O Estado, achando lucrativo este negócio, fez dele um monopólio
Para que a distribuição deste periódico fosse feita com a máxima regularidade aos nossos assinantes resolvemos expedi-lo pela posta.
No dia 15 de Julho, às três horas da tarde, entravam no correio de Lisboa todos os exemplares destinados aos nossos assinantes, devidamente cintados, subscritos e estampilhados. Dos referidos exemplares parte foram entregues em Lisboa nesse mesmo dia, parte no dia seguinte, outros daí a dois dias!
Tomamos a liberdade de perguntar porque não haveriam sido todos distribuídos no dia 15. Segundo parece, pela razão de que os srs. entregadores não quiseram comprometer a dignidade dos seus uniformes oficiais percorrendo as ruas da cidade com grossos volumes debaixo do braço. Admitimos perfeitamente este pejo dos srs. entregadores: somente pediremos a suas senhorias que o declarem.
Porque, nesse caso, nós mesmos nos encarregaremos de entregar o nosso periódico. E como, incumbindo-nos deste serviço, nos não pesa naturalmente um pequeno trabalho a maior [sic], oferecemo-nos a suas senhorias para lhes entregarmos também as suas cartas.
E assim poderão os srs. entregadores retirar-se definitivamente ao interior das suas famílias.
É bom ponderarmos que o correio não é mais que uma empresa que se encarrega do transporte de uma parte da nossa propriedade circulante, mediante uma certa paga previamente ajustada.
O Estado, achando lucrativo este negócio, fez dele um monopólio, privando-nos assim a nós ambos da faculdade de realizarmos com o público esta transacção, servindo-o mais barato e melhor do que o serve o Estado. Se nós nos encarregássemos do serviço do correio separaríamos a chamada posta interna do serviço geral da nossa empresa; colocaríamos uma caixa especial para a correspondência de Lisboa à esquina de cada rua, poríamos em comunicação rápida de uns com os outros todos os nossos entregadores de cada rua, mandaríamos abrir de hora em hora as nossas caixas, e faríamos por tal modo circular constantemente dentro da cidade toda a correspondência dos seus habitantes, evitando assim que uma carta que actualmente se expede do alto do Loreto leve um dia, em vez de levar meia hora, a chegar ao fundo do Chiado.
E por este modo os serviços que nós prestaríamos ao público seriam mais procurados por ele que aqueles que o Estado lhe oferece, e nós ganharíamos mais dinheiro do que ganha o Estado.
Visto porém que o Estado monopoliza o correio, seria moral que pelo menos cumprisse as condições aliás suavíssimas a que por esse facto se obrigou.
Insistindo em o não fazer obrigar-nos-á o Estado a dirigimos-lhe, com todo o respeito devido, o requerimento seguinte:
Senhor: Tendo-se os abaixo assinados encarregado perante o público de escrever um periódico mensal intitulado As Farpas, e tendo Vossa Majestade havido por bem encarregar-se por outro lado de distribuir o mesmo periódico, depois de devidamente estampilhado com o selo da real esfígie de Vossa Majestade, sucede que sendo o aludido trabalho regularmente feito por nossa parte, o não é do mesmo modo por parte de Vossa Majestade. Isto nos leva a propor que para inteira satisfação do público com relação às Farpas, doravante, queira Vossa Majestade encarregar-se de as escrever e nós de as entregarmos. E julgando os abaixo assinados da maior equidade e razão aquilo que pedem, esperam se lhes defira.
E. R. M.
(As Farpas, Julho de 1871)