Alberto João Jardim resolveu demitir-se não propriamente por ter razão - e na Lei das Finanças Regionais tem alguma - mas sobretudo porque duma assentada mata vários coelhos. Na campanha que se avizinha é provável que o PS local fique reduzido a uma pálida sombra da sombra que já é. Simultaneamente refreia os entusiasmos daqueles que já se viam seus sucessores. E sobretudo garante a sua presença na política activa até 2011, o que quer dizer que se fará ouvir nas próximas presidenciais, autárquicas, legislativas e ainda na revisão constitucional.###
Mas para além dessas outra razão existe: Alberto João tem pela primeira vez em Lisboa alguém com quem se identifica. Tirem o ar boçal e alguns anos a Alberto João, vistam-no melhor, anulem-lhe o sotaque e eis o que sobra: um homem que detesta que o confrontem e um líder que gosta de se ver como um animal feroz. Ou seja José Sócrates, um homem que como Jardim é feito pelo poder. Não se imagina Alberto João a fazer oposição, arrastando-se anos pelo parlamento, fosse ele regional ou nacional. Quanto a José Sócrates, convém recordar que não só foi um mau líder de oposição como apenas ganhou as eleições porque Santana as perdeu. Mas o poder deu-lhe o carisma que não tinha. Afinal o exercício do poder que desgasta os outros líderes é o que dá forma e estrutura a homens como Sócrates e Jardim.
*PÚBLICO, 21 de Fevereiro