Ele é o mais temível comentador da blogosfera. Quando o Euroliberal afixa um comentário, o blogue quase que estremece, e o debate imediatamente se divide em dois períodos e os seus participantes em dois grupos. Antes dele e depois dele, a favor dele e contra ele. Ninguém lhe fica indiferente.###
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Eu tomei contacto com o Euroliberal quando comecei a ler regularmente o Blasfémias no início do Verão passado. Decorria então a guerra no sul do Líbano e as emoções voavam alto, não apenas por causa do Líbano, mas sobretudo por causa da guerra do Iraque.
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Eu devo, logo desde o início, confessar um enviesamento pessoal: quando vejo um homem sozinho contra uma multidão, instintivamente tendo para o lado do homem. E foi isso que aconteceu: "Ele parece Cristo - pensei - este homem estaria disposto a dar a vida na defesa das suas convicções, contra tudo e contra todos". E não pude deixar de sentir simpatia por ele.
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Ainda por cima, os argumentos dele pareciam-me óbvios. Eu sempre tive grande consideração pela América. Depois da II Grande Guerra, a América forneceu a liderança moral ao mundo, dando o exemplo, sanando conflitos, liderando a construção de instituições - como a ONU - e de leis internacionais tais que as relações entre as nações pudessem passar a ser governadas por leis, e não mais por homens.
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Como era possível, então, que este país pudesse agora declarar uma guerra de agressão - ainda por cima, uma guerra preemptiva - à revelia das instituições e das leis que ele próprio, mais do que qualquer outro, tinha contribuido para criar? O meu respeito pela América caíu a pique e lembrei-me da célebre frase de Lord Acton, agora que a União Soviética não existia e o equilíbrio de poderes desaparecera: "Todo o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente".
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A verdade, mesmo a mais elementar, encontra frequentemente em Portugal oposição no insulto, na graçola gratuita e numa certa alarvidade - e raramente no argumento racional fundado. Não era difícil imaginar os insultos que o Euroliberal, ao procurar transmitir a sua verdade, estava destinado a receber - os quais ele quase sempre retribuiu sem qualquer solenidade, e noutras vezes serviu até em primeiro lugar.
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Quem tem por profissão transmitir ideias sabe, por experiência, que frequentemente precisa de as exagerar afim de as conseguir fazer passar, sobretudo num meio intelectual possuindo uma tradição fechada e, por isso, intolerante. Os excessos verbais do Euroliberal, bem como a radicalização das suas posições, revelavam, porém, aos meus olhos, um certo desespero - o desespero próprio de quem não consegue passar uma verdade que considera evidente. Por isso, o Euroliberal chegava, às vezes, a parecer um militante islâmico quando, na realidade, é um católico convicto.
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O Euroliberal participa na discussão de poucos temas, somente daqueles que lhe interessam e para os quais está preparado. Ele é fluente em filosofia, história, religião, até em economia e educação. Porém, é nas questões geo-estratégicas que ele está no seu melhor. Ele é um europeísta convicto. E nos temas do Médio-Oriente ele possui uma cultura e uma informação que são quase enciclopédicas. Eu tenho beneficiado muito de o ler e as minhas opiniões sobre este assunto não seriam hoje as mesmas, se não fosse o Euroliberal.
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O Euroliberal é jurista, mas não um jurista qualquer. Ele é um intelectual que aprecia genuinamente o debate das ideias. Ele não tem apreço pelos jogos de palavras que evadem os argumentos ou os defraudam. Pelo contrário, o Euroliberal acredita que cada palavra tem um significado preciso, e que sem essa precisão o debate racional se tornaria impossível. Por isso, ele é um mestre na escolha das palavras - e isso explica, em parte, o impacto dos seus argumentos.
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O Euroliberal é o único comentador do Blasfémias que transmite o sentimento de que se fosse necessário ser sacrificado, crucificado até, em defesa da sua verdade e da sua razão, ele aceitaria essa fatalidade, comentando até descontraidamente para o lado: "Não serei eu o primeiro". É sobretudo por isso que eu tenho uma grande admiração por ele.