6.9.07

Leituras Estranhas no Público

A propósito de uma portuguesa explorada(*) em França pelo pior patrão possível (o estado português), a jornalista produziu este naco de prosa opinativa:
«A entidade patronal de Isabel não é uma empresa clandestina, adepta do "dumping salarial", defendido na polémica directiva dos Serviços no Mercado Interno de Bolkestien"»
Para a jornalista, o mercado único de serviços equivale a dumping salarial. Como já temos um mercado único de mercadorias, admito que a senhora jornalista nunca tenha comprado nada fabricado na Itália. Ou em Espanha. É que é a mesma coisa, aplicada aos serviços. Os suecos que vieram cá instalar as máquinas na fábrica de papel não ganharam o ordenado português. Ganharam o ordenado do seu contrato de trabalho, na Suécia. Os portugueses que fabricam os Sharans vendidos na Alemanha não ganham mais porque o carro que fabricaram foi vendido na Alemanha. Então, porque é que uma empresa portuguesa não pode, por exemplo, vender uma auditoria na Alemanha, pagando aos seus funcionários o que acordou com eles?

A esquerda iletrada tem uma enorme facilidade de fazer passar os argumentos mais populistas na nossa imprensa. No caso português, com uma gravidade acrescida. Os trabalhadores dos países mais pobres da UE foram os que mais sofreram pela não aprovação da directiva. Demos, mais uma vez, um tiro nos pés. Burros.

(*) A senhora não está presa. É apenas muito mal paga. Está a ser voluntariamente explorada desde 2001. Ganha o ordenado de funcionária pública em Portugal e não quer voltar à pátria-mãe. Quer continuar a viver em França com salário de funcionário público francês. Já foi mandada regressar, mas não quer. Pretende manter o emprego, mesmo que não faça falta, mas com um ordenado diferente.