Até à década de 80, quando ficou assente a nossa adesão à CEE, cujo cinquentenário estamos a festejar tão displicentemente, os descontentamentos populares e as crises políticas que originavam resolviam-se, em Portugal, a golpes de força uns tentados, outros bem sucedidos. Hoje, graças à estabilidade europeia, resolvem-se por formas ritualizadas, não agressivas: a eleição de Salazar, símbolo máximo contra o qual se erigiu a III República, como o «maior português de sempre»; coligações juvenis da extrema-direita com a extrema esquerda em listas anti-sistémicas, para conquistar associações académicas; artigos de protesto contra as oligarquias dominantes, como o que Rui Tavares escreveu hoje no Público. Para explicar a presença de elementos do BE na lista da juventude do PNR, Rita Vaz, candidata a presidente, esclarece que «todos podem participar». Pois podem. Até porque vai haver cada vez mais espaço para este tipo de «colaborações».