Anda muito gente a confundir as contas do estado com as contas da sociedade portuguesa. A redução do deficit só é positiva porque o risco de a sociedade pagar mais impostos no futuro diminui. Mas como a redução do deficit só foi possível porque a sociedade teve que pagar mais impostos no presente, para a sociedade pouca diferença faz. Mais impostos agora, ou mais impostos no futuro, who cares ... A redução do deficit só é positiva se não implicar aumentos de impostos, caso contrário é uma mera oficialização de níveis mais elevados da despesa.
Um exemplo:
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Um estado que cobra em taxas e impostos 45% do PIB e que gaste 45% do PIB tem as contas equilibradas. Um governo tipo Guterres que faça disparar a despesa pode deixar um deficit de 5%, impostos de 45% e despesa de 50%. O problema deste deficit é que ele implica que os impostos terão probabilidade de aumentar. Principalmente se o governo seguinte preferir manter a despesa nos 50% em vez de a voltar a baixar para 45%. Note-se que o deficit em si mesmo não é um problema, mas um sintoma. Um sintoma de que a despesa subiu. Há então duas opções, ou se cura a doença, baixando a despesa, ou se cura o sintoma apressando a pior consequência da doença, isto é, aumentando os impostos. Os governos pós-Guterres optaram por apressar as consequências da doença aumentando os impostos. O resultado destes anos de crise será um estado com as contas equilibradas mais rico e uma sociedade mais pobre.