da sua entrada em vigor.Contra a opinião dos vencidos, o tribunal conclui pela negativa. Mas se o processo de Hamadi tivesse chegado ao Supremo em 2006, teria sido unanimemente recusado.

O texto merece ser lido, apesar disso, pelas interessantíssimas considerações sobre os poderes do Presidente, a fronteira entre os poderes executivo e legislativo e o papel dos tribunais nas relações externas.

viver para ver

O PC a lamentar a saída de Freitas do Amaral do governo português.

Cansou, ou cansaram-se dele

Freitas do Amaral foi despedido ou despediu-se.

Mais aqui.

post câncio

passei pela casa fernando pessoa. presentes, entre outros, o pedro mexia, a fernanda que não linka o blasfémias e o eduardo prado coelho, bem moderados por carlos vaz marques..

nunca tinha ouvido o eduardo e gostei muito. o eduardo nunca lê blogues mas sabe absolutamente tudo sobre a assunto, pelos destaques do diário de notícias.

gostei muito da fernanda que explicou aos presentes porque é que não usa maiúsculas. a fernanda tem preguiça de carregar no shift. compreende-se. a fernanda passa o dia a escrever coisas sérias no jornal e quando escreve para o blogue, facilita.###

não se pode levar a mal, porque a verdade é que algumas teclas estão mesmo muito mal posicionadas no teclado. por exemplo, o 1 e o 2 estão a um canto, completamente fora de mão e o mindinho não consegue lá chegar. vou deixar de usá-los. substitui-se o 1 por i e o 2 por z. os z acentos também obrigam a uma complexidade desnecessária. tanto o agudo como o grave estão a mais de i0 centimetros do centro do teclado, obrigando a desapoiar a palma da mão para acentuar. o caso do acento grave e, como o nome sugere, ainda mais grave porque esta em óbvio conluio com o shift. são z teclas em vez de i e a fernanda explicou que so escreve com z dedos, nao e dactilografa. eu tambem nao sou. acabam-se os acentos, de vez. o til e o circunflexo vao atras. o mindinho direito ainda chega para o til, mas nao faz sentido discriminar acentos no blasfemias.

estou agora a ver que o hifen obriga irritantemente a ginasticar a mao so para separar letras umas das outras. passa-se a usar o + que esta melhor posicionado. acabaram+se os hifens. e ja agora vai tambem o zero. nao e tao mau como o i ou o z, mas se o o está mais a jeito e o o e o o sao gemeos identicos que quase nao se distinguem. passa+se a usar o o, definitivamente. e o q? kue tecla mais fora de jeito. e vao tambem as cedilhas, os pontos de exclamacao, os de interrogacao e mais os pontos finais... ganha+se o triplo so com as reticencias

kuem diria kue seria possivel aumentar a produtividade da escrita em io%, talvez zo%, mantendo a legibilidade intacta obrigado fernanda a blogosfera inteira agradecer+lhe+a esta magnifica contribuicao sao projectos desta grandeza kue vao ajudar ao sucesso do chokue tecnologico estou akui a pensar sera que os espacos fazemmesmofaltaoupoderemosignora+los

Guantanamo

1. Os anti-americanos que durante anos andaram a dizer que Guantanamo prova que os EUA são um país que viola os direitos humanos deveriam agora reconhecer que a separação de poderes funcionou e que o sistema americano de checks & balances não aprovou Guantanamo. Isto é, talvez fosse altura de reconhecer as virtudes da Democracia Liberal americana.

2. Aqueles que se opõem à forma liberal de democracia e defendem o poder ilimitado para os representates do povo deveriam agora protestar contra a interferência de um órgão não eleito (o Supremo Tribunal) nas actividades de um presidente que teve mais de 55% do voto popular.

3. Quem, por exemplo, considera que Hugo Chavez deve ser respeitado como grande democrata pelo simples facto de ter sido eleito, reconhecendo-lhe o direito de fazer o que quiser enquanto líder da Venezuela, deve olhar com grande desconfiança para esta decisão de um órgão não eleito como o Supremo Tribunal dos EUA.

4. Quem é contra a interferência dos tribunais no encerramento de maternidades em Portugal por considerar que o poder executivo deve ter um poder ilimitado em questões políticas, deve olhar com desconfiança para a interferência de um órgão não eleito como é o Supremo Tribunal dos EUA nas decisões políticas do presidente eleito.

5. Quem esteve contra a nomeação de Santana Lopes para Primeiro-Ministro por este não ter sido "eleito" deve olhar igualmente com desconfiança para esta decisão de um Supremo Tribunal composto por juizes não eleitos contra um presidente que foi eleito.

6. E quem criticou Bush por, no primeiro mandato, ter sido escolhido por um tribunal, não tendo a maioria do voto popular, deve olhar igualmente com desconfiança para um Supremo Tribunal composto por juizes não eleitos por voto popular.

Contrastes (II)

A confusão britânica.

A nossa menina dos olhos (pré-choque tecnológico).

29.6.06

Yes! Uma grande vitória para a liberdade

«O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu hoje que os tribunais militares de Guantanamo, criados para julgar os "combatentes inimigos" capturados no Afeganistão, são ilegais porque o Presidente George W. Bush não tinha autoridade para os instituir».

Não só.

Um dos juízes refere também com inteira razão que:
«Trial by military commission raises separation-of-powers concerns of the highest order.(...) Concentration of power (in the executive branch) puts personal liberty in peril of arbitrary action by officials, an incursion the Constitution's three-part system is designed to avoid.»
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Por muitas razões que assistam aos EUA para estar em guerra (e tem-nas), é absolutamente inaceitável que recorra a métodos que em todo o caso negam os mais elementares direitos, os quais, em última análise, se pretendem com tal guerra preservar e defender.
Os detidos que tem sido nos últimos anos enviados para Guantanamo encontram-se numa situação aberrante, numa situação a-jurídica. Nem são acusados de crimes civis (atentados, terrorismo, assassinato, conspiração, etc.), nem ficam sob a alçada militar, pela qual poderiam eventualmente ser acusados de crimes de guerra ou outros, puníveis e previstos na lei americana ou em convenções internacionais.
Recorde-se que tais «Comissões» são criadas pela Administração, os critérios de análise e as «molduras penais» por ela definidos, para além de nomear todos os intervenientes, (acusação, «defesa» e julgadores), não existindo qualquer possibilidade de recurso.
Sendo positiva e na boa direcção, esta decisão é apenas um primeiro passo no lento desmantelar que se impõe a um sistema e a práticas que negam o primado do Direito e da Lei.

Amigos para sempre!

Na Eslováquia a esquerda representada pelo partido Smer lidera a coligação que vai governar aquele país na sequência das últimas eleições. Como não obteve maioria o Smer vai governar em coligação com partidos nacionalistas de extrema-direita. O futuro primeiro-ministro e actual líder do Smer, Robert Fico, declarou que "esta coligação permitirá à Eslováquia tornar-se um Estado social". Sem dúvida!

AGORA QUE CHEGOU O "profeta"...



... espero a inevitável travessia no deserto. E até podem ser menos do que 40 anos.

Liberdade sundical de 2006

Vamos supor que a Ministra da Educação consegue mesmo acabar com o destacamento de professores para os sindicatos. As consequências são as seguintes:

1. Mais professores do quadro nas escolas o que torna desnecessária a contratação de professores temporários. Poupança de recursos públicos que podem ser melhor utilizados noutras actividades de interesse público.

2. Menos gente nos sindicatos a conspirar contra o governo à custa do contribuinte (o que inclui o contribuinte que apoia o governo).

3. Contribuinte deixa de financiar indirectamente a luta política da extrema esquerda.
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4. Sindicatos obrigados a financiar-se entre os seus associados. Custos do sindicalismo pagos pelos próprios. Mais reponsabilidade.

5. Sindicatos que não servem os seus associados ou fecham ou mudam. Maior coincidência entre os interesses do sindicato e os interesses dos sindicalizados.

6. Trabalhadores sindicalizados mais exigentes. Renovação da patética classe de dirigentes sindicais.

7. Concorrência entre sindicatos muito mais transparente.

É "Fássismo".

Aqui, no Blasfémias, fascismo nunca mais.

DEBATE na ÁRVORE

Amanh~a, 30 de Junho, pelas 21.30 horas, realizar-se-á uma sessão-debate subordinada ao tema "Mudar o Poder Local", a propósito do livro Paulo Morais: Mudar o poder local, da autoria do jornalista António Freitas de Sousa.
A sessão-debate realiza-se na Cooperativa Árvore, no Porto, e contará com as seguintes participações:
- Paulo Morais, Professor Universitário
- Manuel Correia Fernandes, Professor Catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
- Teresa Rosmaninho, Psicóloga
Moderará a sessão-debate o historiador José Freire Antunes.

Tempo do patrão

Daniel Oliveira não gostou da expressão "tempo do patrão". Mas a expressão é perfeitamente adequada. Os trabalhadores costumam receber um salário. Ora este salário não é uma dádiva nem um subsídio. É pago em troca do tempo que o trabalhador está ao serviço da empresa. Nenhuma empresa tem interesse em pagar salários a quem não passa tempo nenhum ao serviço da empresa. Nem existe nenhuma justificação para que uma empresa deva ser obrigada a pagar a um trabalhador que usa o seu tempo de trabalho ao serviço dos seus interesses privados. Isso não quer dizer que o trabalhador seja do patrão, quer apenas dizer que o salário só se justifica se durante o tempo que é suposto o trabalhador estar a trabalhar ele esteja de facto a trabalhar para o patrão e não para si próprio. A situação dos professores destacados nos sindicatos é totalmente aberrante porque eles estão a ser pagos a pretexto de dedicarem o seu tempo a servir o público (dando aulas ou realizando outras tarefas para o Ministério), mas o que eles fazem na realidade é dedicar o seu tempo aos seus interesses privados e aos dos outros trabalhadores sindicalizados. Ora, não faz sentido nenhum que uma organização privada como um sindicato seja financiada pelos contribuintes para defender interesses contrários aos interesses dos contribuintes.

Sai hoje

Contrastes

Belfast: ostentatória e bela, mas
pobre.



Dublin: simplória e feia, mas rica.

28.6.06

uma referência moral

O Daniel Oliveira é uma referência moral da política portuguesa e um vigilante da democracia. Dois exemplos: onde estão duas blagues a uma piada de mau gosto, que é a atribuição de pensões pelo governo português por feitos ocorridos há mais de trinta anos, Daniel Oliveira vislumbra sensatamente a apologia da PIDE, da tortura e, claro, do «fássismo». De permeio passa ao largo do essencial: por que razão e com que critérios se atribuem neste momento estas pensões, num país que tem posto sistematicamente em causa os direitos adquiridos dos pensionistas e dos reformados, e que nunca olhou seriamente para as vítimas da guerra do Ultramar. Isso, obviamente, não interessa. São minudências, se comparadas com o mau gosto do «fássismo» pidesco que sobressai dos aludidos «post». E com a grosseria e o mau gosto o Daniel Oliveira enoja-se e não contemporiza. Tal qual fez quando se divertia alarvemente com os «post» publicados no Barnabé sobre a doença de Alzheimer que afectava Reagan e João Paulo II. Uma referência moral a seguir, não haja dúvida!

sai mais uma pensão para a mesa do canto!













- Os fássistas, a mim, até os dentes levaram!

OUTROS TÍTULOS



























Quem é o rapaz que ficou por baixo?

«fássismo nunca mais!» II

Parece que o governo anda a atribuir pensões de reforma aos combatentes anti-fascistas. Tendo em conta que algumas dessas pensões estão a ser atribuidas a comunistas que toda a vida lutaram pela instituição de uma ditadura comunista em Portugal, não vejo motivo nenhum para que, em nome da paridade, não se atribuam também pensões aos anti-comunistas que toda a vida lutaram pela manutenção da ditadura em Portugal. Ambos lutaram pela imposição de um tipo de ditadura e contra o tipo de ditadura oposto. Sendo assim, gostaria de propor uma pensão para esse grande anti-comunista que foi Rosa Casaco.

Liberdade sindical de 1975

Vital Moreira escreve que é evidente que a liberdade sindical exige que os dirigentes sindicais gozem de um adequado tempo de dispensa de serviço para as suas actividades. É direito que a lei sindical de 1975 instituiu na nossa ordem jurídica. No fundo, o que Vital Moreira está a defender é que a liberdade sindical só é possível se o sindicalismo for pago pelo patrão e se for exercido no tempo do patrão. Trata-se de um conceito sui generis de liberdade que pressupõe que os outros não têm liberdade para escolher entre subsidiar e não subsidiar um sindicato. O subsídio ao sindicato é obrigatório em nome da liberdade sindical. Mas podia ser pior. Pelo menos não ficou consagrada na lei uma outra componente da liberdade sindical de 1975: a unicidade sindical. O país não teria suportado tanta liberdade.

acerca do liberalismo e relações internacionais

O Bruno Cardoso Reis envolveu-se (sem se querer envolver...) numa polémica sobre o que poderá eventualmente ser uma (ou várias) visão liberal das Relações Internacionais. Com essa intenção parametrizou as posições dominantes nessa disciplina científica nas Escolas Clássica (ou realista), Neo-Clássica (ou neo-realista), Liberal e Neo-Liberal (tratando-se, aqui, do «liberalismo» norte-americano e não propriamente o liberalismo clássico), e nalguns autores com maior expressão, entre eles os inevitáveis Morgenthau, Keohane, Nye, Waltz e Wendt. Termina com algumas conclusões interessantes, a saber: que o Estado é um resultado inevitável da actividade humana; que a cooperação internacional é um pressuposto da liberdade de comércio; que o federalismo é um fundamento do liberalismo, e, por fim, que o realismo político não pode prescindir do Estado absolutista e do mercantilismo económico. Embora reconheça que algumas destas conclusões denunciam um esforço significativo de aproximação ao liberalismo por parte de uma certa esquerda inteligente, de que o Bruno Cardoso Reis é, sem dúvida, um dos melhores intérpretes, outras são motivo de desilusão. Vejamos porquê.

Principiando pelo que parece pacífico, eu diria que efectivamente o liberalismo deve pugnar pelo federalismo como forma de organização política do Estado contemporâneo, admitindo que, pelo menos por enquanto, não parece possível substituir o modelo estadual por outro que seja mais conciliável com a ideia de liberdade. Se por federalismo entendermos o que Proudhon entendia, isto é, a máxima fragmentação do poder político repartindo-o por níveis de decisão mais próximos das comunidades sociologicamente reais, em necessária consonância com o princípio da subsidiariedade, aí estaremos de acordo. Muitos liberais foram assumidamente federalistas, não sendo nunca de esquecer que Lord Acton considerou-o o processo mais adequado para conter e civilizar a soberania estatal, enquanto Hayek defendeu-o como o melhor caminho para assegurar a paz na Europa Ocidental do pós-1945. Porém, se pelo federalismo quisermos a instituição de um super-Estado, com poderes centrais transferidos das partes que o compõem para um novo Estado federal, nesse caso parece que o federalismo não será um modelo liberal de distribuição do poder. No plano internacional, pode haver federalismo sem que exista um Estado federal, sendo que a União Europeia é disso (pelo menos por enquanto e espera-se que por muito tempo) um bom exemplo. Mas, para isso, torna-se necessário admitir a partilha, ou a divisibilidade, da soberania, ideia que repugna às Escolas Realista e Neo-Realista das Relações Internacionais, que continuam a ver no Estado soberano o paradigma dominante.###
A ideia de «cooperação» é, ela mesma, um pressuposto do liberalismo, seja entre os indivíduos, seja entre as suas formas de organização privadas e públicas. Quando os liberais falam em «mercado-livre» e na «mão invisível» é precisamente na ideia de cooperação livre entre os indivíduos que estão a pensar. No campo das Relações Internacionais, considerando-as redutoramente apenas como aquelas que se estabelecem entre os Estados, sempre se poderá reconhecer que o estatismo e o nacionalismo foram e são responsáveis pelos conflitos entre os povos. Por isso mesmo, não nos devemos satisfazer com a ideia de cooperação internacional apenas como as relações entre os Estados. Há outros agentes que contam, que contam cada vez mais no mundo em que vivemos, entre eles, desde logo, os próprios indivíduos, que num contexto de globalização e de comércio livre tenderão com mais facilidade a preferir a paz à guerra, e a impor a primeira sobre a segunda aos seus governos. Os liberais clássicos, entre eles inevitavelmente Smith e Ricardo, sempre viram no comércio livre o modo mais eficaz de aproximar os indivíduos, os povos e as nações. Kant, que o Bruno muito oportunamente refere, e o seu individualismo cosmopolita, também. Essa foi, de resto, a via assumidamente liberal seguida por Monnet para encetar a construção comunitária e terminar com séculos de hostilidade entre os Estados europeus ocidentais.

Quanto à inevitabilidade do Estado e à exigência do absolutismo e do mercantilismo para os defensores do realismo político, é que já não podemos concordar. Embora admita o princípio da existência de uma organização política que seja contratualmente criada (o Estado ou outra coisa qualquer) para salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos - propriedade, liberdade e (alguma) segurança -, ideia que encontramos em muitos liberais clássicos, desde logo em Locke, a refutação da inevitabilidade útil do expansionismo estatal, no exercício das funções de soberania política e económica (utilizando a dicotomia do Bruno do «absolutismo» e do «mercantilismo»), é que me parece ser o ponto mínimo de convergência liberal. Essa visão «state-centric» é perigosa e mereceu até a crítica de alguns neo-realistas (como Hoffman em relação a Morganthau), por a considerarem estática e perigosa. Neste último caso, por poder transformar-se num fundamento teórico com consequências práticas, que leve os Estados a enjeitarem qualquer tipo de cooperação. Cenário que esteve, aliás, muito em foco durante a guerra-fria. De resto, se por realismo político entendermos uma leitura neo-maquiavélica da realidade, teremos de concluir pela perversidade natural do poder, logo, pela necessidade da sua domesticação, como bem sugeria Bertrand Russel. Nessa medida, nada melhor do que o esvaziamento do poder dos Estados através de modelos de organização interna e externa que para isso contribuam, como o federalismo, da liberalização mundial do comércio e da livre circulação das pessoas e dos factores económicos, da massificação do turismo (talvez a verdadeira e única grande revolução do século passado), da transnacionalização dos grupos económicos e políticos, etc. Numa perspectiva "liberalmente realista", se a expressão me for autorizada, o que é sensato é pugnar pela diminuição e pelo encolhimento da soberania nas suas duas facetas tradicionais: a interna e a externa, esta última domínio por excelência das relações internacionais. O que não significa que se venha a cair na ingenuidade perigosa de acreditar que o mundo em que vivemos seja suficientemente tranquilo num contexto de liberalização global. Como em qualquer sociedade, também na sociedade internacional as regras de cooperação podem ser postas em causa, inclusivamente por meios de violência excessiva e de consequências imprevisíveis. Ainda dentro da mesma perspectiva liberal, será normal que os interessados - no nosso caso, os Estados que pretendam manter um padrão pacífico de existência - contratualizem com terceiros algumas garantias da sua segurança. No mundo ocidental desde, pelo menos, o fim da II Guerra Mundial, esse papel tem sido solicitado e, consequentemente, cabido aos EUA, que o exercem modicamente em troca de benefícios económicos e comerciais. De algum modo, pela exportação e comercialização do «american way of life» e a sua generalização quase à escala planetária. Que se saiba, permanece como uma das poucas leis universias das Relações Internacionais o facto de, até à data, não se ter registado nenhuma guerra entre dois países com restaurantes Mcdonald's. Por enquanto, o essencial - a paz - tem sido efectivamente salvaguardado e o preço pago não está inflacionado: a URSS foi desmantelada e não se concretizaram os receios de utilização por potências menores do seu vasto arsenal nuclear; a Europa Ocidental continua em paz; as ameaças do terrorismo global encontram-se, apesar de tudo, contidas. É certo que existem zonas consideráveis do planeta que mantêm conflitos regionais, principalmente em África e no Médio Oriente. Mas, nestes casos, é a soberania estatal que fala mais alto, exercida à margem de qualquer mediação internacional que intencionalmente esses Estados enjeitam. Não podem, por isso, queixar-se por ficarem entregues a si mesmos e à volúpia dos seus interesses.

Modernidade

Acabei de meter os posts de hoje no marco do correio. Devem chegar ao Blogger em breve. Agradeço a paciência.

27.6.06

Capas Infelizes

A Marca, Hoje.

Timor - Depois da golpada

Xanana já governa por decreto, ignorando o parlamento
E lá se vai preparando o caminho para inviabilizar uma solução constitucional.
Nota: apoiantes de Xanana incendeiam e atacam casas de dirigentes da Fretilin.

Via CTT (2)

«Mário Lino explicou ainda que a entidade que envia a carta entrega aos correios sob a forma de um CD, por exemplo, sendo que os correios colocam essa carta na caixa de correio electrónica a quem se dirige.»
É... simplex!

Depois, o cidadão que não tenha computador, vai aos CTT, naturalmente à hora de expediente, consulta a sua caixa de correio eletrónico e... se puder, manda imprimir para conferir em casa.
Ah, mas mesmo isto não é para agora. Nenhuma estação dos CTT tem o serviço disponível. É só para daqui a muitos meses.
Propaganda e ainda por cima a uma coisa inútil.

Hamas reconhece o Estado de Israel

O Hamas e a Fatah terão chegado a acordo quando ao documento da conciliação nacional que o Presidente palestiniano pretendia sujeitar a referendo, face à renitência do governo do Hamas em o aceitar. Tem-se dito que o documento reconhece (implicitamente) a existência (ou o direito à existência) de um estado de Israel independente, ao lado de um estado Palestiniano, mas há quem não concorde com esta interpretação. O texto integral do documento pode ser lido aqui (em inglês).
Para o Hamas, a aceitação do documento é o primeiro passo para o fim das sanções económicas internacionais (falta ainda renunciar à violência e aceitar os acordos anteriormente firmados pela Autoridade Palestiniana). Mas para continuar o processo de paz, o governo palestiniano terá de conseguir resistir às divisões internas que assolam o Hamas, com os membros do Governo mais moderados, por um lado, e os seguidores do exilado Khaled Mashaal, por outro, divisões de que o rapto de um soldado iesraelita parece ser o episódio mais recente.

Via CTT

Das Condições gerais de utilização do serviço de e-mail dos CTT:

3.3. Os dados pessoais fornecidos pelo TITULAR no Formulário do Pedido de Registo serão processados e armazenados informaticamente numa base de dados pertencente aos CTT e destinam-se a ser utilizados pelos CTT no âmbito da relação contratual com o TITULAR e para a comercialização de serviços e/ou produtos das empresas do Grupo CTT.

5.1. Os CTT poderam [sic] alterar as Condições Gerais ou Especiais, devendo notificar o TITULAR, com uma antecedência mínima de cinco dias sobre a data de entrada em vigor das novas condições gerais.

Aquecimento Global: Obscura controvérsia

Quem quer mandar bitaites sobre uma determinada polémica deveria pelo menos tentar identificar os pontos controversos que se encontram em debate. No caso do Aquecimento Global, o aumento da temperatura ao longo do século XX não é um ponto controverso e eu não o contesto. Se o Paulo Querido quiser mesmo informar-se sobre o que realmente está em causa sugiro-lhe que comece por este artigo da Wikipédia.

SÓ PARA REMATE FINAL

Ontem à noite uma TV alema transmitiu um programa meio cómico e desportivo sobre o Mundial. Eram 5 convidados diante uma plateia de adeptos alemaes que se debrucaram sobre as vicissitudes do jogo Portugal-Holanda.
As duas equipas foram arrasadas - gozaram com as agressoes mútuas, puseram o público a rir a bandeiras despregadas com as "carícias" do médico português perigosamente perto das partes pudendas de Cristiano Ronaldo, brincaram com a cara de enterro de Van Basten, com o gesticular desesperado de Scolari, com o holandês que teve uma visao privilegiada do cucuruto da cabeca de Figo. Sem denotarem qualquer réstea de humanidade, riram-se intensamente com as lágrimas de Cristiano Ronaldo pela sua saída. Daquilo de que me fui apercebendo, precisamente conforme a experiência que por cá vou tendo, os alemaes estao-nos bastante agradecidos por lhes termos retirado um dos favoritos do caminho. Nada mais. O programa terminou com uma canconeta de despedida dirigida à Holanda que um dos "artistas" presentes compôs para a ocasiao. O público cantarolava, feliz, enquanto agitava as bandeiras do seu país.
Fiquei ainda mais esclarecido acerca do alegado apoio entusiástico que os alemaes estao a dar à equipa das quinas, de acordo com a nossa esperancosa imprensa...

hobbes e o liberalismo

Existe uma propensão relativamente recente entre alguns liberais para desculpabilizarem Thomas Hobbes (1588-1679), retirando-lhe parte significativa da carga pejorativa de ter sido um dos contratualistas, talvez mesmo o primeiro, defensores do Estado absolutista. Em Portugal, André Azevedo Alves faz no seu livro Ordem, Estado e Liberdade uma excelente abordagem dessas opiniões, tendo como referência a análise tolerante de Michael Oakeshott, segundo a qual Hobbes é frequentemente mal lido, já que o Estado que propugna não é inimigo do indivíduo e dos seus direitos, mas «a condição mínima de qualquer associação estabelecida entre indivíduos». Como pressuposto desta hipótese está a convicção de que o Estado hobbesiano se encontra ao serviço dos indivíduos e não, como em Maquiavel, dos interesses egoístas do príncipe. Daqui a considerá-lo um autor útil ao liberalismo (ainda que não exactamente um liberal), vai um pequeno passo.
Não creio, contudo, que esta perspectiva resista a uma análise detalhada do pensamento do filósofo inglês, que resulta primordialmente das suas duas obras políticas mais importantes, a saber, The Elements of Law Natural and Politic e o Leviathan. Se, na verdade, o Estado é, em Hobbes, um instrumento ao serviço de uma finalidade, e se a sua instituição resulta de uma intenção volitiva dos membros da comunidade, ou seja, não é um dado da natureza humana, mas um produto da vontade racional dos homens, nada legitima que se retire a conclusão que esse aparelho do poder se encontra ao serviço da liberdade, dos indivíduos e da defesa dos seus direitos fundamentais, nomeadamente da propriedade.###

Situemo-nos, primordialmente, na perspectiva contratualista de Hobbes. Ela é exposta claramente no capítulo XVII do Leviathan, onde é dito que o Estado resulta de um pacto estabelecido entre cada homem e o soberano (um homem singular ou uma assembleia popular ou aristocrática), pelo qual o primeiro transfere de forma ilimitada o direito de se governar a si próprio. Se é certo que a instituição de Estado soberano é fruto do consentimento dos governados, no que Hobbes se poderia, de facto, aproximar dos contratualistas liberais, o que não deixa lugar a dúvidas é o seu categórico imperativo social. Para o filósofo inglês, o Estado é a única maneira de assegurar a sobrevivência das sociedades humanas, naturalmente conflituosas e destrutivas, em estado de natureza de guerra permanente. Não deixa de ser curioso constatar que Hobbes admite que esta conflitualidade natural é resultado da igualdade entre os homens, nomeadamente das suas capacidades físicas e intelectuais, que ele considera não diferirem substancialmente. Porém, deste ponto de partida que o poderia conduzir à defesa de direitos fundamentais individuais e a prerrogativas de liberdade inalienáveis dos súbditos perante o soberano, resulta precisamente o inverso: a afirmação do contrato social como pactum subjectionis e não como pactum liberationis. Pior ainda: sendo este um pacto colectivo, não pode um indivíduo abandoná-lo unilateralmente, sujeitando-se as minorias a toda e qualquer deliberação da maioria de transferir a soberania para um soberano concreto (Capítulo XVIII). Esta fundamentação da democracia representativa é, salvo melhor opinião, fundamento igualmente válido para o totalitarismo democrático não respeitador da vontade e dos direitos das minorias. Um dos males de que padecem as democracias contemporâneas.
Deste último aspecto retira Hobbes o seu conceito de propriedade: «pertence à soberania todo o poder de prescrever as regras através das quais todo o homem pode saber quais os bens de que pode gozar, e quais as acções que pode praticar, sem ser incomodado por qualquer dos seus concidadãos: é a isto que os homens chamam propriedade» (Capítulo XVIII). Ao invés do contratualismo liberal, onde o Estado se justifica pela defesa da propriedade, em Hobbes ele cumpre também essa missão, embora seja impensável conceber esse direito, ou qualquer outro, fora dele. Não existe, tão pouco, no seu elenco de direitos fundamentais, ou de «leis naturais (Capítulo XIV), a ideia da propriedade como direito individual inalienável e absoluto perante as prerrogativas de soberania. Mais grave ainda: nem a liberdade (que é definida como «o poder de cada um fazer o que quer») é um direito absoluto. Ele é mesmo um direito relativo, perante a necessidade de instituir o Estado e de evitar «o direito de cada homem a todas as coisas», próprio do estado de natureza, origem da impossibilidade de definir direitos individuais e gerador de insegurança e de estado de guerra de «todos contra todos».
Resta acrescentar que Thomas Hobbes é, muito evidentemente, um soberanista, no sentido de que pressupõe, à semelhança de Rousseau, de quem seria, neste ponto em concreto, um precursor, a indivisibilidade do poder político estatal (Capítulo XVIII). Se para Rousseau a soberania era «vollonté généralle», Hobbes afirmou que «cada súbdito é autor de todos os actos praticados pelo soberano». Por isso, não só a soberania seria infalível, como teria que ser ilimitada (Capítulo XXI). Não é, por conseguinte, errado afirmar-se que Thomas Hobbes é o primeiro iluminista teoricamente consistente.
Por fim, diga-se em abono da verdade e do próprio, que o Estado hobbesiano é um Estado finalista, isto é, encontra-se ao serviço de finalidades que o transcendem. Este aspecto é talvez o único que aproxima Hobbes de qualquer ideia de liberdade. Para ele, o estado de natureza era incompatível com a segurança particular e sem esta os homens não poderiam aspirar a ter direitos e a realizá-los. A ideia é naturalmente discutível, como o foi efectivamente pouco tempo depois por John Locke. O fim primordial e derradeiro do Estado absolutista hobbesiano era a realização individual e o bem comum. Mas estes são sempre os fins últimos invocados por todas as tiranias. E não deverão servir, em conclusão, para justificar todos e quaisquer meios à disposição da soberania.

Diríamos, assim, que Thomas Hobbes é, por excelência, o filósofo do absolutismo. Se Jean Bodin «inventou» a soberania do Estado, Hobbes fundamentou-a, ampliou-a ao ponto de a tornar ilimitada e entregou-a nas mãos livres do príncipe. Mais tarde, Jean-Jacques Rousseau haveria de a fazer definitivamente popular.
Nesta medida, o único ensinamento que o liberalismo poderá retirar da filosofia política de Hobbes é a de que o poder é naturalmente expansivo e tende para a ausência de limites, se estes não lhe forem impostos pelos seus destinatários. Mas, ainda assim, sempre prefiro e considero, neste aspecto em concreto, muito mais útil o pensamento realista de Maquivel, para quem o poder soberano era, ou podia ser, absoluto, se bem que o seu fundamento se devesse procurar simplesmente na vontade, nos interesses e na vaidade pessoal dos seus titulares, para quem o bem comum não se distinguia do seu próprio objectivo de conquistar e manter o poder.

26.6.06

Finalmente!

Agora o gmail e o hotmail já tem concorrência*!

* Já Mariano Gago tinha no ano 2000 criado um «serviço de email para cada português», (onde torrou 5 milhões de euros dos contribuintes). E desta vez, quanto nos custou?

Grandes títulos

«Gaia Polis tem um ano para gastar 17 milhões» (JN)

Timor

Depois de forçada a demissão, o que se segue?
Um governo presidencialista, sem apoio parlamentar?
Um outro governo Fretilim, contra o presidente?
Ou Xanana optará pelo governo directo, com Ramos-Horta*, dissolvendo o parlamento?
(* que «muito a custo, será convencido» a aceitar...)

Entretanto prosseguem as «investigações» sobre a alegada distribuição de armas, trabalho esse dirigido pelo Procurador-Geral, actualmente também conhecido por «venham mais cinco».

A MINHA CRÓNICA DA ALEMANHA

Os afazeres da profissão trouxeram-me à Alemanha em pleno Mundial. Ontem ao fim da tarde, pouco antes do jogo comecar, procurei um bar onde pudesse ver o jogo com alguma comodidade. Estava só, no meio de alguns alemães que pareciam ter acompanhado o Domingo a entornar cervejas em homenagem ao seu jogo de Sábado. Mal se entoaram os hinos verifiquei, espantado, que a maioria dos teutões presentes manifestava simpatias claras pelos holandesas. Ou seriam antipatias mal disfarcadas pelos portugueses...
Comecei a sentir crescer em mim um princípio de animosidade para com o contexto ambiental em que me encontrava. Sem que isso fosse premeditado, esse sentimento estava em directa relacão com o apoio que me vi instintivamente forcado a dar à equipa de Scolari à medida que aquela batalha campal se ia desenrolando. ###
Mas o meu lado racional n~ao me deixou esquecer aquilo que já sabia e voltei a ver os mesmíssimos erros tácticos dos outros encontros: Pauleta a vaguear triste e só no meio dos defesas adversários; Costinha a fazer faltas típicas de quem não tem qualquer ritmo de jogo (o árbitro perdou-lhe a expulsão logo a seguir ao primeiro amarelo aquando duma entrada inacreditável a pés juntos); ninguém a cobrir o segundo poste na marcacão dos cantos (o que é incrível, já que essa falha originou o golo do México); Miguel submergido no seu papel de ponta-direita e a esquecer-se de que é suposto ser defesa.
Mas estava rodeado de alemães. Alguns hostis. E isso provoca em mim uma emocão primária, daquelas que deve estar centrada na parte mais antiga do nosso cérebro. Cedo comecei a invectivar o árbitro e, em estilo de forcado amador, a mandar calar os hunos mais afoitos nos berros contra a equipa de Scolari. Aí, vali-me das minhas velhas experiências de estar na bancada da Luz ou de outro estádio do inimigo. Quando Maniche marcou o golo tive medo que alguém chamasse a polícia, ou pior, para me conterem. Ao intervalo percebi que não tinha agido em vão já que os alemães mais ranhosos abandonaram o local visivelmente indispostos.
Na segunda parte o sr. Ivanov perdeu por completo o controlo do jogo e logo a seguir a cabeca. Dei por mim a sofrer, torcidinho de desespero e a desacreditar de tudo e todos. Em meu socorro surgiram uns búlgaros (?!) que me animaram aos gritos de "Portugal, Portugal". Comovido, paguei-lhes uma rodada de cervejas. Mas eu já não era capaz de engolir nada hipnotizado pelo cronómetro e aterrado pelas oportunidades que os holandeses desperdicavam em catadupa.
Lembrei-me da história de um cerco holandês a Mombaca, julgo que em meados do séc. XVII, em que os portugueses estavam em estado de desespero completo. O comandante, não me recordo do nome, desafiou os holandeses para um combate que resolvesse de vez a questão. Mas teria de ser uma peleja em que cada português defrontasse pelo menos dois holandeses, pois, garantiu, "é por todos consabido que cada português vale o dobro de um holandês".
Quando o jogo terminou estava extenuado - já não corria tanto há muito tempo. Efusivamente cumprimentado por todos, abracei os búlgaros e caminhei para o hotel sem conseguir deixar de pensar que no próximo Sábado, sem Deco, sem Costinha e, se calhar, sem Cristiano Ronaldo, que falta enorme nos fará o Ricardo Quaresma. Scolari tem tanto de estupidamente obstinado como de técnico bafejado por uma sorte indizível. O que também é uma virtude no futebol e na vida...

Um dia é do rigor, outro é da virilidade

Árbitros permissivos com jogadores violentos

A tese de que o futebol está cada vez mais duro e de que os árbitros são muito permissivos nas sanções às entradas violentas, faltas por trás, o uso dos braços e cotovelos como forma de agressão, começa a ganhar seguidores. Os clubes exigem coragem para se proteger os artistas e a FIFA já mostrou ser sensível ao assunto. Nesse sentido, o organismo que rege o futebol irá instruir os 44 árbitros escolhidos para o Mundial a agir com enorme rigor no momento de avaliar diversas ocorrências durante os jogos, com ênfase para as entradas e lances violentos.


Via Small Brother

Scolari quer Holanda punida e Deco perdoado

(Adendado)
Scolari requereu à FIFA o «perdão do primeiro cartão amarelo (e necessariamente o vermelho) ao luso-português Deco, uma vez que, no entender de Luiz Felipe Scolari, a amostragem desse amarelo ao médio foi precedida de uma falta a favor de Portugal, com a Holanda a recusar-se a entregar a bola a Portugal e a seguir com o esférico, instigada pelo seu treinador».
Apesar de as Leis do Jogo não o imporem, criou-se no futebol o hábito (salutar) de devolver a posse da bola à equipa adversária quando esta é atirada, propositadamente, para fora do terreno de jogo de forma a permitir a assistência médica a um jogador caído. Num primeiro momento, a bola apenas era devolvida quando o jogador caído pertencia à equipa a quem cabia o lançamento (já que neste caso, o atirar da bola para fora constituia um acto verdadeiramente altruístico). Em tempos mais recentes, esta prática estendeu-se aos casos em que o jogador caído partencia à equipa que lançava a bola para fora. Foi este o caso do jogo de ontem: era Ricardo Carvalho quem estava estendido no solo. Tinha o jogador holandês (Heitinga, se não me engano) o dever de devolver a bola a Portugal? De acordo com as leis do jogo (Lei XVI), não. A não ser que se entenda que o costume é fonte de direito futebolístico. Esperemos para ver o que diz a FIFA.
Sobre este assunto, vale a pena recordar esta história do jogo Arsenal-Tottenham Hotspur, que levou mesmo Arsène Wenger a decretar a «morte do fair play» no futebol inglês.


Adenda: «a FIFA não prevê qualquer medida disciplinar, pois a atitude de Heitinga não fere nenhum regulamento, tratando-se apenas de "uma questão de cavalheirismo"». Afinal, a devolução da bola nas circunstâncias descritas não é uma obrigação jurídica.

Noção scolariana de fair play

Vejo pelas reacções a este post que 80% dos comentadores parece partilhar da noção scolariana de fair play. O fair play é um conceito relativo pelo que a falta de fair play dos nossos é sempre justificada pela falta de fair play dos adversários. O figo deu uma cabeçada no adversário? Isso não é nada comparado com o facto de o adversário não ter devolvido a bola naquele lançamento da bola ao solo. O Figo fez fita para sacar um vermelho ao adversário? Ora, isso é porque o Figo é um jogador muito experiente. O Deco foi expulso por fazer anti-jogo? Isso foi uma decisão incompreensível do árbitro. Tu andas a fazer críticas à valorosa Selecção Nacional? Deves ser amiguinho do Pinto da Costa, espanhol ou traidor à pátria.

Fair play

25.6.06

Histórico: 16-4!

Bola de Nuremberga

A caminho de Angra, cruzei-me no Aeroporto com os charteristas de Nuremberga. Eram às centenas e há muito tempo que não via tanta gente importante junta. Até pensei fazer uma lista das personalidades com que me cruzei, mas há características próprias para os textos do blogue e lista tão extensa não seria própria do Blasfémias.

Em resumo, vi músicos, playbackers, artistas, actores de verdade, actores de telenovela, presidentes de clubes, ex-presidentes de clubes, donos de jornais, alguns gestores de empresas e muitos ex-políticos armados em gestores. Secretários de estado vi 3, um competente, um assim assim e uma abécula. Ministros nenhum. Também me cruzei com o Barbas da Caparica, um modelo da moda e um ex-presidiário, entre outros colunáveis. Tudo equipado a rigor. Ficam giras as tias de Cascais com uma camisola verde monocolor com um grande escudo português que vai das maminhas ao umbigo. ###

Surpresas. Pinto da Costa foi visitar a selecção. O CAA foi ver o jogo, sei que chorou de emoção com a nossa vitória e vai exigir a Madail a renovação urgente do contrato de Scolari.

O jogo foi de Mata-Mata. Matámos, mas tivémos baixas. Com a Inglaterra podemos jogar de amarelo. Cada um que cair a mais não vai jogar com o Gana. Deco foi-se. Costinha também. Ronaldo provavelente. As virgens continuam com o bom trabalho. Miguel foi fantástico. Figo também. Eu também (fartei-me de rematar e de defender bolas, na cadeira).

Havia muito mais a dizer, mas não tenho tempo. Hoje é o último dia das festas Sanjoaninas e está a começar o desfile das filarmónicas. Segue-se Gelsen-kikachenkechem, outra vez. Vêm aí os bifes, outra vez.

24.6.06

Timor - a cassete

O já famoso programa «Four Corners», que deu origem ao falso ultimato de Xanana pode ser visto, na integra aqui (duração 44 minutos).
(via pantalassa)

Nota: transcrição do contéudo.

A FALÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO (medicamente assistida?)

Embora esteja em profunda discordância com as intenções da iniciativa popular relativa à Lei da Procriação Medicamente Assistida, julgo que o modo enviesado como a Assembleia da República iludiu o privilégio legal da participação popular é uma vergonha.
No fundo, aquilo que Jaime Gama e muitos deputados fizeram concluir ao observador comum é que as normas que permitem este tipo de participação cidadã não valem sequer o papel em que estão inscritas. Quando se vislumbra a possibilidade de concorrência dos cidadãos que - quiçá ingenuamente - estavam em crer que a lei e a Constituição os tinham dotado de direitos de participação para que se melhorasse um pouco a qualidade desta Democracia, logo os órgãos que, na prática, detêm o exclusivo destes poderes tratam de retirar materialmente essa faculdade. Cinicamente, o parlamento esbulhou os cidadãos de direitos legalmente consagrados. É uma nova "vigarice legal" em que este regime, cada vez mais, é pródigo.
A partir de agora, melhor seria encaixilhar as normas que se referem à participação cidadã para que estas permaneçam formalmente visíveis mas materialmente inócuas.
Que nenhum desses senhores que tomou parte nesta distorção da democracia, daqui para o futuro, volte a falar na "aproximação dos deputados aos cidadãos", em "participação popular" ou noutras expressões de politiquês muito bonitas mas totalmente desprovidas de convicção e seriedade. Uma vez mais, a Assembleia da República deu uma péssima imagem de si mesma e prestou o pior serviço possível à Democracia.
Depois queixem-se!

Para a diáspora

Confirma-se. Felizmente, continua tudo na mesma.

Golpe de estado em curso

- Apoiantes de Xanana «encerram simbólicamente» o Parlamento. O encerramento foi só «simbólico» porque estavam lá soldados australianos.
- «Rai Los», um dos líderes rebeldes que em Maio passado atacaram as forças armadas e realizaram actos de vandalismo, reune-se com Ramos-Horta, recusando-se a entregar as armas e surge em manifestação ao lado e em apoio de Xanana, a quem reconhece como líder.
- Ramos-Horta, para ser aceite como hipotético PM, avança com candidatura a líder da Fretilim.

- E aqui, pode ser lido na íntegra o extraordinário (e também bizarro) discurso de Xanana.

À Terceira é de Vez

Agradecem-se sugestões para os intervalos gastronómicos de 2 dias de trabalho na Ilha Terceira.

Certificação privada nos EUA

Pode parecer uma ideia peregrina, mas nos Estados Unidos existem agências privadas de certificação das qualificações dos alunos que estão a terminar o secundário. As universidades reconhecem esses testes de forma voluntária e os alunos fazem-nos igualmente de forma voluntária. Há mesmo concorrência entre o SAT e ACT. O aparecimento deste tipo de testes no mercado é o resultado de dois factores: por um lado, as universidades não têm a capacidade para seguir e comparar a reputação e as classificações de milhares de escolas secundárias, e por outro, as universidades não têm interesse em alocar os seus próprios recursos à organização de testes.

Ainda a China

Para todos aqueles que ainda não perceberam o que se está a passar na China, recomenda-se este livro de Tim Hartford, Undercov£r Economist, principalmente os seus capítulos finais.

Como bónus, também levam um capítulo sobre o «Comércio Justo», que deixará alguns dos seus mais fiéis crentes de olhos em bico.

«Democracia social»

A senhora professora Júlia Azevedo, dirigente de um tal Sindicato «Independente» de Professores e Educadores, afirma ao Público que está a ponderar recorrer aos «tribunais internacionais» se o Ministério da Educação concretizar uma redução de 450 para 300 o número de professores pagos integralmente com o dinheiro dos contribuintes, não para darem aulas, mas para exercerem funções de sindicalistas.

Bom, por mim, estaria disposto a igualmente processar o ME por utilização danosa dos dinheiros públicos ao pagar o vencimento a UMA pessoa só que fosse (quanto mais 300!!), não para o exercício da função para que foram contratados (dar aulas), mas para exercerem uma actividade privada, numa associação privada, defendendo os seus próprios interesses.
A Federação Nacional dos Sindicatos da Educação vem em reforço desta posição afirmando que tal redução é «desajustada e prejudicial para os alunos». Caramba, os dirigentes sindicais confessam que são assim tão maus professores que o seu retorno à actividade prejudicará seriamente os seus alunos?
«O ataque às associações sindicais é o primeiro passo para se pôr em causa a democracia social» rematam.
A «democracia social» na boca destas pessoas é o chamado parasitismo. É serem tão autistas, tão habituados a viverem à custa dos demais que até julgam como natural e mesmo um «direito» os contribuintes pagarem duas vezes por um professor: aquele que dá aulas e o que anda a «defender os interesses», seus e o daquele que dá aulas.

23.6.06

Grandes títulos

«Tribunal executa Artur Albarran» (JN)

Direita na encruzilhada

Em questões de educação, a direita está num beco sem saída. Basta ver o que Paulo Rangel e Fátima Bonifácio têm a oferecer em alternativa ao Partido Socialista (Público de ontem e de hoje). Tanto um como outro caem na tentação de defender ideias que só são concretizáveis se o estado fizesse a microgestão das escolas. Paulo Rangel chega mesmo a discutir os méritos do TPC. Ambos querem autoridade nas escolas, ignorando aquilo que cada encarregado de educação possa querer para o seu educando. E ignorando tudo aquilo que empresas e universidades procuram, repectivamente, nos seus trabalhadores e alunos. Fátima Bonifácio chega mesmo ao ponto de defender que num inquérito o aluno deve ter menos direitos que o professor, como se não vivessemos num estado de direito. Esta ênfase na autoridade do professor, só possível num sistema de ensino centralizado e autoritário, especialmente no caso de Fátima Bonifácio, sugere que uma determinada direita ainda não se habituou a viver numa sociedade aberta e livre onde só tem autoridade quem for reconhecido em liberdade pelos outros. Felizmente existem pessoas que, tendo ultrapassado a mentalidade típica do Estado Novo, vão defendendo ideias liberais* para o sistema de educação. Essas pessoas tanto podem ser encontradas à esquerda como à direita, mas suspeito que não será a direita partidária a implementar um sistema de ensino liberal em Portugal. Chegar-se-á lá mais depressa pela esquerda.

*Note-se que num sistema de ensino liberal questões como o TPC ou a autoridade do professor deixam de ser polémicas públicas. Cada encarregado de educação poderá optar pelo método de ensino da sua preferência.

Com o mal dos outros...

Os estudantes gregos manifestam-se violentamente contra a possibilidade de naquele país se autorizar a existência de universidades privadas. Os estudantes europeus e sul-americanos tornaram-se numa tropa de choque dos desfensores do estatismo, protagonizando assim as mais reaccionárias manifestações dos últimos anos. Contudo graças a esta greve descobri a palavrosa Constituição grega cuja faz a nossa parecer um monumento ao bom senso. Sob o inspirado patrocínio da Santíssima Trindade espraiam-se artigos e alíneas detalhando os poderes dum Estado que não só transforma todos os professores universitários em funcionários públicos como parece mesmo fazer do funcionário público a sua razão de ser.
Presumo que os gregos tal como outros povos entre os quais se encontram os portugueses, terão aprendido a interpretar mui livremente a sua Constituição. Contudo o artigo 16º da Constituição grega parece-me claro: os professores universitários têm de ser funcionários públicos.
Como vão longe os tempos do Liceu e da Academia! Com esta Constituição grega, Aristóteles não tinha podido dar aulas.

"GANHAMOS ESTA GUERRA"...

... disse hoje Xanana Gusmão. Vamos ver é se a alegada esperteza não está prestes a começar uma. Desta vez, a sério.

22.6.06

Timor - questões

Porque esteve o presidente Xanana calado durante semanas a fio, na altura de maior violência?
Se tinha suspeitas graves sobre um ministro, porque não actuou?
Quando ex-soldados, rebeldes e bem armados, atacaram a cidade e as pessoas, sempre declarando que só apoiavam Xanana e só a ele obedeciam, porque não apelou ele ao desarmamento, nem deles se demarcou?
Quando, há várias semanas a sua esposa declarou que ou Alkatiri se demitia ou seria demitido, o esposo-presidente mandou recado ou discordava?
Se não confia no primeiro-ministro, porque o não demite? E ao invés, ameaça demitir-se? Porque, pela segunda, vez tenta tornear a Constituição?
Porque de repente Ramos-Horta se calou?
Nota: aqui está uma tradução abreviada do discurso de 90 minutos de Xanana. É verdadeiramente surpreendente para quem se apresente como presidente do que quer que seja.
O presidente da República surge como ex-quase-futuro guerrilheiro. Dispara para todos os lados. Considera ilegítima a direcção da Fretilim. Exige um novo congresso partidário no prazo de uma semana! É o desespero total.
Tá tudo louco.

Vida Zen

Comentário num post aí embaixo, assinado por Gabriela:

«Eu não posso comprar um ipod que foi feito com trabalho escravo. Eu não posso comprar um ipod quando o dinheiro que dou vai maioritariamente criar lucros para a multinacional em detrimento do direito básico de não fazer trabalho escravo.»

A empresa sub-contratada pela Apple para montar os iPods oferece aos seus trabalhadores condições tão boas ou melhores do que todas as outras empresas da região. Por isso, seja coerente. Se o seu problema é moral...

Tire rapidamente os dedos do teclado, quase certamente made in China. Nunca mais olhe para o horrível ecrã do seu monitor. Esmague o seu PC. Lave as mãos que usaram o rato. Desligue o seu iPod Zen. Acabou-se a música. Esqueça o micro-ondas. Nunca mais pegue no comando do seu televisor. Não vai precisar mais dele, até porque deve encaixotar a caixa capitalista. Como se atreveu a comprar um DVD? É mesmo verdade que calça sapatilhas? O que tem vestido, Gabriela? Nunca mais use telemóvel. Como consegue viver sabendo que está a criar lucros para multinacionais que 'escravizam' os trabalhadores?

QUE FAZER COM ESTES SINDICATOS?

Estava em crer que eram à volta de uma dezena - mas, parece, que são cerca de 25. Os sindicatos na área da educação, designadamente os dos professores. Quase meio milhar de dirigentes sindicais, uma nova forma de aristocracia a quem a lei cumula de privilégios e retira o fardo das funções docentes.
Geraram-se no Jurássico do Estado Providência. E recusam qualquer evolução. Estão sempre, em uníssono, contra tudo o que mexa na educação. A não ser aquilo que aparenta bulir com o objectivo declarado de tudo ficar na mesma. Fizeram da actual ministra um inimigo a abater, custe o que custar. Já o conseguiram com muitos outros responsáveis pela área e de várias origens políticas. Consequentemente, agora acreditam, também, que o poder acabará por ceder às suas reivindicações imobilistas.
Do outro lado está Maria de Lurdes Rodrigues. Com uma missão estratégica, transbordando força e determinação para a cumprir. Serena e acutilante, suporta os ataques descabelados dos sindicalistas. ###
Não concordo com algumas das intenções da ministra da educação. Mas julgo que, há muito, Portugal não via um governante assim. O PSD está confuso, também aqui. Depara com alguém a fazer aquilo que eles nunca tiveram ânimo e coragem para declarar publicamente. Como má oposição que persistem em ser, temem os bons ministros. E inventam "mitos", intenções camufladas, atacam as minudências do percurso. Percebe-se que se lá voltarem com os mesmos políticos que já lá estiveram e agora estão à espera no partido, deixarão que tudo fique na mesmice que lá deixaram. Obedecendo à máxima de todos os tempos dos maus políticos de sempre: as águas paradas só cheiram mal quando alguém resolve revolvê-las.
Esta ministra ameaça tornar-se um case study pela raridade da sua atitude de rompimento com a tradição governativa nacional. Julgo que foi por ter percebido isso mesmo que, hoje, no Público, Paulo Castro Rangel escolheu a ministra da educação como alvo. Por ser quem é, fê-lo de modo bastante mais inteligente do que a generalidade dos habituais detractores de Maria de Lurdes Rodrigues. Mas a intenção que se intui é precisamente a mesma - deixar que as coisas permaneçam como estão e nunca afrontar o acervo de interesses que a monotonia governativa anterior deixou acumular. É a oposição do "quanto pior, melhor"...

A LER

"A Condição Humana", de Rui Moreira, no Público (embora eu considere que, se é verdade que a culpa é dos homens, a religião sempre foi um excelente pretexto).
"Alguns são alternativa, outros são número", de Bruno Prata, também no Público.
Ainda no mesmo jornal mais uma reflexão imperdível de Pacheco Pereira sobre a blogosfera.

timor

«Tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo», disse hoje Xanana Gusmão, anunciando a sua intenção de se demitir da Presidência da República de Timor, por se sentir incapaz de resolver a grave crise política do país. Do outro lado, Mário Alkatiri recusa a abandonar o cargo de Primeiro-Ministro, apesar do pedido que nesse sentido lhe foi feito por Xanana, nos termos da Constituição. No bom estilo soviético, Alkatiri ocupou o poder e recusa-se a largá-lo, fundamentando a sua autoridade no comité central do partido. Também ao bom estilo soviético, pairam no ar envenenado de Timor rumores sobre «ameaças imperialistas», interesses financeiros ao serviço dos quais estará Xanana, etc. O filme é conhecido, embora seja já pouco comum. Afastado do mundo nos últimos trinta anos, Timor é hoje uma espécie de santuário ecológico político, que conserva uma fauna saída da guerra-fria e do pior comunismo soviético. A independência conquistada graças à resistência de Xanana e de meia-dúzia de guerrilheiros, grande parte deles caídos em combate, irá acabar inevitavelmente numa guerra civil fratricida, caso a comunidade internacional não intervenha duramente. Para este resultado, quase apetece dizer que mais valia ter lá deixado a Indonésia.

Auto-golpe de estado

Xanana demite-se amanhã se Alkatiri não assumir responsabilidades

Se a ameaça se concretizar a GNR fica sob as ordens de quem?

VIII Porto Cartoon World Festival

Começa hoje, pelas 18h30, no Museu Nacional da Imprensa.


Alvo, de José António Costa (Brasil) ~Menção honrosa

Cortesia Museu Virtual da Imprensa.

Bola de Gelsenkirchen

Vi o jogo numa sala bem apinhada, em ecrã gigante. Cantaram-se os dois hinos. Primeiro o "Heróis do Mar...", depois o "La Cucaracha...".

Com o Maomé remetido para a sua real insignificância, o jogo entre México e Portugal era somente um braço de forças entre virgens. Portugal tinha duas do seu lado, as de Fátima e de Caravaggio e o México só tinha a de Guadalupe. Por isso ganhámos 2-1. E a virgem deles até nos ajudou, com uma mão divina.

Na primeira parte jogámos 10 contra 12, porque é óbvio para quem viu o jogo que o Postiga nasceu em Guadalajara. Depois entrou Nuno Gomes e foi expulso um mexicano. Ficou 10 contra 10. ###

Nuno Gomes provou que é muito melhor que Postiga. Tocou 3 vezes na bola. Na primeira despenteou-se, na segunda acertou a meias na bola e na perna dum mexicano e na terceira quase que marcava golo de ressalto. O Postiga atrapalhava os portugueses, o Nuno atrapalhou os mexicanos. Boa-Morte, que apenas se atrapalhou a si próprio, também teve ontem a possibilidade de se despedir deste mundial.

Até agora, ganhamos tudo. Nada de especial, pensarão certamente os meus co-blogueres portistas e o Sousa Tavares. Para eles, tudo o que seja menos de 10 a Angola, 16 ao Irão, 9 ao México e meia-dúzia aos holandeses só demonstra a enorme incompetência de Scolari.

Fica uma dúvida, por esclarecer. Será que os portugueses jogam alguma coisa ou o nosso grupo era mesmo o pior do mundial? O julgamento é em Nuremberga, no Domingo. Vou estar em Angra do Heroísmo, espero que haja por lá algum ecrã gigante.

Esquerda contra a igualdade III

O Daniel Oliveira continua a insistir que se a Apple for forçada a pagar mais, os trabalhadores chineses saem a ganhar. Toda a sua posição moral se baseia na hipótese cetirus paribis ceteris paribus de acordo com a qual se a Apple for pressionada a pagar mais, então a Apple se limitará a pagar mais mantendo-se tudo o resto igual. Como se a Apple e as outras multinacionais não reagissem à subida do custo de trabalho cortando no investimento na China. A posição de Daniel Oliveira é aquilo a que se convencionou chamar de moralista porque se trata da aplicação a uma grande sociedade dos princípios morais adequados a uma pequena comunidade. Daniel Oliveira não cuida de saber quais são as consequências não pretendidas da sua "ajuda" aos trabalhadores chineses. Por isso vale a pena recapitular a questão com uma pequena FAQ:

###

Por que é que os salários na China são baixos?

Porque há escassez de capital em relação à oferta de trabalho.

Como é que o capital pode deixar de ser escasso?

Via investimento externo como o que a Apple está a fazer.

Se os salários na industria forem fixados acima do valor de mercado o que é que acontece ao desemprego?


Aumenta. Teremos mais trabalhadores durante mais tempo nos arrozais.

Porquê?

Porque se o preço do trabalho aumenta, as empresa reduzem a quantidade de contratações para manter a a rentabilidade.

Mas isso não é imoral?

Imoral ou não, trata-se de um facto da vida com o qual os moralistas deveriam contar.

Qual é o papel do investimento externo na China?

Faz aumentar o capital e consequentemente os salários.

Que aconteceria se a campanha de Daniel Oliveira a favor de uma subida de salários para os trabalhadores que forneceem a Apple tivesse sucesso?


A Apple e outras multinacionais reduziriam o investimento na China.

Mas se as multinacionais fizerem isso não estão a ser imorais?

É uma pergunta difícil. A esquerda passa o seu tempo a defender que a deslocalização para a China é imoral. Suponho que a atitude contrária é moral.

Mas a sério, se as multinacionais desinvestirem na China não estão a ter um comportamento imoral?

Até pode ser que sim. Mas essa é uma consequência da pressão sobre as multinacionais. Quem as pressiona tem que saber que essa é a consequência lógica da pressão.


Se as multinacionais deixarem de investir na China o que é que acontece aos salários?


Estagnam durante alguns anos.

E o desemprego?

Quem está nos arrozais continuaria nos arrozais.

Mas se o desemprego aumenta e os salários estagnam, podemos considerar que a pressão sobre a Apple é moral?

O Daniel Oliveira diz que sim. Daniel Oliveira diz que um acto com essas consequências é moral.

E se a campanha de Daniel Oliveira não tivesse nenhum sucesso?


As multinacionais continuariam a investir na China.

E os salários?


Subiriam à taxa actual de 10 ou 20% ao ano.

10 ou 20%? Não é isso que acontece em Portugal, pois não?


Não. Em Portugal quanto muito sobem 1 ou 2%.

E o desemprego?


Milhões de pessoas que estão nos arrozais poderiam entrar no mercado de trabalho.

Quer dizer que deixar as multinacionais pagar os salários de mercado tem consequências mais positivas que pressioná-las para pagar salários acima do valor de mercado?


Exacto.

Mas numa primeira análise não é essa a conclusão a que se chega. Porquê?

A moral da pequena comunidade tende a deturpar a análise do funcionamento de uma grande sociedade. Numa pequena comunidade, a intuição moral é suficiente para se perceber o que está em causa. Mas quem quiser perceber as consequências de uma acção numa grande sociedade tem analisar os problemas para além das aparências.

É para isso que serve a ciência económica?

Exacto.

A Lei da Oferta e da Procura é importante?


É essencial.

Por que é que o pessoal da extrema esquerda não usa a Lei da Oferta e da Procura nas suas análises?

A Lei da Oferta e da Procura é fássista. Foi revogada no PREC. Eles não vêem motivos para a usar.

Mas nesse caso eles nunca chegarão às conclusões correcta?

Dificilmente.

Mas deve haver alguma coisa que possamos fazer para ajudar os trabalhadores chineses. O que é que eu posso fazer?

Compre um Ipod.

21.6.06

Igualdade

Villepin, colérico, chama cobarde a Hollande.
Em reacção, alguns deputados parecem querer tirar satisfações de forma não-regimental....
(ver aqui)

Amanhã sou Checo

Se mais não fosse preciso ( e não era...), «isto» diz tudo:

«Devemos começar a jogar mais à italiana, de maneira mais cínica. O segredo para chegarmos longe no torneio é regressar a uma táctica mais defensiva, mais típicamente italiana»
Fábio Cannavarro, capitão da selecção italiana (no Público)

E togolês, já agora....

somos os maiores!


(Clique na bandeira)

Vale tudo

Após passar semanas calado, sem sequer apelar ao fim da insurrecção e da violência, sem reunir os orgãos do Estado, sem se demarcar dos rebeldes, após ter conseguido reforçar os poderes do seu homem-de-mão no seio do Governo, após ter obtido o apoio dos meios de informação, após uma intensa campanha mediática que contou com os apoios do governo português e australiano, (e, coitados, até, do instrumentalizado parlamento europeu) e da hierarquia da Igreja local, eis que finalmente Xanana Gusmão encontrou as condições ideais para concretizar o seu golpe de estado e vingança pessoal. Até o «agarrem-me se não vou-me embora» usou.
Vai dar-se mal.
Nota: sem surpresa, já há quem deite foguetes .

Ideia do dia

Estas vitórias da selecção dão cabo da arquitectura.

AS (insindicáveis) ESCOLHAS DE SCOLARI



O primeiro foi o "craque" que tirou o lugar a um tal de... Ricardo Quaresma - hoje viu-se a subida lucidez dessa opção.
O segundo, só espero não o ver mais a atrapalhar uma equipa que eu apoie - seja o Porto ou a selecção.
O último... bom, fico feliz porque vai fazer mais uma época no Sporting.

Grandes Jogos

Aproveitando o intervalo do Portugal B(*) - México, recorda-se que amanhã, às 18:30 na Casa Fernando Pessoa, o Ronaldinho do Wunderblogs vai bater bolas e axfixiar-nos num clima de intelectualidade opressiva. Alexandre Soares Silva está em Portugal.

(*) - OK, não é bem o Portugal B, é mais ou menos o Portugal A,5. Além disso, desde o minuto 0 que estamos a jogar 10 contra 11, mas espera-se que o Postiga saia da frente dos colegas a qualquer momento e que deixe de atrapalhar.

certificado de virgindade

Recentemente encontrei um velho amigo meu acabado de regressar de Marrocos, país onde viveu durante os últimos meses. Em conversa, contou-me que existe ainda nesse país, considerado como um dos mais tolerantes e «liberais» do Islão, um «certificado de virgindade» emitido por autoridades públicas a jovens mulheres com mais de treze anos. Este documento é obrigatório para as adolescentes que frequentem escolas públicas, e a verificação da falta desse requisito de «pureza» implica a expulsão da pecadora do sistema de ensino. A possibilidade de entrada futura numa Universidade fica, assim, absolutamente excluída.
Admirável, de facto, a cultura e a tolerância do Islão. Pena é que quem, por cá, lhe gaba os méritos, não tenha também de os acatar.

Dilemas de uma multinacional no sudeste asiático

Uma conhecida multinacional obriga os seus fornecedores a cumprir regras laborais e ambientais extremamente rigorosas. O sistema está agora em implementação no sudeste asiático. A maior dificuldade da pessoa que está a convencer os fornecedores a implementar as normas é o tecto máximo de 60 horas de trabalho por semana. Os trabalhadores estão contra. Querem trabalhar mais porque se trabalharem mais ganham mais. Os fornecedores também estão contra porque querem usar os melhores trabalhadores o máximo de tempo possível. Mesmo que o tecto de 60 horas seja implementado, nada garante que os trabalhadores não recorrem a um segundo emprego para compensar o salário perdido. Claro que os responsáveis da multinacional têm razões para estar preocupados. Se a imprensa sabe que os trabalhadores trabalham mais de 60 horas, a multinacional será imediatamente acusada de usar trabalho escravo. Por isso, para não ser acusada de usar trabalho escravo, a empresa terá que tomar decisões contra os interesses dos trabalhadores. Que pensará disto a esquerda europeia?

assunto encerrado

Muito francamente, não me apetece prolongar a última polémica que tenho mantido com o CN, menos ainda adjectivar alguns dos seus argumentos, porque teria necessariamente de fazer apreciações a algumas referências históricas que faz e que me parecem muito pouco rigorosas. Só não posso deixar de expressar a minha estupefacção por ver no blog da Causa Liberal este argumento em favor de Hitler contra Estaline: «Compare-se (Estaline e as suas vítimas) com os cerca de 100 mortos de que o nazismo era culpado à altura de 39». Por mim, o assunto morre aqui.

20.6.06

Por falar nisso.....

«Vítor Constâncio aconselhou o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a exercer um "rigoroso magistério na contenção das despesas na parte final deste ano decisivo".(Público)".......

.....O representante do Estado na Comissão de Vencimentos do Banco de Portugal, Miguel Beleza, já apresentou a «reanálise das condições remuneratórias e demais benefícios incluindo prestações de reformas dos membos do Conselho de Administração» para a qual foi nomeado em 8 de Julho de 2005?

internacionalismo «liberal»

Esclarecendo o que entende dever ser uma posição liberal nalgumas questões de política internacional, CN informou-nos que: não aprecia Churchill, a quem imputa um «gosto por conflitos e anti-germanofilia», a ascensão ao poder do comunismo russo, do fascismo alemão e de Estaline na URSS (diz, a propósito destes "esforços" de Churchill, que «foi obra»); que Wilson e Roosevelt (F. D.) foram os responsáveis pelo surgimento de Hitler e que nada lhes é devido pelo fim da II Guerra Mundial e pela libertação da Europa Ocidental; que a aristocracia prussiana teria sido suficiente para despojar este último do governo da Alemanha.
Não querendo fazer apreciações sobre o valor histórico destas convicções, sempre diria, na linha do que CN escreveu num outro «post», que, de facto, deste «liberalismo» e desta «direita» não partilho. Julgo que nem eu nem a esmagadora maioria dos liberais, que fundamentadamente assim se consideram há muito tempo. Ao quer parece, enganados.###
Outra questão abordada, que julgo bem mais pertinente do que as anteriores, consiste na relação entre o estatismo e o belicismo da comunidade internacional. Aí estamos inteiramente de acordo. A exaltação dos nacionalismos estatistas dos séculos XIX e XX (onde a aristocracia prussiana não teve papel de pequeno relevo...) foi a causa directa da conflitualidade reinante na Europa a partir, pelo menos, de 1868. Por mim e sobre este assunto, sempre me comoveram os esforços feitos por homens de boa vontade (nem todos propriamente liberais) no seguimento da II Guerra Mundial, para estabelecerem, ao fim de tanto tempo, uma ordem regional pacífica na Europa. Refiro-me, entre outros, a Jean Monnet, figura curiosíssima e que escapa a todas as tentativas primárias de classificação política, que evitando o construtivismo estadual-federalista de outros protagonistas de então (entre eles, Altiero Spinelli), soube encontrar uma solução ordinalista para a aproximação dos Estados europeus, de forma a assegurarem, como têm vindo a fazê-lo há quase sessenta anos, a paz. Curiosamente, o que Monnet propôs e conseguiu que se acabasse por fazer (com todas as vicissitudes naturais de qualquer ?obra? humana) foi exactamente o que Hayek tinha descrito e considerado desejável, em 1943, sobre a eventual eclosão de um «federalismo funcional» (não estadual) na Europa Ocidental. Aqui, certamente que devemos estar de acordo.

Separação de poderes

Dois dias depois da vitória do Sim no referendo ao novo Estatuto Autonómico da Catalunha, a polícia espanhola, liderada pelo juiz Fernando Grande-Marlaska, deu um rude golpe na estrutura da ETA, ao capturar, em conjunto com a polícia fancesa, doze cabecilhas e operacionais da organização, que se dedicavam à cobrança do famoso «imposto revolucionário».
Durante décadas, a ETA tem cobrado aquele «imposto», que mais não é do que pura extorsão a empresários bascos e de Navarra, realizada sob ameaça de ataques ao património ou à integridade física dos contribuintes e respectivas famílias. O sistema chega ao ponto de serem cobrados juros de mora, como em qualquer regime fiscal estadual. Apesar da trégua declarada a 13 de Abril 22 de Março, a ETA não terá deixado de o cobrar. Quando se aproxima o início das negociações do governo de Zapatero com os terroristas, o Ministro do Interior Espanhol veio afirmar «estava a par da operação policial» e que a mesma é a «prova de que as instituições continuem a funcionar». O porta voz do Batasuna, Arnaldo Otegi, irritado com as detenções, veio perguntar «Cuál es el objetivo de esta operación, qué es lo que se busca? Alguien cree que con ello se pretende fomentar el proceso de paz en este país? En qué contribuye a ello?». Não lhe ocorreu explicar para que serve o «imposto» e porque continua a ser cobrado, apesar do «cessar fogo». Duvido que Zapatero, apesar das declarações de circunstância de vários membros do seu governo, tenha gostado das detenções, ainda que estas possam vir a ser o melhor argumento do seu governo para rebater a argumentação do PP espanhol, que se tem oposto ferozmente às negociações com a ETA.

Esquerda contra a igualdade II

Daniel Oliveira faz mais uma exibição de bons sentimentos neste post. Todos somos a favor da democracia, do bem estar dos trabalhadores e contra a escravatura. Nos bons sentimentos estamos todos de acordo. No que Daniel Oliveira falha é na análise dos factos, na teoria económica, na comparação entre as alternativas à disposição do cidadão chinês. Lembro que na vida real as pessoas têm que escolher entre alternativas possíveis e não entre o real e o ideal. Como eu tinha explicado anteriormente, a China tem escassez relativa de capital pelo que a abundância absoluta de capital ou o consumo absoluto de petróleo que o Daniel alega são irrelevantes. A China até pode ter em termos absolutos muito capital, mas acontece que a China também tem 1 600 milhões 1 300 milhões de habitantes pelo que o capital disponível per capita não é suficiente. E o que deve contar para a análise é o capital per capita porque é esse que deve gerar o rendimento para cada chinês. Segue-se que os salários são baixos porque existe uma enorme oferta de mão de obra e uma pequena quantidade de capital que o tornem produtivo. Segue-se finalmente que a escolha dos chineses não é entre salário de $50 e salários de $1500, mas entre um salário de $50 e a agricultura de subsistência. (Ao contrário do que o Daniel alega, não há provas de escravatura no caso do Ipod porque as condições de trabalho descritas são melhores que aquelas que os chineses têm nas zonas rurais). O Daniel bem pode atacar as terríveis multinacionais, mas não se percebe em que é que isso vai ajudar os cidadãos chineses. Os cidadãos chineses não vão ter melhores condições de trabalho se não tiverem mais nenhuma opção para além da agricultura de subsistência. E um eventual redução do investimento externo na China só vai retardar o desenvolvimento de uma sociedade civil independente capaz de lutar pela democracia. É bonito ser pela democracia, mas todos somos. Já não é bonito fazer tudo para boicotar o acesso dos cidadãos chineses a melhores empregos, a novas ideias e a uma maior independência do Partido Comunista. Mas é para boicotar tudo isso que o Daniel contribui quando ataca o investimento estrangeiro na China sem perceber que na sua ausência os cidadãos chineses ficariam pior e não melhor.

O outro lado (económico) do FUTEBOL!



FUTENERGIA, ao serviço do desenvolvimento do pais!

PS - Há uns tempos atrás, encarava-se o futebol mais numa perspectiva financeira e orçamental: alguém sugeriu que, caso o Benfica ganhasse a SuperLiga (como acabou por ganhar, no ano passado), tal contribuiria para atenuar o déficite público...

DIZ O ROTO AO NÚ...

Correia de Campos acusa o Observatório dos Sistemas de Saúde de "falta de credibilidade".

MEDIANAMENTE VERDADEIRO

Alguém colocou nos nossos comentários/heresias mais uma frase lapidar do recém-descoberto-glosador-futebolístico-televisivo-sempre-alinhado-com-o-que-está, o neo-comentador-de-todas-as-coisas-visíveis-e-invisíveis, Professor Marcelo:
- "Sou medianamente supersticioso como bom cristão que sou...".
Citando o evangelho, "Tu o disseste, não eu"...

Esquerda contra a igualdade

A esquerda tem-se revelado a mais feroz opositora da igualdade e a maior força a favor da manutenção das desigualdades. Tomemos o exemplo de Daniel Oliveira. Daniel Oliveira está preocupado com os baixos salários e os horários de trabalho de 80 horas por semana praticados na China. Uma preocupação louvável. Poderiamos até pensar que o Daniel, sabendo que os baixos salários se devem à relativa escassez de capital nos países pobres, seria a favor do investimento estrangeiro na China só possível à custa da transferência de capital dos países ricos para os países pobres. Só que, em vez de louvar a Apple pelos investimentos já feitos, em vez de pedir à Apple mais investimentos na China, o Daniel parece estar zangado com a Apple por ela comprar produtos made in China. Mais interessante é que quando se discute o caso da Opel de Azambuja, o Daniel já não está preocupado com o trabalhador chinês ou russo. O Daniel parece muito mais preocupado com o trabalhador português que ganha 750 euros por mês e que seria prejudicado com a deslocalização da Opel do com o trabalhador russo ou chinês que ganha 50 dólares por mês e que veria o seu salário subir se a Opel fosse para o seu país. A esquerda, apesar da retórica igualitária, é, ironicamente, contra a transferência de capital dos países ricos para os países pobres, aquele que é nos dias de hoje o mecanismo mais eficaz de redistribuição de riqueza e de promoção da igualdade.