27.11.06
À Paulada.
Fiquei logo a tremer ao imaginar a resposta de um dos blogoexistos à minha posta sobre Milton Friedman no Chile. Estes tipos são uns senhores e fazem-me lembrar o cão (um cão fino, um Grand Danois, nada de rafeiros) de Pavlov: elogia-se-lhes um ódiozinho e põem-nos logo no nosso lugar, com uma rosnadela. Gente com classe é assim, está fadada para dar lições aos ígnaros. Altamente previsíveis.
Enfim, lá pensaram, como sempre fazem, que isto é gente de muito neurónio ebulitivo, e o que é que saíu? Isto, ou seja, uma merecida mistura de pauladas com liçoes de cátedra.###
Como seria de esperar, nem precisaram ler o que escrevi. Para quê? Quem já viu tudo, já pensou em tudo e já sabe tudo não perde tempo com minudências. O mundo está cheio de Counterpunchs, de onde se pode beber ciência e conhecimento. E é por isso que não só sabem o que sabem e que já é muito, mas também sabem o que os outros sabem e, mais ainda, sabem o que os que não sabem nada não sabem. Gente que pensa, bloga e existe.
Escrevi que Friedman teve um comportamenmto elogioso no caso do Chile e tentei justificar. Como responderam eles? Muito bem. Palerma. Ígnaro. Maluco. Misturador de vegetais. Assim não vale porque também falei em Cuba. E na China. E na Nike e no Vietname. E que o PNB não serve porque a Arábia Saudita também tem um, que ainda levamos uma tareia intelectual se quisermos discutir a Nova Zelândia e que etcetera e tal.
Estes grandes sabedores não nos deixam relativizar nada. Maldita liberdade de expressão.
Digam-me vocês se estes tipos não são geniais da cabeça? Não sei se vale a pena tentar continuar a debater aqui do manicómio, mas sempre vos direi duas ou três coisas, desculpem-me o atrevimento:
1. Ainda bem que são conhecedores a ponto de conseguirem interpretar o que é o PIB ou o PNB, essa coisa estranhíssima. Isto não é para qualquer um. E podem falar-nos mais na Nova Zelândia. Até aposto que querem falar no PIB. Estou certo que, com a vossa proficiência, não vos custará muito tentar ensinar-me.
2. Por muito estranho que vos pareça, eu estava convencidíssimo que o Chile nunca tinha sido o país mais rico da América Latina, nem antes nem depois dos blogoexistos nascerem, a não ser que eles sejam mais velhos que a invenção dos PNBs e dessas coisas para especialistas do sector. Mas agora que já fui elucidado, talvez possam ensinar aqui os leitores do Blasfémias e explicar-nos quando é que tal aconteceu. Estou curiosíssimo, sempre gostei de história antiga.
3. Como não são fanáticos, os blogoexistos reconheçem muitos méritos (e também alguns deméritos) como economista ao Milton Friedman, mas não era disso que tratava o post. Falaram de um comportamento vergonhoso, que não teve nada a ver com economia. E eu respondi com descaramento, aplaudindo o comportamento de Friedman, que, pensava eu, de vergonhoso nada teve. Na minha ignorância, acreditei que ajudar pessoas a enriquecerem, ter uma atitude didáctica perante os mistérios da economia e iluminar o caminho do desenvolvimento era meritório. Nada disso. Na resposta levei na cabeça dos blogoexistos, de cima de um palanque, com um pau de bicos. Parece que não sou equilibrado. O que vale é que eles são.
Estes não-fanáticos têm um grande método para promover um são debate de ideias. Matam o adversário à paulada, falam de cátedra e em bicos de pés Depois da pancada, esperam a rendição cabisbaixa perante tanta proclamada sapiência. Acho bem. É preciso que os grandes sapientes calem os que blasfemam em atitude casmurra.
Aguardo cheio de expectativa eventuais esclarecimentos. E se me ignorarem, que é o que eu mereço, fica pelo menos, desde já, um agradecimento pela atitude didáctica e aberta que demonstrou . Obrigado João.