19.12.05

Narco-Socialismo ao Poder

Tudo indica que o líder dos produtores de folha de coca bolivianos, Evo Morales, terá ganho as eleições presidenciais na Bolívia. Uma absoluta tragédia boliviana. É que ao pé de Evo Morales, até Hugo Chavez parece um perigoso liberal. Evo diz coisas bestiais. Como esta:

"Como o modelo capitalista fracassou, agora é a vez do povo criar as suas empresas em auto-gestão. O estado deve apoiar estas empresas colectivas, autogeridas e lutar pela autodeterminação do povo. Este é o eixo central do nosso programa."
Esperam-se brilhantes resultados. Evo defende a produção de coca, gesto que lhe permitiu agregar todo o voto campesino.

«La coca no es una droga! Hay que acabar con esta mentira. Ha llegado el momento para acabar con la amenaza de aniquilación de la coca y de nuestro modo de convivencia comunitaria. La hoja de coca nos ha sostenido a través de todas las adversidades hasta el día de hoy; y lucharemos con todo nuestro poder y con ayuda de ella, para parar los desalmados propósitos del hombre blanco.Como otras plantas, la coca es una medicina, una planta sagrada. Gracias a la coca, hemos soportado innumerables sufrimientos causados por la infame guerra de los blancos contra las drogas.»
O líder dos cocaleros mistura no seu discurso o combate aos traficantes com uma falácia do valor da coca como planta tradicional, ignorando que se os campesinos recebem dinheiro pela folha de coca, é apenas pelo seu valor como droga e não como planta medicinal.

«Defendemos la hoja de coca, queremos comercializarla, exportarla e industrializarla. Vamos a impulsar el uso industrial de la hoja de coca, no de la droga. La droga no es para nuestra cultura.»
Evo defende um moldelo económico para a Bolívia à imagem do modelo cubano de Fidel Castro, de quem se confessa grande admirador e a quem elogia a sua luta triunfal contra o império.

"O povo já começou [a revolução] e não só na Bolívia como em toda a America Latina. Estou seguro que vamos ter muitas Cubas para acabar com o imperialismo norte americano na America Latina."
O seu programa é uma mistura de recusa de mercado livre, proteccionismo, nacionalizações, anti-americanismo e anti-capitalismo, muito semelhante ao discurso que os líderes do Bloco de Esquerda faziam em Portugal na década passada, antes de renegerem a sua história.

O discurso de Evo Morales assenta que nem uma luva no tipo do "Perfeito Idiota Sul-Americano". Conta com o aplauso e complacência de Lula, Hugo Chaves e Kirchner. Lula, a quem Evo terá já anunciado a nacionalização da brasileira Petrobras, saiu-se com esta:

"Olha o que significou a eleição do (Hugo) Chávez na Venezuela. Imagine o que significa se o Evo Morales ganhar as eleições na Bolívia. São mudanças tão extraordinárias que nem mesmo os melhores cientistas políticos dos nossos países poderiam ter escrito."
Aquilo que Evo defende, consciente ou inconscientemente, é explicado por Carlos Alberto Montaner:

«En el arco político boliviano hay dos sectores: un sector indigenista, que acaba por complicar las cosas de una manera terrible, y el sector de Evo Morales, que es de un radicalismo político marxista-leninista muy elemental, pero marxista-leninista al fin, que también niega la esencia del Estado boliviano. Y hay una revitalización de algo que parecía superado: el comunismo.»
Não é difícil fazer previsões sobre o que aí vem. Alvaro Vargas Llosa chama-lhe Bolivia's Nightmare.