Num post anterior, mencionei alguns dos comentadores deste blogue que eu aprecio. Tenciono dedicar um post a cada um. Os bloggers são o alvo permanente dos comentadores. Não é um mal que, ao menos por uma vez, os comentadores sejam o tema dos bloggers. Começo hoje pela zazie.###
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Eu admito na zazie a imensa curiosidade, mas isso é apenas um atributo da sua condição feminina. Admiro sobretudo a sua capacidade para questionar. É uma das poucas pessoas que eu conheço que seria capaz de questionar até os Dez Mandamentos.
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A sua formação é em Literatura ou em História e ela é uma pessoa imensamente lida. Embora raramente o aparente, ela é, na minha opinião, uma pessoa de convicções religiosas e de uma grande consideração pela tradição. Possui uma profissão intelectual, muito provavelmente é professora.
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Não sendo a sua área a das ciências, ela é particularmente atraída por aqueles que se apresentam na blogosfera como cientistas, seja das ciências sociais seja das naturais. E como o cientismo é hoje uma moda em Portugal, a zazie possui matéria-prima que baste. Com a humildade que é própria de quem não é da área, ela começa por colocar questões aparentemente ingénuas ao cientista. Não demora muito tempo até que o cientista esteja por terra. Mais geralmente, para um blogger que preze verdadeiramente a argumentação racional e lógica, o pior que lhe pode acontecer é ter a zazie do outro lado.
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Por detrás do prazer genuino que lhe proporciona a blogosfera, da vivacidade e da juventude que é capaz de pôr em cada comentário, está uma mulher obviamente madura e experiente e que possui uma genuina autoridade. É a única mulher que, mesmo nas situações mais difíceis em que o debate descamba para o insulto e para a graçola, consegue enfrentar todos os opositores, mesmo os mais obscenos.
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Na verdade, todo homem sabe - ou devia saber - que nunca se discute com uma mulher experiente. A prazo, ela ganha sempre. Nenhum dos seus golpes é fatal. Mas ela há-de dar tantos até pôr a vítima de rastos. As mulheres ganham autoridade na vida sendo mães. Por isso, eu presumo que a zazie é mãe.
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Mas a razão do meu maior débito para com a zazie terá passado despercebida à maioria dos frequentadores do Blasfémias. Há cerca de um mês, eu fiz um post sobre a autoridade papal
onde citava a Encíclica Lumen Gentium que, nesta matéria, fez doutrina na Igreja: "Em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, o pontífice romano tem sobre a mesma Igreja um poder pleno, supremo e universal, que pode sempre livremente exercer".
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Num comentário a esse post, a zazie escreveu (cito de memória) que "esse conceito de autoridade livre é um conceito interessante". E foi nessa altura - tanto mais que a expressão autoridade livre não estava sequer na citação - que eu eu me dei conta que o conceito era realmente interessante. E não apenas isso: no meu conhecimento, era também original.
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Na base deste conceito, eu fui capaz finalmente de responder perante mim próprio a questões cuja resposta há muito procurava, e não conseguia encontrar. Essas questões e as respostas que eu lhes consegui dar - mas só consegui dar por causa do conceito de autoridade livre - estão dispersas pelos meus posts do último mês.
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Finalmente, a zazie não gosta de ser referida na blogosfera. Mas num meio e numa cultura que faz gala em denegrir o outro, e o amesquinhar, eu considerei que seria uma verdadeira blasfémia mostrar o meu apreço por ela.