Figurava-o como o representante de uma geração que julgava o Maio de 68 como o paradigma supremo das utopias a realizar. Como quase todos os que ainda vivem desse tempo, não percebeu o erro que é tentar colocar o Estado ao serviço de uma ideologia – porque o Estado só tem uma e esta é sempre a mesma: a da sua conservação e engrandecimento. Interpretou entre nós aquela geração que se foi acomodando e transformando, pouco a pouco, na réplica perfeita de quase todos os ‘males de poder’ contra os quais tinha jurado lutar. Discordava de quase tudo o que dizia. Misturava a política com a literatura e julgava esta através daquela. Sobretudo, aborrecia-me o seu irremediável ‘francesismo’. Foi o intelectual do regime.
Mas escrevia bem. Muito bem. Durante anos, o seu era o texto que primeiro procurava matinalmente. A seguir, criticava-o. Depois lia-o, relia-o, deliciando-me.
* Publicado no Correio da Manhã.