O PSD e o PS, com o apoio e incentivo dos estatistas PCP e BE e do caritativo-beato CDS/PP, transformaram os portugueses de um povo abandonado pela ditadura num povo assistencializado na democracia. Não admira que as populações se revoltem quando lhes fecham as urgências: é a maca e não a liberdade, a competência ou a iniciativa que associam ao desenvolvimento e à democracia.###
Na verdade, o que todos os portugueses queriam era literalmente chegar à Madeira. Um local onde dinheiros públicos vindos não se sabe donde, mas aos quais se tem um inalienável direito, sustentem um modo de vida acima das possibilidades. Por ironia é na Madeira que vigora o que de mais próximo do estado social existe em Portugal. Como bem se vê o modelo é imbatível desde que, algures, uns mouros, o sustentem. O nosso problema, aqui no continente, é não arranjarmos uns mouros a quem acusemos de colonialistas e que, para evitarem tal opróbrio e destempero, nos passem uns cheques. Na Madeira, Alberto João ainda tem margem para se demitir. No continente já nem isso. Dos quatro últimos primeiros-ministros dois optaram por largar o barco a meio do mandato. O terceiro foi demitido num repente presidencial que não sendo democraticamente claro teve pelo menos o mérito de pôr fim àquela agonia. E o quarto e último apenas ganha nas conferências de imprensa. Ou seja, na apresentação teórica de planos e na aprovação de decretos que impõem cartões únicos, alvarás e listas disto e daquilo. Mas, tal como os anteriores primeiros-ministros, também Sócrates vê bloqueadas todas as iniciativas de reforma que, mesmo por linhas tortas, nos levassem a questionar o nosso modo de vida.
Não é por coincidência que os ministros que ontem eram dinâmicos se tornam hoje em figuras embaraçosas – a propósito o que é feito de Lurdes Rodrigues? – e que as estrelas das notícias não são executivas mas sim fiscalizadoras, como o director-geral de Impostos e os inspectores da ASAE. Quando não se pode governar, fiscaliza-se.
*Adaptado do PÚBLICO, 27 de Fevereiro