31.3.07

acima de tudo, protecção


A autoridade parental - sem interessar distinguir aqui entre a autoridade da mãe e a do pai - é a primeira forma de autoridade que qualquer ser humano conhece na vida, e a mais duradoura - dura até à morte deles. É a mais altruísta de todas as formas de autoridade terrena e, a confiar em Becker, é a mais importante e a mais decisiva forma de autoridade que se exerce sobre a vida de um qualquer ser humano.###
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Esta autoridade, que os filhos continuam a respeitar mesmo depois de eles próprios já terem chegado à idade adulta - e que passam a admirar, talvez, sobretudo a partir daí - os pais conquistaram-na, aos olhos dos seus filhos, por uma vida de boas obras - uma vida de boas obras de que os filhos foram os principais beneficiários, e daí o seu altruísmo.
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Porque a autoridade parental é a mais importante e duradoura de todas as autoridades que se exercem sobre um qualquer ser humano, nalguns casos, a mais extrema, eu escolhi-a propositadamente para procurar derivar a partir dela o significado essencial da ideia de autoridade. Porque se esta forma de autoridade não fôr capaz de revelar aquilo que a ideia de autoridade significa, e o benefício - se algum - que a autoridade possui para a humanidade, então, dificilmente alguma outra forma de autoridade conseguirá faze-lo.
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A função de pai ou mãe é uma função para a vida e a autoridade parental, na mesma medida da autoridade papal, só se extingue com a sua morte. E, na realidade, até no momento da morte, os pais - que são, na opinião de Becker, o homem e a mulher mais altruístas que qualquer ser humano jamais conhecerá na vida - têm uma última lição para ensinar aos filhos: o significado essencial da ideia de autoridade.
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Se o filho é uma criança ou um adolescente, a morte do pai ou da mãe vai-lhe ensinar essa lição numa fase da sua vida em que a lição assume o carácter de uma enorme crueldade. Mas o filho ou a filha podem já ser adultos, terem 40, 50, ou até 60 anos, podem eles próprios já serem pais ou avós, que a lição estará lá nesse dia à sua espera para lhes ser ensinada. É uma lição que não se aprende nos livros, é uma lição que só o seu pai e a sua mãe lhe poderiam ensinar, como lhe ensinaram muitas outras desde que nasceu.
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E qual é a lição, o que sente um filho - mesmo já adulto - quando pela primeira vez lhe morre um dos pais, o pai ou a mãe? Um misto de sentimentos? Não. Agradecimento por tudo aquilo que o pai ou a mãe fez por ele ao longo da vida, as refeições sem número, o tratamento nas doenças, as iguarias, as semanadas, as idas ao cinema, nalguns casos até o primeiro automóvel? Também não. O ressentimento pelas proibições, pelos gelados não comidos, os banhos não tomados na praia em hora de digestão, as idas proibidas à discoteca durante a adolescência? Não. A revolta pelas penalizações, pelos tabefes, pelos castigos, às vezes excessivos ou injustos e que ele próprio jurou na altura que nunca iria esquecer na vida? Também não.
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Não. O filho sente-se desprotegido. É como se tivesse ficado só no mundo. E quando lhe morre o segundo dos seus pais, mesmo que na altura o filho, ele próprio, já tenha 70 anos, então ele vai sentir-se totalmente desprotegido e absolutamente só no mundo. Faltou-lhe agora a última pessoa que, se ele tiver alguma aflição na vida, ele tinha a certeza que essa pessoa lhe viria pôr a mão por baixo, que seria até capaz de dar a sua vida por ele - a qual constitui a forma última de protecção que um ser humano pode conceder a outro. Se o filho já é adulto, este sentimento acabará por se desvanecer com o tempo.
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Porém, os seus pais fizeram questão de lhe ensinar esta última lição. Autoridade significa, acima de tudo, protecção.

Gary Becker


Na minha opinião, ele é o economista mais criativo do último século. Em 1992 recebeu o Prémio Nobel da Economia por ter estendido a análise económica a domínios onde, até aí, ela nunca tinha penetrado, como os do crime, do capital humano e, principalmente, da família. Refiro-me ao economista Gary Becker, da Universidade de Chicago.###
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No dia em que lhe foi atribuído o Prémio Nobel, o Wall Street Journal escrevia em editorial: "A Universidade de Chicago celebra este ano (1992) o seu centésimo aniversário (...) Trata-se de um exemplo admirável no clima actual de conformismo intelectual: permita a alguns iconoclastas como Gary Becker florescer e, dentro de alguns anos, a sua instituição pode bem, como a Universidade de Chicago, ter mudado o mundo".
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Na realidade, a parte mais iconoclasta da obra de Becker, e por isso a mais original, é a sua análise de uma instituição que seria inesperada para um economista - a família. Do seu A Treatise on the Family (Chicago: The University of Chicago Press, 1981) e dos inúmeros artigos que publicou sobre o tema, ressaltam duas conclusões principais.
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Primeira, de entre todas as instituições que contribuem para formar um homem ou uma mulher - como a escola, a universidade, a igreja, as empresas onde trabalha, as associações desportivas e recreativas, os grupos de amigos, a família, o estado, as sociedades científicas, as corporações profissionais, etc. - aquela que é mais decisiva para determinar quão alto esse homem ou essa mulher conseguirão subir na vida é, a grande distância de todas as outras, a família onde nasceu e onde foi criado.
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Segunda, de entre todas as instituições existentes na sociedade, a família é também a instituição que constitui o principal foco do altruísmo, isto é, a instituição que, a grande distância de todas as outras, mais governada é por relações altruísticas.
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Gary Becker está presente na blogosfera, juntamente com o economista Richard Posner, no The Becker-Posner Blog em http://www.becker-posner-blog.com/

Solução à vista...

Lucro a preços fictícios II

Creio que há um argumento liberal que não foi inteiramente compreendido pelo Miguel Abrantes. A crítica dos liberais às empresas públicas não se baseia apenas no facto de a propriedade ser pública. Baseia-se também no facto de a propriedade pública estar habitualmente associada a mecanismos proteccionistas que impedem a concorrênca. Esses mecanismos incluem a concessão de monopólios públicos, os reforços de capital com fundos públicos e a prestação de serviços ao estado a preços acima daqueles que vigorariam num mercado concorrêncial. O que se tem observado em Portugal é que sempre que uma empresa pública começa a sofrer a pressão do mercado, ou porque se aproxima a privatização, ou porque se aproxima uma liberalização, a performance da empresa. Tal não se deve à excelência dos métodos socialistas que prevalecem no sistema público. Tal deve-se à adopção dos métodos das empresas privadas. No entanto, estas melhorias nem sempre são positivas para o consumidor/contribuinte/impostado quer porque a manutenção de práticas monopolistas prejudica o consumidor, quer porque a manutenção de tratamentos preferenciais por parte do estado-cliente-accionista prejudica o contribuinte/impostado.

Lucro a preços fictícios

Miguel Abrantes do Câmara Corporativa usa 1714 caracteres para responder a 3 palavras minhas: "Monopólio dá lucro". São 1714 caracteres contra 18 caracteres. Mas apesar da relação desigual em nenhum desses 1714 caracteres consegue refutar o meu post. Os CTT são de facto um monopólio. Não um monopólio por mérito próprio, mas um monopólio por imposição legal. O que quer dizer que pode prestar serviços de qualidade inferior a preços elevados. O significado da palavra "lucro" nesta situação não é o mesmo que o significado da palavra "lucro" quando usada para descrever os lucros de uma empresa privada a operar em mercado aberto. É que, enquanto uma empresa que tem lucros em mercado aberto, tem que os ter à custa de uma boa relação qualidade/preço para o cliente, uma empresa que é um monopólio legal pode ter lucros reduzindo a qualidade ou subindo os preços. É por isso que a mera constatação de que os CTT tiveram lucro não significa absolutamente nada. O lucro foi conseguido à custa de preços fictícios e não é comparável com a noçao de lucro das empresas privadas.

Mestres na Propaganda

Os títulos:

Teixeira dos Santos segura o monstro (CM).
Despesa nacional desceu 1,3% para 72 mil milhões em 2006 (Agência Financeira)
Teixeira dos Santos admite baixar primeiro o IVA (Público)
Redução da despesa pública foi decisiva para a melhoria do défice (JN)
Redução da despesa pública melhora o défice (Observatório do Algarve)
Contenção da Despesa Corrente Primária superou os 200 M€ em 2006 (DE)

As contas (por Pinho Cardão, no Quarta República)

1. Os impostos passaram de 35.001 para 37.592 milhões de euros, um aumento de 7,4%.
2. A despesa corrente aumentou 2,7%, de 64.567 para 66.323 milhões de euros.

Afinal, quem segurou o monstro, como sempre, foram os contribuintes.

30.3.07

Swiss Alps Fighter Tour in Google Earth

Toda a Suiça já está em alta resolução no Google Earth. Permite fazer coisas destas.

HO


Certo dia, há quatro ou cinco meses atrás, o blasfemo LR perguntou-me se aquele comentador que aparecia no blogue com o nick HO era eu. Surpreendido, respondi-lhe que não. E, após um momento de reflexão, acrescentei: "Mas olhe que, às vezes, gostaria de ser".###
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O HO é o intelectual por excelência, o mais fino e elegante de todos os intelectuais que passam pelo Blasfémias - embora, reconhecidamente, não passem muitos intelectuais pelo Blasfémias. Talvez uma espécie de Antero de Quental. Possuindo uma profissão que eu imagino não possa ser outra que a de professor, o HO é o tipo de homem que gosta genuinamente das ideias, que acredita que as ideias possuem consequências, e que se apresenta sempre irreprensivelmente preparado para as debater.
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Embora a sua formação seja muito provavelmente em História, o HO possui interesses alargados, sendo capaz de citar um economista liberal com a mesma precisão com que cita um filósofo grego ou um historiador romano.
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As citações do HO são a marca distintiva dos seus comentários. Sendo um homem de vastíssima leitura, o HO possui um admirável espírito de síntese e de fidelidade aos autores que cita. Não existem muitas pessoas como ele que são capazes de resumir numa citação de sete linhas a tese central de um livro possuindo quinhentas páginas. Aqueles dos seus leitores que não leram o original, podem estar confiantes que as citações do HO resumem o pensamento do autor.
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Numa postura que é sempre exemplar para com os outros intervenientes no debate, e tendo como propósito invariável o de contribuir para o debate, e jamais o destruir, eu fico por vezes a pensar como o HO seria reconhecido e apreciado num desse países mais ao Norte, seja na Europa seja na América. Mas exercendo a sua actividade intelectual em Portugal, ele faz-me, às vezes, imaginar o que seria ter o Cristiano Ronaldo a jogar futebol por uma equipa do Texas.

Todo um programa, toda uma mentalidade:


Tá certo.... Traduzindo: abater o inimigo? Bem, a gente movimentou coordenamente muitas máquinas, muitos homens de várias unidades, mas o inimigo não ligou pevide e continuou a sobrevoar em direcção ao seu objectivo. Infelizmente...........

Tribunal Constitucional

O Presidente da República decidiu - depois da eleição dos novos Conselheiros do TC e da reportagem assinada por Rosa Veloso que a RTP2 exibiu ontem em horário nobre sobre o assunto - não enviar a Lei que despenaliza o aborto, se praticado por opção da mulher em estabelecimento autorizado, até às dez semanas que aguarda promulgação presidencial, para o Tribunal Constitucional. Fez bem. A justiça portuguesa não suportaria um eventual Acórdão de sentido contrário, que afinal declarasse inconstitucional a Lei.

acima da sua

Numa série de posts recentes, argumentei que o regime democrático de tradição anglo-saxónica, baseado numa tradição de autoridades iguais, descentralizadas e impessoais (a opinião pública), se ajusta mal aos povos de cultura católica, cuja tradição está assente em autoridades hierarquizadas, centralizadas e pessoais.###
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Mais recentemente, redireccionei a discussão para o tema da família, com o propósito de mostrar que também no seio desta instituição se verificam diferenças semelhantes entre os povos de tradição protestante e os povos de tradição católica. Neste caso, pretendo mesmo ir mais longe, e mostrar que a visão hoje prevalecente em certos sectores da opinião pública portuguesa, com o ênfase que coloca na igualdade dos géneros e na paridade de funções entre o homem e a mulher no seio da família, não é senão uma tentativa de, mais uma vez, adoptar o modelo anglo-saxónico.
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O tema é tanto mais interessante quanto esta alteração de paradigma tende a ser defendida sobretudo por jovens mulheres de um país de tradição predominantemente católica como Portugal - uma tradição que confere à mulher no seio da família uma autoridade, que mais tarde se espraia por toda a sociedade, que não tem comparação com a autoridade que uma mulher possui nos países de tradição protestante.
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Antes de prosseguir a discussão - o que farei em próximos posts - eu gostaria de utilizar este post para salientar como a discussão deste tema é, no entanto, particularmente difícil, sobretudo quando se tem do outro lado jovens mulheres particularmente afirmativas na defesa do valor supremo dos nossos tempos - a igualdade. Mas não apenas por isso. O tema é sobretudo difícil porque é um domínio em que se torna quase impossível fazer passar um argumento a quem nunca viveu a experiência de ter uma família - e, em particular, a experiência de ter filhos.
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Para ilustrar esta dificuldade, transcrevo em seguida uma passagem dum comentário da zazie ao meu post anterior: "este tipo de autoridade (parental) é desconhecido de quem não tem filhos...(envolvendo)... a capacidade de colocar a vida de outrém acima da sua".
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Não ocorreria a nenhum jovem adulto sem filhos a possibilidade de algum dia vir a sacrificar a sua vida por outra pessoa. Porém, quando este homem ou mulher se tornar pai ou mãe, essa dúvida acabará por lhe ocorrer ao espírito. Com o decorrer do tempo, aquilo que era inicialmente uma dúvida vai-se transformar numa certeza: se as circunstâncias da vida o exigirem, ela ou ele não hesitarão agora em sacrificar a sua própria vida pela de outra pessoa.

A ASAE e os chineses

O papel da ASAE devia ser o de ajudar os consumidores a distinguir o trigo do jóio. Isto é, devia contribuir para que as empresas que não cumprem regras mínimas fechassem e para que as outras pudessem prosperar. A ASAE faz exactamente o contrário do que devia fazer. Alguém lá dentro achou que as acções da ASAE teriam mais eficácia se fossem empoladas pela comunicação social. Acontece que a comunicação social não denuncia, nem pode denunciar, os casos particulares, todos eles sujeitos a recurso para os tribunais. O que a comunicação social pode fazer é denunciar perfis de empresas. Assim, sempre que uma padaria é fechada pela ASAE, a única coisa que o público fica a saber é que as padarias não são de confiança. A acontece que o que o público gostaria de saber é quais são as padarias que são de confiança. Ou seja, o público em vez de ficar a saber mais sobre cada uma das padarias em concreto, fica a saber menos. Fica a saber menos por causa do efeito de empolamento. O efeito de empolamento cria a ilusão de que as padarias são menos fiáveis do que se pensava. Se calhar até são, se calhar não são, mas o empolamento não contribui para aumentar as certezas, contribui apenas para aumentar o ruído.

Quiz

Quem disse o seguinte?

«Por um lado o liberal-capitalismo, cuja única ideologia é o cifrão e a avidez pelo lucro, cilindra tudo o que encontra pela frente e arrasa valores e tradições, para que, através da massificação e entoxicação mental do povo, derrube toda e qualquer barreira que se oponha aos seus negócios. Basta vermos a hipocrisia dos “civilizadíssimos” ocidentais, sempre tão cheios de direitos humanos, mas que não hesitam em deslocar as empresas para o extremo-oriente, explorando a mão-de-obra que trabalha em condições infra-humanas, destruindo também o tecido produtivo e laboral do próprio ocidente. Basta para isso observarmos o comércio tradicional português a fechar para dar lugar aos chineses, a pastelaria de bairro e o pequeno restaurante do bitoque com “ovo a cavalo” a dar lugar ao hamburger, a campanha fortíssima da publicidade a impor “dias de namorados” e “halloweens” à força, e por aí fora.»

Hipóteses:

a) João Proença;
b) Manuel Monteiro;
c) D. José Policarpo
d) Manuel Carvalho da Silva;
e) Victor Ramalho;
f) Francisco Louçã;
g) Mário Soares;
h) Clara Ferreira Alves
i) outro;


Até pode ser coincidência.....


....mas, o certo é que só na Figueira da Foz já 4 bébés nasceram fora da Maternidade (de Coimbra)!

Individualismo na China II



Via Blog da Causa Liberal

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Individualismo na China I

29.3.07

Delicioso (reposição)

Margaret Thatcher inventou o Aquecimento Global

A propósito de uma passagem do The Great Global Warming Swindle.


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Recently three changes in atmospheric chemistry have become familiar subjects of concern. The first is the increase in the greenhouse gases?carbon dioxide, methane, and chlorofluorocarbons?which has led some[fo 4] to fear that we are creating a global heat trap which could lead to climatic instability. We are told that a warming effect of 1°C per decade would greatly exceed the capacity of our natural habitat to cope. Such warming could cause accelerated melting of glacial ice and a consequent increase in the sea level of several feet over the next century. This was brought home to me at the Commonwealth Conference in Vancouver last year when the President of the Maldive Islands reminded us that the highest part of the Maldives is only six feet above sea level. The population is 177,000. It is noteworthy that the five warmest years in a century of records have all been in the 1980s?though we may not have seen much evidence in Britain!

Speech to the Royal Society, 27-9-1988

Oh mãe!

Na praia:
-Oh mãe!, posso ir ao banho?
-Não, que ainda não fizeste a digestão.
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Entre adolescentes:
-Queres ir à Discoteca no Sábado?
-Não sei, pá, tenho de pedir à minha mãe.
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É a primeira autoridade sobre qualquer ser humano, e a mais duradoura. É uma autoridade que ela exerce de forma praticamente livre sobre ele. É uma autoridade que só pode ser exercida por mulheres.
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E, no entanto, a minha frase "As mulheres ganham autoridade na vida sendo mães", proferida no meu post anterior, está a causar furor na blogosfera, tendo já dado origem a vários posts. Certamente por ser tão óbvia.

Blasfémia. Crime. Descrença.

The Great Global Warming Swindle



Nota: Versão Integral, 71 minutos.

via Blog Social-Liberal.

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As questões:

1. Quando é que o serviço público vai transmitir este documentário?
2. Quantos insultos vão cair na caixa de comentários?

Resumo do modo socialista de governação

A seta representa aquilo que algum iluminado planificou como prioritário: pode ser o défice nas contas do Estado (+ impostos), o aeroporto da Ota (+ impostos), o interesse nacional (+ impostos), ou seja, qualquer "desígnio" de que os governantes de ocasião se lembrarem (+ impostos).
Quanto aos desgraçados que aguentam com a coisa... bom, esses são sempre os mesmos: ver AQUI.

Monopólio dá lucro

CTT registaram lucro recorde e vão pagar primeiro dividendo ao Estado

Palavra chave: Aerotropolis

Rise of the Aerotropolis


The Rise of the Aerotropolis (II)


Detroit Plans Airport City: But will the aerotropolis be ‘cool’?

Lino, em vez de Tino.

Se Lisboa é uma das principais cidades de congressos na Europa, tal deve-se em grande parte à excelente localização da Portela. Se Lisboa continua a estar listada no mercado dos "city breaks", apesar da falta de suporte às low costs que o proteccionismo à TAP implica, tal deve-se em grande parte à excelente localização da Portela. Ter um aeroporto na cidade é uma das poucas vantagens competitivas que Lisboa oferece. Fechar a Portela seria um grande golpe para esta cidade.

A OTA e o interesse nacional

Ou o Blasfémias feito pelos seus leitores.

Aí tem razão ou pensa bem o JM.
Mas também não se podia exigir ao Governo que fosse mandar implantar o aeroporto de Portugal ali no cruzamento entre o Douro, Trás-os-Montes e o Minho, a apontar pà Galiza...
E vai daí, pensando bem, tamém eu, se quer que lhe diga...
Volto a repetir o que penso sobre o assunto: a Portela está exausta, não presta, incomoda e constitui hoje um enorme desconforto ao crescimento e desenvolvimento de Lisboa...

Taxing Sunny Days (2)

Sim, o conceito existe.
«Taxing Sunny Days: Adjusting Taxes for Regional Living Costs and Amenities»
Por MICHAEL S. KNOLL (University of Pennsylvania Law School; University of Pennsylvania - Real Estate Department) e THOMAS D. GRIFFITH (University of Southern California Law School)
Harvard Law Review, Vol. 116, p. 987, 2003

Taxing Sunny Days (1)

Maior central solar do mundo em Serpa custará aos impostados 75 milhões de euros

Nota: o conceito de «impostado» designa o cidadão sujeito a impostos, visando substituir o inapropriado voluntarismo do termo «contribuinte».

A OTA é essencialmente uma questão política IV

As grandes obras são uma componente de uma determinada perspectiva política. De acordo com esta perspectiva, o governo tem como função dirigir a economia e estimular o investimento. Desta forma, as grandes obras públicas servem para estimular a economia privada e para criar emprego. A opção por um grande aeroporto promovido pelo estado é também a opção pelo modelo de desenvolvimento que tão bons resultados deu no passado com Sines, com a barragem do Alqueva, com o Centro Cultural de Belém, com a Expo e com os estádios do Euro 2004. E como faltam 2 anos para as eleições, um grande projecto que estimule a economia e que gere emprego artificial vem mesmo a calhar. A curto prazo, o que está em causa na OTA não é tanto o interesse nacional mas sobretudo o interesse do PS em ganhar as próximas eleições, nem que para isso seja necessário desperdiçar grandes quantidades de dinheiro público para gerar emprego com um choque de terraplanagem. Infelizmente para o PS, os problemas mais graves de desemprego são um pouco mais a Norte e serão agravados com mais um projecto que aumenta artificialmente as assimetrias regionais.

Errata:

Desperdício sim, mas nem tanto....

Errata: onde titula o DN «Loures gasta 300 milhões no Pavilhão de Macau», deverá ler-se «Loures gasta 300 mil no Pavilhão de Macau».

Um texto que todos os políticos deviam ler

«A los hombres de poder hay que mirarles las suelas de los zapatos. Por lo general las tienen intactas, impolutas, incólumes, apenas rozadas por el polvillo de las moquetas. Cada mañana, un automóvil blindado con cristales oscuros les recoge en la puerta de su casa y les traslada hasta un garaje con ascensor directo a la planta noble. A mediodía almuerzan en restaurantes de fama y por la tarde acuden a algún acto en el que rara vez pisan la acera. Rodeados de una corte de asistentes, no suelen llevar nada en los bolsillos -por eso les caen tan bien los trajes- y han olvidado, si alguna vez lo supieron, cómo es el trato en una ventanilla o cómo funciona un cajero automático. Desconocen el precio de la gasolina porque sus coches siempre están repostados, y cuando les apetece un café tocan un timbre y aparece un enguantado camarero que se lo sirve en vajilla de lujo. Caminan levitando sobre alfombras y un cinturón de escoltas les aísla del pulso de la calle.###
No pasa nada, es así y todo el mundo lo sabe. Los tipos que deciden sobre nuestras vidas no conocen, en realidad, nada de ellas. El problema ocurre cuando pretenden aparentar ser gentes sencillas que no han cambiado bajo el peso de sus responsabilidades. Cuando blasonan de austeros y organizan bodas faraónicas o reclaman un jet de la Fuerza Aérea para llevar a Londres a la familia. Cuando presumen de talante común y tutean al interlocutor pero se saltan las colas o mandan abrir paso a los guardias en medio de un atasco. Cuando creen que el contacto con la ciudadanía se puede mantener escrutando encuestas pero olvidan que en ellas nadie pregunta el precio de un café en un bar.
De todas las evasivas respuestas posibles que estaban al alcance de Zapatero en su pregonada entrevista popular - que no toma café, que sólo recuerda la cafetería del Congreso, que suelen invitarlo allá donde va-, el presidente eligió la peor. La que destroza su estudiado empeño de parecer un ciudadano común, la que le retrata como un gobernante alejado del pálpito de la calle. A veces, la política pivota sobre esos detalles cuya nimia apariencia esconde un devastador potencial simbólico. Esos inverosímiles ochenta céntimos reventaron dos horas de respuestas ambiguas y dejaron en el público un mensaje de avasalladora simpleza: el poder, como a todos, sí le ha cambiado. Y lo puso en evidencia un hombre normal, con el rostro arado por los surcos de la vida; un hombre corriente que escarba en su portamonedas para pagarse el cortado.
Sólo por eso, el programa valió la pena. Porque fotografió, siquiera fugazmente, la zanja que existe entre la política y el pueblo. Entre la autocomplacencia del poder y la impotencia de la gente. Entre la macroeconomía y la cesta de la compra. Entre la ingeniería social y la lucha por la vida. Ese cauce poblado por millones de personas que circulan, azacaneando para abrirse paso a través de las vicisitudes de la existencia, entre las dos orillas de una trinchera de prejuicios sectarios a cuyos privilegiados habitantes no les importa la subida sideral de un humilde café.»

IGNACIO CAMACHO
http://www.abc.es/20070329/opinion-firmas/ochenta-centimos_200703290314.html

Um café muito amargo

Zapatero é um erro histórico. Um holograma que andava a queimar tempo até que o PSOE tivesse oportunidade de ganhar as eleições. Mas os atentados de 11 de Março alteraram a forma como os espanhóis votaram a 14 de Março de 2004. E Zapatero tornou-se 1º ministro.
Anteontem o boneco desmanchou-se. Por nada de especial.
NUm programa de televisão um espectador perguntou-lhe o preço de um café. Zapatero respondeu com valores do tempo do "avô Patxi". Que importância tem isso? Nenhuma. Mas nestas reviravoltas em que a política é pródiga o alheamento deste homem que deixou que a negociação dos estatutos das comunidades se transformasse numa espécie de guerra de todos contra a Espanha, que fecha os olhos à institucionalização da ETA, que não quer ver o que se passa nos centros de acolhimento de imigrantes... tornou-se evidente quando respondeu que um café custa 80 cêntimos.
http://www.elmundo.es/especiales/2007/03/espana/intervencion_zp/

Exemplificando

Sobre um texto meu para o PÚBLICO que aqui transcrevi escreve Rui Pena Pires http://ocanhoto.blogspot.com/2007/03/corporativismos.html

Corporativismos
Fala-se hoje muito de corporações e de práticas corporativistas. Nem sempre, no entanto, usando os nomes para designar a coisa certa.1.
Infelizmente, não é fácil definir de modo simultaneamente claro, simples e acessível o que é “corporativismo”. É mais fácil exemplificar. Por exemplo, se alguém se queixa da actuação concreta de um médico concreto e tem como resposta “os médicos são profissionais de elevada qualificação, competentes e sérios”, encontrou o corporativismo. Neste caso, manifestando-se na defesa do colectivo não mencionado na queixa (os médicos) através da recusa da responsabilização de um membro específico desse colectivo. O cerrar de fileiras do colectivo quando um dos seus membros é posto em causa constitui sintoma típico do agir corporativo.
2. Mais fácil ainda é reconhecer o corporativismo em acção. Como quando Helena Matos, no Público de 27 de Março (de 2007), responde a mudanças no Estatuto dos Jornalistas, justificadas pela necessidade de limitar a confusão entre jornalismo e “jornalismo de sarjeta”, afirmando, em contraponto à justificação, “eu prefiro mil vezes os jornalistas de sarjeta aos qualificados queixinhas” (isto é, aos jornalistas que se queixam do tal “jornalismo de sarjeta”). Prefere, portanto, um estatuto que não distinga e auto-regule, pois fundamental é cerrar fileiras em defesa da profissão. Assim transformada em corporação»

Ora vamos lá exemplificar: os jornalistas são exactamente como todos os cidadãos e vão e devem ir a tribunal como qualquer outro cidadão.

Estatuto algum pode ou deve distinguir jornalismo de sarjeta ou jornalismo de referência... O que temos são notícias que independentemente da natureza e da qualidade do meio em que são publicadas podem colocar em causa direitos e princípios. Para avaliar isso existem os tribunais.

E sobretudo é importante que se partamos de exemplos: o que é o "jornalismo de sarjeta"? Onde estão as notícias que faz ou fez?

Sobre a natureza humana II

Jane Goodall: An Extraordinary Life

Through the years her work continued to yield surprising insights, such as the unsettling discovery that chimpanzees engage in a primitive form of brutal “warfare.” In early 1974, a "four-year war" began at Gombe, the first record of long-term warfare in nonhuman primates. Members of the Kasakela group systematically annihilated members of the "Kahama" splinter group.

Sobre a natureza humana

Killer chimps fuel debate on how war began

In 1998, researchers in Uganda saw a group of male chimpanzees beating on and swaggering around another male chimp’s freshly killed body. Its windpipe, fingernails and testicles were torn out.


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Apes of war... is it in our genes?

Research into the aggressive behaviour of male chimpanzees, our closest biological ally, suggests that the urge to go to war is in our DNA and that only women can stop it, says Sanjida O'Connell

28.3.07

Tap Dance

Um excelente vídeo/montagem que explora o seguinte conceito:###


«Concept: This was basically an experiment. I realize that Michael
Jackson "borrowed" from Fred Astaire and Justin Timberlake "borrowed"
from Michael Jackson. Thus, what would happen if Fred Astaire danced
to Justin Timberlake music? Heres my attempt at finding out and
bridging a 60 year gap.

Starring: Fred Astaire
Clips from:
-"You're All the World to Me" from "Royal Wedding" (1951)
-"Putting on the Ritz" from "Blue Skies" (1946)

Music: Justin Timberlake - "Sexyback" (FutureSex/LoveSounds) (2006)
(...)

Note: After finishing it I observed that the video reminded me a bit
of Fatboy Slim's "Weapon of Choice" video that starred Christopher
Walken.»

O autor da peça e texto é Nedyken


Resultado da "pressão" sobre o Irão

Formação de Adultos

O nosso primeiro-ministro apelou aos trabalhadores portugueses que não concluiram os seus estudos que o façam. O país precisa de portugueses mais qualificados.

A OTA é essencialmente uma questão política III

População residente nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro e Viseu: 4 milhões e 300 mil

População residente na Galiza: 2 milhões e 750 mil

População residente nas províncias Sul da Galiza (Ponte Vedra e Ourense): 1 milhão e 260 mil

População residente em Coimbra e Guarda: 600 mil

Wishful thinking em forma legal

DR 62 SÉRIE I de 2007-03-28
Resolução do Conselho de Ministros n.º 49/2007
Presidência do Conselho de Ministros
Aprova os princípios de bom governo das empresas do sector empresarial do Estado.

Está cada vez mais interessante...

... aquele que considero a revelação mais estimulante dos últimos meses da blogosfera nacional: De Rerum Natura. Saliento esta reflexão de Palmira F. da Silva, "Da Natureza do Homem: lendas urbanas e outras histórias", a cujas conclusões, instintiva e culturalmente, resisto mas que não me atrevo a refutar por falta de tempo e, sobretudo, de preparação adequada.

A OTA é essencialmente uma questão política II

Decidir criar um aeroporto como a Ota a 50 Km do principal centro urbano mais próximo é equivalente a decidir a criação de uma nova cidade. A OTA, por ter a melhor combinação preço/tempo de viagem, será o centro urbano português mais próximo dos principais centros económicos mundiais. Será um pólo de desenvolvimento que canibalizará todas as cidades concorrentes. Por isso, a opção por um novo aeroporto não é apenas uma opção por uma solução técnica para o problema da Portela, é uma opção política que determinará vencedores e perdedores e que determinará movimentos demográficos colossais no interior do país. Alegar que há interesse nacional em tal projecto é o mesmo que alegar que desertificar o centro de Lisboa ou desertificar o Norte do país é um desígnio nacional. Até porque essas serão as consequências da construção de um grande aeroporto a 50 km do centro da área metropolitana de Lisboa.

A OTA é essencialmente uma questão política

Só para começar, a opção entre OTA e Rio Frio é a opção entre duas alternativas de desenvolvimento da Região de Lisboa. A OTA favorece o desenvolvimento na direcção norte favorecendo Santarém, Coimbra e Leiria. Rio Frio favorece o desenvolvimento na direcção Sul favorecendo a margens Sul, Setúbal e Évora. Uma opção tem determinados perdedores e vencedores, a outra tem outros. Fingir que o que está em causa é o interesse nacional e que a questão é puramente técnica é apenas uma forma de atingir objectivos políticos sem dar muito nas vistas.

Leituras:

«Blindagens» por Avelino Jesus, no DE;
«o que parece ser uma boa notícia», no CF&A

Rural vs. Urbano II

As comunidades rurais são pequenas comunidades de uma ou duas centenas de pessoas em que todos se conhecem. O facto de todos se conhecerem torna possível o controlo da reputação de cada indivíduo pelos restantes. É assim possível que prevaleça uma ética de pequena comunidade em que todos se ajudam uns aos outros. Não é estranho que essa ética seja aquela que é preconizada pelas religiões tradicionais porque as sociedades rurais tradicionais, as instituições tradicionais e as religiões tradicionais são o produto do mesmo processo evolucionário.

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As comunidades urbanas são comunidades de milhares ou milhões de indivíduos. Não é possível que estes indivíduos se conheçam todos uns aos outros, o que favorece o free riding. Uma sociedade urbana que viva de acordo com os princípios das religiões tradicionais, que tendem a preconizar o altruismo como comportamento virtuoso, está condenada à tragédia dos comuns porque, como ninguém se conhece pessoalmente, não existem registos fidedignos de reputação e a retaliação (descentralizada) em relação aos prevaricadores não pode ser utilizada como meio para punir o free riding.

Rural vs. Urbano

Neste post, Pedro Arroja compara a ordem prevalencente nos países protestantes com a (des)ordem dos países católicos. Mas será a religião o elemento principal que explica as diferenças? Os países protestantes são também países que têm sociedades urbanas num estado de maturação muito mais avançado do que a maior parte dos países católicos. Este factor, só por si, explica porque é que podemos encontrar em países protestantes tradições e comportamentos adequados à vida num ambiente urbano que não são possíveis de encontrar em países católicos onde há uma geração atrás a maior parte da população vivia num meio rural. Note-se que a transição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana foi feita de forma desordenada em todos os países, sejam protestantes ou católicos, tendo sido mais desordenada onde essa transição foi mais brusca.

Da parte do senhor ministro...*

«Na investigação que o jornal PÚBLICO dedicou às habilitações de José Sócrates existe um pormenor que, melhor que a parolice dos títulos académicos, ilustra uma certa forma de exercer os cargos de poder: enquanto ministro e secretário de estado, José Sócrates tratava dos seus assuntos pessoais, no caso pedidos de equivalência universitária, em papel timbrado do Ministério do Ambiente.
A questão não é o valor do papel timbrado. De igual modo se pode e deve dizer que não tem a menor importância para as funções de primeiro-ministro que o cidadão José Sócrates tenha terminado a cadeira de Análise de Estruturas e Betão Armado e Pré-Esforçado. O que a investigação do PÚBLICO revela é o mundo patético dumas fábricas de canudos e duns gabinetes ministeriais cujos titulares se comprazem a mandar faxes em papel timbrado para tratar dos seus pessoalíssimos e comezinhos assuntos.
Esquecem que o poder dura menos que uma folha de papel.»


*PÚBLICO, 27 de Março

Os interesses escondidos nos mega-projectos (II)

Ainda sobre o debate no último P&C sobre a Ota, escreve-nos mais uma vez o leitor JBM:###

Só ontem pude ver o debate no Prós & Contras sobre a Ota com um grupo de engenheiros, o que me leva a confirmar algumas teses.

O debate pôs claramente em confronto dois grupos de engenheiros. Um, que designaremos por grupo OTA, que tem trabalhado e está a trabalhar para o governo actual e que não quer de maneira nenhuma que os seus estudos, ainda claramente incompletos, sejam confrontados com estudos paralelos que o outro grupo está a fazer a título gratuito e quer continuar. Estudos estes que apontam desde já para duas localizações a Sul de Lisboa em zona plana, de custos de obra muito mais baixos incluindo os das acessibilidades, sendo também os custos de exploração mais baixos para os utilizadores por ficarem mais perto da capital.

Para sustentar a sua posição a todo o custo o grupo OTA usou város estratagemas verdadeiramente incríveis: Um dos elementos desse grupo, logo a meio da 1ª parte do debate “concluiu” que “os engenheiros em presença no debate não iam chegar a conclusão nenhuma e que, por isso, era melhor entregar desde já a resolução do problema aos políticos...”, isto é, ao governo! São argumentos deste tipo que, como indiquei no comentário anterior levam a resoluções socialmente desastrosas: os políticos decidem contra o que a Engenharia (“Ciência Aplicada”) indica como melhor.

O mesmo grupo OTA argumenta com questões ambientais que levaram ao chumbo pela UE de Rio Frio, próximo de Poceirão e Faia, localizações que os estudos do outro grupo apontam como muito mais baratas e melhores. Agitaram-se também para estas localidades a existência de aves migratórias e potenciais prejuízos para a recarga do aquífero, problemas que também existem na Ota e ainda não foram avaliados pelos seus defensores. As questões dos ambientalistas são velhas: são “polícias” que tudo proíbem e nenhuma solução apresentam. Vejamos este caso: para voarem e nidificarem as aves (que até nos podem trazer o vírus da gripe das aves), não podem voar os aviões! Quanto ao prejuízo para a recarga do aquífero a questão está em que um terreno virgem permite a infiltração das águas e quando revestido, as águas são canalizadas directamente para os rios e o mar. Mas isto acontece não só na construção de aeroportos como na de auto-estradas, estradas, edifícios, construções industriais, estádios, etc. etc. Portanto, para os ambientalistas é melhor regressarmos à feliz(?) vida do selvagem da Idade da Pedra.

Pela teoria da recarga do aquífero do grupo OTA nada se poderá construir de novo a Sul de Lisboa: nem edifícios, nem complexos industriais, nem ruas, nem estradas, nem vias férreas, nem auto-estradas, etc, etc. Mas isso também é válido para a OTA que foi demonstrado estar no mesmo aquífero. De resto os mais categorizados engenheiros de ambiente não estavam lá, ficaram na Universidade de Aveiro...

Finalmente o grupo OTA junta outro argumento “decisivo”: o projecto tem de ser aprovado por Bruxelas e os ambientalistas de Bruxelas vão chumbá-lo se for a sul de Lisboa! Nesta heresia diz-se, e bem, que a contribuição máxima de Bruxelas é apenas de 20% e mais do que isso se pode poupar com projecto adequado.

Tudo o que o grupo OTA disse foi claramente “encomendado” pelo governo actual, para sustentar a decisão que o ministro das Obras Públicas revelou na TV já ter tomado, sem fundamento científico adequado. E, incrivelmente, o ministro das Finanças até disse esta “barbaridade”: O novo aeroporto nada vai custar ao Estado, porque serão os privados a pagá-lo...” Não Sr. Ministro, os grupos privados não pagam, financiam com juros, sejam quais forem as “engenharias financeiras” que apresentem. E neste sentido, os privados, incluindo os construtores, não estão interessados, obviamente, nas obras mais baratas, questão velha e válida para muitos outros casos. Daí que lutem com todas as armas em defesa da OTA.

Ou seja, os interesses da OTA, já estão instalados e travam uma luta titânica pela sua defesa. E o governo apoia. Porquê? Veta qualquer estudo paralelo ao que falta fazer para a OTA, o que não implica qualquer perda de tempo, e só por acidente a verdadeira questão veio a público. Aliás os prazos e os custos de conclusão previstos para as obras, em qualquer caso, “derrapam” sempre e derrapam mais quando os estudos são incompletos. Só alguns exemplos: O Centro Cultural de Belém, a Casa da Música do Porto, todos os 10 (dez) novos estádios de futebol, as Obras da Expo98, os Metros de Lisboa e Porto, o Túnel do Rossio, o Túnel do Marquês, o Túnel da Av de Ceuta, etc. etc. Haveria, aliás, muito que dizer sobre as razões do facto de grandes Obras Públicas neste País serem, sistematicamente, postas a concurso com projectos ou anteprojectos incompletos ou mesmo sem anteprojecto, invocando-se sempre a falácia da urgência na conclusão das obras.

E o governo já decidiu ao arrepio do que a “Ciência Aplicada” diz. Tudo está a acontecer como previ e as consequências serão catastróficas para a classe média que é quem tudo paga. Os ricos podem fugir sempre, os pobres nunca podem pagar. Agravam-se cada vez mais as desigualdades sociais em Portugal.

E, finalmente, eu continuo a perguntar: porque é que os dois principais partidos nunca sequer tentaram chegar a acordo para a escolha de um grupo técnico independente que execute um projecto ou, pelo menos um anteprojecto, num prazo definido, para o novo aeroporto com todas as justificações técnicas que sempre têm de existir, obrigando-se o governo que estiver “de serviço”, qualquer que ele seja, em qualquer altura, a mandar executar a Obra?

Braga, 28-03-07
JBM

Uma questão de estilo!


As trapalhadas na Universidade Independente já não nos surpreendem, nesta fase do campeonato. Por isso, até nem será propriamente uma notícia marcante o facto de, segundo a SIC, a Polícia Judiciária estar agora a investigar alegadas falsificações de habilitações concedidas por aquela Universidade.
É, no entanto, assinalável o estilo assim... um pouco "contido", com que a notícia é redigida e editada na net! Note-se, então, em particular, o parágrafo final, que agora transcrevemos:

zazie


Num post anterior, mencionei alguns dos comentadores deste blogue que eu aprecio. Tenciono dedicar um post a cada um. Os bloggers são o alvo permanente dos comentadores. Não é um mal que, ao menos por uma vez, os comentadores sejam o tema dos bloggers. Começo hoje pela zazie.###
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Eu admito na zazie a imensa curiosidade, mas isso é apenas um atributo da sua condição feminina. Admiro sobretudo a sua capacidade para questionar. É uma das poucas pessoas que eu conheço que seria capaz de questionar até os Dez Mandamentos.
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A sua formação é em Literatura ou em História e ela é uma pessoa imensamente lida. Embora raramente o aparente, ela é, na minha opinião, uma pessoa de convicções religiosas e de uma grande consideração pela tradição. Possui uma profissão intelectual, muito provavelmente é professora.
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Não sendo a sua área a das ciências, ela é particularmente atraída por aqueles que se apresentam na blogosfera como cientistas, seja das ciências sociais seja das naturais. E como o cientismo é hoje uma moda em Portugal, a zazie possui matéria-prima que baste. Com a humildade que é própria de quem não é da área, ela começa por colocar questões aparentemente ingénuas ao cientista. Não demora muito tempo até que o cientista esteja por terra. Mais geralmente, para um blogger que preze verdadeiramente a argumentação racional e lógica, o pior que lhe pode acontecer é ter a zazie do outro lado.
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Por detrás do prazer genuino que lhe proporciona a blogosfera, da vivacidade e da juventude que é capaz de pôr em cada comentário, está uma mulher obviamente madura e experiente e que possui uma genuina autoridade. É a única mulher que, mesmo nas situações mais difíceis em que o debate descamba para o insulto e para a graçola, consegue enfrentar todos os opositores, mesmo os mais obscenos.
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Na verdade, todo homem sabe - ou devia saber - que nunca se discute com uma mulher experiente. A prazo, ela ganha sempre. Nenhum dos seus golpes é fatal. Mas ela há-de dar tantos até pôr a vítima de rastos. As mulheres ganham autoridade na vida sendo mães. Por isso, eu presumo que a zazie é mãe.
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Mas a razão do meu maior débito para com a zazie terá passado despercebida à maioria dos frequentadores do Blasfémias. Há cerca de um mês, eu fiz um post sobre a autoridade papal
onde citava a Encíclica Lumen Gentium que, nesta matéria, fez doutrina na Igreja: "Em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, o pontífice romano tem sobre a mesma Igreja um poder pleno, supremo e universal, que pode sempre livremente exercer".
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Num comentário a esse post, a zazie escreveu (cito de memória) que "esse conceito de autoridade livre é um conceito interessante". E foi nessa altura - tanto mais que a expressão autoridade livre não estava sequer na citação - que eu eu me dei conta que o conceito era realmente interessante. E não apenas isso: no meu conhecimento, era também original.
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Na base deste conceito, eu fui capaz finalmente de responder perante mim próprio a questões cuja resposta há muito procurava, e não conseguia encontrar. Essas questões e as respostas que eu lhes consegui dar - mas só consegui dar por causa do conceito de autoridade livre - estão dispersas pelos meus posts do último mês.
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Finalmente, a zazie não gosta de ser referida na blogosfera. Mas num meio e numa cultura que faz gala em denegrir o outro, e o amesquinhar, eu considerei que seria uma verdadeira blasfémia mostrar o meu apreço por ela.

27.3.07

Dia Mundial do Teatro

Sobre o Prós & Contras

Não sei bem como nem porquê, em jornais e blogues tornou-se moda dizer o pior possível dos debates do Prós & Contras. Claro que o programa não é perfeito e muitas críticas serão certeiras, mas a maioria está longe de qualquer réstea de lucidez - como, por triste exemplo, a de Vasco Pulido Valente, no Público do passado sábado.
Ontem, sobre a Ota, confirmei muito do que já sabia: não conheço qualquer programa de debate e informação que vise abranger uma faixa bastante alargada de audiências que se lhe possa comparar. Na semana passada, a Sic-Notícias realizou, também, um programa sobre a Ota. Embora o modelo fosse diferente, alguns dos participantes eram os mesmos do Prós & Contras de ontem. No entanto, a diferença foi abissal: o da Sic-Notícias foi desenxabido, pomposamente tecnicizado, com dados excessivos para tão pouco debate, em suma, muito chato.
Ontem, na RTP, tal como tantas outras vezes a propósito dos assuntos mais variados, ouviram-se argumentos de todo o tipo, esgrimidos por interessados e interesseiros, houve controvérsia, aplausos, irritações, risos, equívocos, razões políticas, técnicas e outras quase inclassificáveis. Ao longo da emissão foi possível ao espectador comum formar uma opinião minimamente sustentada. A meu ver, os defensores do projecto governamental ficaram a perder; noutros Prós & Contras terão ficado a ganhar.
Este é o único programa de debate político e social cujo nível de audiências consegue rivalizar com as novelas e a enxurrada de concursos disparatados que reinam no nosso prime time. Daí o assinalável e inusitado respeito que o poder político por ele sente. E fora do mundo anglo-saxónico, não conheço exemplo semelhante em nenhum canal televisivo.
O que deveria bastar para sobejarem os elogios. Mas não. Como de costume, o fel, sistemática mas compulsivamente, expelido em cima de qualquer coisa que pareça resultar, faz escola neste país.

competitividade


Sobre o tema do fraco crescimento da produtividade em Portugal nos últimos anos, que não acompanhou o crescimento dos salários, o resultado é a perda de competitividade:

Para memória futura

Teixeira dos Santos, Bruxelas, 27/03/2007:
«o Governo poderá aliviar a carga fiscal em Portugal» (link)

ALL 2 ALL

A propósito da brand «ALLGarve» de Manuel Pinho (quem mais?), umas excelentes sugestões no Vida das Coisas (via adufe):###

E mais esta:

Aliança contra quem?

No Público, sobre corrupção, um título: Jaime Gama apela a "aliança de convicções" entre deputados, magistrados e governantes".

Já agora, porque não uma aliança contra a corrupção entre deputados, magistrados, governantes (incluindo autarcas), dirigentes partidários, empreiteiros, grandes empresários e dirigentes desportivos?

Os interesses escondidos nos mega-projectos

Recebido por e-mail do nosso leitor JBM. Escrito por quem sabe.###
OTA: uma barbaridade?

1. Informação Prévia - o signatário não pertence nem nunca pertenceu a qualquer partido político. Porém, sempre teve e tem relações de amizade com membros de todos os partidos políticos.

2. A questão da localização do novo aeroporto de Lisboa já fez correr “rios de tinta” e centenas de horas de acção nos meios de comunicação social ao longo dos últimos 15 ou 20 anos. E ainda não está resolvida. Em minha opinião, pelas razões que a seguir aponto.

3. Em 1949, sendo aluno de “Preparatórios de Engenharia” na Universidade de Coimbra teve o signatário de frequentar uma disciplina de Economia na Faculdade de Direito. Era docente responsável dela e de “Crédito e Finanças” um professor catedrático, politicamente à esquerda, mas que nunca foi incomodado pelo regime, dada a sua envergadura intelectual e bom senso.

4. Ensinou-nos ele a distinguir “Ciência” de “Doutrina” e de “Política”. Dizia: A “Ciência” diz (ou tenta dizer) o que é, independentemente de ser bom ou mau para a Humanidade. A “Doutrina” diz (ou devia dizer) o que deve ser no sentido de ser o melhor para a Humanidade. A “Política” deve executar o que a Ciência diz, à luz de uma certa doutrina.

5. Quando a “Política” decide mandar executar qualquer acção ao arrepio do que a Ciência indica, as consequências são sempre desastrosas do ponto de vista social. A História, único campo experimental das Ciências Sociais, mostra abundantemente que assim é.

6. Nos casos da OTA, do ataque do mar à Costa da Caparica e de muitos outros, a Política tem-se afastado do que se diz acima. E porquê? Porque se tem misturado tudo isso com interesses materiais de grupos partidários.

6. Nos últimos 15 anos, no caso da localização do novo aeroporto de Lisboa o que é que a História regista? Cada vez que o governo de um dos principais partidos “entrava de serviço” escolhia uma empresa internacional de consultoria da especialidade, de “nomeada”, (por vezes até eram indicados os traços gerais dos seus CV), para dar um “parecer fundamentado” sobre a melhor localização do aeroporto. Com isso cada empresa cobrou pelo menos 1 ou 2 milhões de contos.

7. Quem lidou com pareceres desse tipo e valor, sabe muito bem que é sempre possível justificar tecnicamente um ponto de vista que, de antemão, a empresa sabe que agrada ao seu cliente, que é quem paga. Tudo isto porque a lógica da empresa é o lucro. Mais, quando há concurso, público ou privado, no preço apresentado, as empresas incluem sempre implicitamente despesas de “lobbing” e estas são sempre pagas pelo vencedor de forma jurídica e jornalisticamente indetectável.

8. Daí a verdadeira razão do impasse, que continua. Daí a verdadeira razão pela qual os dois partidos principais nunca tentaram sequer chegar a acordo sobre a nomeação de um grupo técnico competente e independente, porventura misto (nacional e internacional), comprometendo-se os dois partidos a executar, o que o mesmo grupo técnico indicasse como a melhor solução para o País como um todo, não como a melhor solução para Lisboa...

JBM

A Verdade é Inaceitavelmente Politicamente Incorrecta

Um brilhante discurso do representante da UN Watch, feito perante a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, foi recebido pelo presidente da dita comissão, o mexicano Luís Alfonso de Alba, com um raspanete e uma deplorável ameaça de censura. (via LGF)

Avaliação processual de qualidade.

Texto sobre "Avaliação processual de qualidade", no Blasfémias Médicas.

Discutiu-se a Ota

A frase da noite, paradigmática, pertenceu a Fonseca Ferreira, presidente da CCDR de Lisboa:
Neste país, cada vez que se fala de uma grande obra, ficam quase todos contra...
É isso que move todos aqueles engenheiros: uma grande obra. Até José Manuel Viegas, que há um ano defendia a Portela + 1, agora opta pela "cidade aeroportuária".

De resto, para além das discussões sobre estacas e brita e da necessidade imperiosa de disputar o hub ibérico a Madrid, muitos auto-elogios de uma corporação que se julga capaz de construir todas as maravilhas do mundo. Não há obstáculo que não se transponha. À custa de milhões, claro, sempre referidos com uma ligeireza arrepiante.

A unanimidade alarmista: o tempo urge e já se perderam 30 anos, como lamentou o bastonário. É que a Portela rebentará em breve pelas costuras e, no mínimo, o país irá paralisar. Realmente, já no tempo de Marcelo Caetano se ouviram os primeiros alertas sobre a eminente saturação do aeroporto...

Uma decisão política que dependa do parecer daqueles tecnocratas, será sempre caríssima e potencialmente ruinosa. É preferível que nunca se tome.

Vantagens da Ota!

O Prós & Contras (RTP 1) permitiu-me compreender, pelo menos, uma coisa: se a Ota (aeroporto) for mesmo para a frente, alcançaremos mais um feito mundialmente significativo, um verdadeiro record - o de termos um dos maiores e mais caros (i.e., + ou - 500 milhões de Euros) aterros do mundo!

Discute-se a Ota - 3

Até a Fátima Campos Ferreira é categórica: a Portela esgota-se em 2017! Indiscutivelmente! Não se perca mais tempo!

26.3.07

Discute-se a Ota - 2...

A própria discussão da Ota tem sido extrema e rapidamente evolutiva.

Agora um dos argumentos "pró" mais ouvido é o da necessidade de termos "um hub para competir com Madrid"; há alguns tempos atrás, falava-se na necessidade de termos um hub inter-continental, para nos afirmarmos mundialmente como um destino atractivo, concorrenciando, na Europa, com o famoso triângulo Paris-Frankfurt-Londres....

Ora, o que ninguém parece perguntar é 1) qual a necessidade de competirmos, neste particular de aeroportos, quer com Madrid, quer com a Europa toda?; 2) ainda que haja alguma vantagem realmente decisiva para o país (proveito estratégico, económico, social, cultural, etc., etc.) que compense o marfim todo de mais um "mamute branco"... pergunto eu... será mesmo realista acharmos que concorrenciaremos, neste particular, com Madrid ou com Londres (por exemplo) como destino ou mesmo como plataforma intercontinental?

Discute-se a Ota

No Prós & Prós. Sala repleta de brilhantes técnicos, todos ansiosos por ligarem o nome a uma grande obra. Lisboa precisa de um aeroporto gigante, ponto final! Seja na Ota ou noutro lado. Porque temos de ter um hub para competir com Madrid e isso implica uma cidade aeroportuária, um centro logístico, essas coisas. Nem que não haja aviões e mercadorias para por lá circularem.

liberdade individual


Para quem algum dia partiu de um país de cultura predominantemente católica para ir viver num outro de cultura predominantemente protestante, conhece a admiração inicial que sentiu pelo ordem prevalecente no seu país adoptivo: todos os cidadãos atravessam a rua na passadeira e somente quando o sinal está verde; todos conduzem dentro da velocidade limite; todos têm a mesma atitude no emprego; todos se cumprimentam da mesma maneira e com as mesmas palavras; ninguém bebe ou se diverte fora dos momentos e dos dias que o calendário prescreve para tal; todos chegam ao restaurante à hora marcada; a comida tem o mesmo sabor em todos os restaurantes.###
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Todos os actos sociais que um homem tem de desempenhar desde que sai de manhã para o emprego até que volta à noite a casa parece que foram previstos e estudados, e uma regra foi prescrita para o desempenho de cada um deles - e todos os cidadãos seguem invariavelmente cada uma das regras. Existe como que uma autoridade invisível que estandardiza os comportamentos e os prescreve e que torna todos os cidadãos iguais.
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Porém, para o homem católico vivendo num país protestante, passada a fase inicial de admiração, vai instalar-se nele, com o decorrer do tempo, um sentimento que é um misto de frustração, inibição, irritação, desencanto, repressão e, finalmente, a tristeza. Falta-lhe alguma coisa que ele não é capaz de descrever muito bem. No íntimo, ele sente que lhe falta liberdade, mas não ousa dizê-lo porque sempre lhe transmitiram que a liberdade existe é nos países protestantes do norte da Europa e da América do Norte, e ele vive agora num deles.
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Mas aquilo que lhe falta é, na realidade, isso: liberdade - aquela liberdade individual alargada, que lhe permite exprimir toda a sua espontaneidade, e que só existe nos países de tradição católica.
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Na tradição protestante cada homem é uma autoridade livre. Num país desta tradição, cada homem vai, então, constranger os outros, e vai ser constrangido pelos outros, para fazer as coisas da vida em sociedade de uma maneira que, no limite, seja aceitável para todos. Uma vez chegados a este comportamento padronizado, todos os cidadãos o aceitam e o fazem respeitar, não havendo lugar a quaisquer desvios, menos ainda a trangressões.
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Os comportamentos padronizados assim estabelecidos acabam por ser impostos a cada cidadão, e obedecidos por ele, porque à volta dele está sempre uma autoridade que constantemente lhe lembra e, em ultima instância lhe impõe, como deve comportar-se - o seu vizinho, o seu colega de trabalho, o transeunte que por ele passa na rua, o seu conjuge, até os seus filhos.
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Esta é uma autoridade impessoal - uma autoridade que é exercida por pessoas, mas que não provém de nenhuma pessoa em particular. Esta é uma autoridade omnipresente que se exerce permanentemente sobre cada homem, uma autoridade que a cada momento o vigia, o faz olhar sobre o ombro, o inibe e o reprime. Para o homem católico, esta forma de autoridade impessoal e permanente, que o segue por todo o lado e em cada passo que dá, acaba por se tornar insuportável.
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A razão é que o homem católico está habituado a uma forma diferente de autoridade, uma autoridade que é pessoalizada e centralizada - e, portanto, uma autoridade que está distante. Longe da autoridade, o homem católico pode exprimir livremente toda a sua individualidade - ele pode inventar, fazer a seu bel-prazer, improvisar, divertir-se, transgredir até, mesmo quando todos os outros homens decidem fazer o contrário. É esta esfera alargada de liberdade individual que lhe permite levar a vida como quer, fazer diferente dos outros e, se lhe apetecer, fazer até ao contrário dos outros, que ele sente a falta num país de tradição protestante.
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O homem católico é um sujeito, porque sobre ele paira uma autoridade pessoalizada. O homem protestante é, pelo contrário, ele próprio uma autoridade. Porém, o homem que é um sujeito católico possui uma esfera de liberdade individual que é consideravemente mais ampla do que a do homem que é uma autoridade protestante. Por isso, em termos de liberdade individual, eu estou persuadido que os povos de tradição predominantemente católica do sul da Europa e da América Latina não têm nada a aprender com os povos de tradição predominantemente protestante do norte da Europa e da América do Norte. Antes pelo contrário.

"Verdade" versus "Opinião Oficial"

Neste post, Pedro Arroja escreve o seguinte:

Nos países de tradição protestante, a liberdade de expressão é um meio para chegar à verdade. Não surpreende, por isso, que os maiores defensores modernos da liberdade de expressão fossem autores desta tradição, como John Stuart Mill e outros. Pelo contrário, nos países de tradição católica o meio para chegar à verdade é a autoridade, não a liberdade de expressão.


O que faltou analisar foi os méritos próprios de cada um destes métodos de se chegar à verdade, independentemente da cultura do povo onde o método é implementado. Por exemplo, Pedro Arroja não explica como é que uma autoridade, mesmo num país de cultura católica, consegue chegar à verdade se não existir liberdade de crítica. Será inspiração divina? Terá nascido ensinado? Não precisa de ser confrontada com argumentos contrários? Também não explicou que garantias é que podemos ter de que aquilo que uma autoridade alega ser a verdade é de facto a verdade. É que existe uma diferença entre "opinião oficial" e "verdade", tal como existe uma diferença entre "consenso" e "verdade". Aliás, tendo em conta o estado em que se encontrava a academia portuguesa há uns anos atrás, temo que o método de determinação da verdade por decisão da autoridade estabelecida seja uma das principais causas do atraso intelectual do país.

Afinal, a América Latina é aqui tão perto.....

Regressado de uns dias na América Latina, onde estive sem acesso a informações de Portugal, tento descortinar rapidamente o que de relevante por cá se terá passado nos últimos dias. É fascinante:

- Um partido político desintegra-se em plena praça pública, com cenas e episódios pouco edificantes;
- Duas figuras políticas, conhecidas pelo seu desprezo pela liberdade dos seus concidadãos e abertamente defensoras de regimes tirânicos são escolhidas como as mais relevantes dos últimos séculos, no âmbito de um concurso de televisão;
- Um projecto governamental para a construção de um aeroporto revela-se, sem surpresa, como uma gigantesca e dispendiosa inutilidade, não sendo sequer solução para o que aparentemente nem sequer se sabe ao certo se precisa de remédio;
- Um trabalho jornalístico de investigação que coloca em causa a imagem imaculada do chefe incontestado é criticado como «populista», «rasteiro» e de «jornalismo de sarjeta»;
- dá-se a conhecer que inúmeros eleitos locais terão criado empresas ditas municipais que funcionariam como fachadas pagas pelo erário público para se distribuírem benefícios em causa própria e às suas clientelas;
- Só o futebol parece continuar a, garantidamente, assegurar alguma satisfação ao povo;

Cargos de autoridade sem accountability

Kim Il Sung, o Grande Líder era, também, um exemplo de «...uma autoridade absolutamente livre, a mais livre de todas as autoridades, a única pessoa que não depende de ninguém neste mundo para manter o seu lugar». Para além disso, «... quando muitos argumentavam em silêncio que ele devia renunciar ao lugar e ser substituído por outro (...), ele manteve-se imperturbável no seu cargo (...) E ele cumpriu as suas funções - que eram as de estar lá - até ao limite do seu mandato, que foi o momento do seu último suspiro. Uma autoridade livre nunca renuncia.»

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O catolicismo é apenas uma religião

Pedro Arroja tem vindo a explicar porque é que um sistema político baseado nos princípios do catolicismo seria um fracasso. É que tal sistema teria que se basear num sistema centralizado dirigido por uma autoridade iluminada que, caso fosse contestada com argumentos racionais, perderia toda a aura mágica que a sustenta. Ora, dado que o telégrafo, o telefone, o telemóvel, a televisão, a rádio e a internet não podem ser desinventadas, não se consegue perceber como é que tal autoridade poderia sobreviver ao simples facto de ser tão falível como qualquer outro mortal. Nada disto é preocupante se tivermos em conta que o catolicismo é uma religião e não uma teoria política. Já a ideia de que os povos católicos têm que viver sob instituições políticas centralizadas inspiradas no catolicismo parece ignorar todos os argumentos contra o centralismo independentes das peculiaridades culturais. Sejam quais forem as peculiaridades culturais de um povo, isto é sempre válido. As limitações da cultura católica não são ultrapassáveis pela mera adequação das instituições à cultura do povo. A cultura católica, quando transposta para a política, é incompatível com sociedades modernas e desenvolvidas porque estas sociedades requerem grande autonomia individual e elevados níveis de descentralização.

Feed-back

O que é existe de comum entre:
- uma analogia de João Paulo II com o actual seleccionador de futebol?
- a confusão da liberdade com o exercício de um cargo de autoridade desprovido do dever mínimo de accountability?
- a pretensa constatação de que o país nada ganhou com a entrada na UE e, logo, Portugal está no mesmo ponto de há 20 anos?
- o esforço de reinventar o Estado Novo, vendo em Salazar e no seu regime exemplos de liberalismo, de devoção ao Estado Mínimo e de estima pela liberdade?

Aparentemente o único elo entre estes contra-sensos é o absurdo volitivo. Quase compulsivo. A tentativa de chocar o mais possível forçando a lógica, a história e a verdade. Antigamente, chamava-se a isto "revisionismo". Eu prefiro a qualificação mais simples de "disparate". Que não merece refutação fundamentada - já que as evidências se comprovam a si mesmas.

há espaço para todos

Até à década de 80, quando ficou assente a nossa adesão à CEE, cujo cinquentenário estamos a festejar tão displicentemente, os descontentamentos populares e as crises políticas que originavam resolviam-se, em Portugal, a golpes de força uns tentados, outros bem sucedidos. Hoje, graças à estabilidade europeia, resolvem-se por formas ritualizadas, não agressivas: a eleição de Salazar, símbolo máximo contra o qual se erigiu a III República, como o «maior português de sempre»; coligações juvenis da extrema-direita com a extrema esquerda em listas anti-sistémicas, para conquistar associações académicas; artigos de protesto contra as oligarquias dominantes, como o que Rui Tavares escreveu hoje no Público. Para explicar a presença de elementos do BE na lista da juventude do PNR, Rita Vaz, candidata a presidente, esclarece que «todos podem participar». Pois podem. Até porque vai haver cada vez mais espaço para este tipo de «colaborações».

Uma notícia ou uma nota oficiosa?

«Rui Martinho, que até Setembro último esteve à frente do conselho directivo do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), foi nomeado presidente do conselho de administração da seguradora Tranquilidade, na assembleia geral realizada ontem. O gestor vai exercer funções não executivas, passando a ocupar o cargo até aqui preenchido por Luís Redondo Lopes, que passa a presidente da mesa da assembleia geral da seguradora. Apesar de ir desempenhar as funções de presidente não executivo de uma empresa supervisionada pelo ISP, que Rui Martinho abandonou há seis meses, não está em causa a violação do regime de incompatibilidades da entidade de supervisão. Relativamente a este tema, os estatutos do Instituto remetem para a Lei 12/96, que apenas impede os titulares de cargos de soberania ou políticos de desempenharem funções em empresas privadas que tenham tutelado durante um período de três anos após abandonarem aquele cargo. Depois de sair do ISP, Rui Martinho integrou o Espírito Santo Financial Group, com a função de consultor da administração da holding que detém a Tranquilidade. Antes do ISP, o gestor esteve à frente do Deutsche Bank em Portugal. »

O maior dos portugueses

Salazar ganhou a eleição dos Grandes Portugueses com 41% dos votos. Como democratas que somos, temos que aceitar o resultado.

quem ganha, quem ganha, quem ganha?

Estar lá


Qual é a função principal da autoridade suprema da Igreja, o Papa? E de um pai de família, que é a autoridade suprema da casa? E do patrão, a autoridade suprema da empresa? E a de um Presidente da República, que é a autoridade suprema dum país? A resposta é: estar lá.###
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Na nossa tradição, é esta a função principal da autoridade suprema de uma instituição - estar lá - e o Papa dá o exemplo. Ele não tem de se envolver em funções executivas, nem deve envolver-se nelas, porque elas desgastam-lhe a autoridade. Essas funções, ele delega nos cardeais e nos bispos, tal com o pai delega na mãe, o patrão nos empregados, o Presidente nos seus assessores.
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A autoridade suprema está lá para se certificar que as regras da instituição são cumpridas e a sua intervenção é sempre de última instância e somente quando as regras sofrem uma ameaça séria de serem violadas. E, neste caso, a sua intervenção tem de ser definitiva.
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Neste aspecto, o Papa João Paulo II deu um exemplo admirável do cumprimento das suas funções. Nos meses que antecederam a sua morte, quando muitos argumentavam em silêncio que ele devia renunciar ao lugar e ser substituído por outro Papa, ele manteve-se imperturbável no seu cargo.
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Semana após semana, os sinais vitais iam enfraquecendo a olhos vistos, a certa altura ele já mal podia acenar, menos ainda falar. Mas, ainda assim, ele aparecia em público, como que a dizer a todos: "Eu continuo aqui no cumprimento das minhas funções".
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E ele cumpriu as suas funções - que eram as de estar lá - até ao limite do seu mandato, que foi o momento do seu último suspiro. Uma autoridade livre nunca renuncia.

25.3.07

Felipão


A chamada "geração de ouro" do futebol português nunca conseguiu resultados significativos ao nível da selecção nacional senior. Caíu, junta pela última vez, com uma performance medíocre no Mundial da Coreia e do Japão em 2002.
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A partir de então, enquanto cada vez menos jogadores pertencentes à "geração de ouro" faziam parte da selecção, e mais jogadores novos nela entravam, mais a selecção progredia. Foi segunda classificada no Europeu de 2004, quarta no Mundial de 2006. Subiu nos rankings internacionais. E ontem, nas qualificações para o Europeu de 2008, sem ninguém da "geração de ouro" na equipa, passeou-se perante a Bélgica, ganhando por 4-0.
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Milagre? Não - a autoridade do seleccionador.###
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Nos países católicos, a autoridade centralizada e pessoalizada é essencial para o desempenho extraordinário. E Luís Felipe Scolari que os brasileiros, não despropositadamente, baptizaram de Felipão é o exemplo acabado dessa autoridade centralizada e livre capaz de fazer transcender os povos de tradição católica, de outro modo sempre humildes e derrotistas.
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Uma autoridade exige, em primeiro lugar, uma vida de boas obras. E Scolari possuía, à sua chegada a Portugal, um currículo carregado, no qual o item mais recente era o de ter sido campeão mundial pelo Brasil - uma país católico que, sendo sempre candidato ao título, há muito o jejuava.
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Porém, o reconhecimento de uma autoridade nos países católicos exige mais do que experiência, currículo, e naturalmente, idade. Exige saber praticar a autoridade. E Felipão sabe fazer isso como poucos.
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A primeira coisa que faz onde chega é excluír da selecção um jogador de craveira excepcional, com grande influência no balneário, mas que já ultrapassou o topo da sua performance. Fê-lo com Romário no Brasil e fê-lo com Vítor Baía em Portugal (e, em menor medida, com João Pinto). A mensagem não podia ser mais clara: "Aqui a única autoridade - o Papa - sou eu".
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Durante um tempo, por virtude dessas exclusões polémicas, resiste, com um silêncio inabalável, aos protestos da opinião pública e dos jornais. Nunca responde às críticas, menos ainda aos insultos, e a sua decisão mantém-se inalterável. Tendo conseguido subtraír-se à escravidão da opinião pública, a partir daí ele tornou-se uma autoridade livre.
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Num país católico, uma autoridade e livre - à semelhança do Papa - é capaz de mobilizar todo o povo e de conseguir feitos extraordinários. Na realidade, os resultados logo começaram a aparecer e, de cada vez, a autoridade de Felipão se tornava mais livre e, em consequência, melhores eram os resultados.
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Um jogador que proteste numa entrevista a um jornal por se julgar muito bom e não ser convocado, ou qualquer pressão da imprensa para convocar um jogador, significam que, enquanto os protestos ou a pressão durarem, o jogador não vai ser convocado. Com o tempo, os jogadores vão aprender e a imprensa desportiva também. Vão aprender a calar-se e a respeitar a autoridade do seleccionador.
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Quaresma era um caso típico. No final do jogo, em entrevista à televisão, Felipão afirmou-se muito satisfeito com a exibição do jogador - pois não!. E acrescentou um pormenor curioso: "Dei-lhe toda a liberdade". Claro, bem ao jeito da tradição católica, jogador (ou clube de jogador) que não consteste a sua autoridade, tem toda a liberdade. Da mesma forma que, num país católico, quem não contesta a autoridade do Papa tem toda a liberdade para dar largas ao seu catolicismo ou à ausência dele, ou até para o detestar.
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Scolari fala pouco em público, uma faceta essencial para guardar a sua autoridade. Em certa altura recente cometeu, na minha opinião, o erro de participar numa campanha publicitária, suponho que em favor de um Banco. Foi um erro, porque uma autoridade nunca apela à multidão.
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Ele trata os jogadores como se fossem filhos dele. Se os jogadores falham e os resultados não acontecem, ele assume as responsabilidades e nunca critica os jogadores. Pelo contrário, defende-os sempre e enaltece-os. Se ele tem de tecer algum comentário desfavorável em público acerca de um jogador, o caso está mal parado - para o jogador.
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Como autoridade livre que é, ele permitiu-se ontem colocar em campo jogadores inexperientes nestas andanças, com o João Moutinho e o Nani. Os resultados não podiam ser outros - extraordinários. Este seleccionador ainda vai levar Portugal a campeão da Europa, senão mesmo do Mundo.