Em Portugal desenvolveu-se nos últimos tempos um bizarro amor pela biologia. Os óvulos e os espermatozóides tornaram-se no nó da questão.
Na questão do aborto fala-se de óvulos, fetos, embriões... como se as mulheres andassem todos os meses, qual vaso do Graal, a pensar que têm uma vida dentro delas. Vão desculpar-me a franqueza mas não é assim. Ou só é assim quando querem estar grávidas. Quanto ao restante tempo da sua vida fértil não fazem um luto por cada óvulo, fecundado ou não, que expelem naturalmente. Sei que muita alminha vai ficar chocada pelo 'tom' desta afirmação mas um dos problemas desta campanha é que não é suposto falar-se do assunto propriamente dito. E então falamos de bebés e de vida. Ora é preciso que não se esqueça que as mulheres levam meses e meses da sua vida fértil a conviver com óvulos que podiam ter sido vida e não foram. Aliás muitas mulheres usam dispositivos intra-uterinos o que, na lógica biológica que está instalada, as obrigaria a chorar uma vida todos os meses.