Desde sempre, as pessoas foram buscar à ideia de Deus e à religião o consolo para as agruras e as injustiças da vida e, sobretudo, a esperança de que essa vida um dia seria melhor - nem que fosse na outra vida.
Até à revolução industrial, a duração média da vida humana, mesmo no Ocidente, era de cerca de 30 anos, a condição de vida do homem comum e da sua família era a da mais abjecta miséria, as doenças matavam em massa e os tiranos, por vezes, também. Até à revolução industrial, esta era uma vida que só poderia ser descrita pelas palavras de Thomas Hobbes: uma vida que era "poor, nasty, brutish and short".
Nós podemos imaginar o estado de espírito de um homem que, já de si vivendo na mais completa miséria e opressão, via de um dia para o outro todos os seus filhos morrerem, dizimados pela peste. Valeria a pena viver esta vida ou seria preferível a morte? A resposta seria certamente a morte, a não ser que este homem encontrasse algures o conforto para esse fardo insuportável que era a vida, e a confiança inabalável de que um dia alguém lhe aliviaria o fardo, e o recompensaria até. Foi isso que ele encontrou na ideia de Deus e na religião.
Sem a ideia de Deus nós hoje não estaríamos aqui. A humanidade teria ficado pelo caminho. Por isso, não existe à face da Terra, nem nunca existiu, nenhuma civilização - por mais precária que seja -, que alguma vez tenha sobrevivido, muito menos prosperado, sem a ideia de Deus. É isso que devemos à ideia de Deus e à religião. Devemos-lhe a vida - a circunstância mesma de hoje estarmos aqui.