Recentemente descobertas no fundo do mar, algumas notas dão conta do estado da Atlântida, pouco tempo antes do seu triste desaparecimento (de "Notas de Atlântida", publicado no jornal "Domingo Liberal", 13 Fev. 2005).
Na Atlântida, o sistema político incluía vários partidos políticos, mas, na prática, apenas dois deles ocupavam alternadamente o poder. Infelizmente, a Atlântida estava a caminho da submersão.
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O Partido dos Mares encontrava-se no poder, após vencer as eleições, tendo ficado perdedor o Partido dos Oceanos. Como era costume, múltiplas posições de relevo, desde logo no aparelho do Estado, foram ocupadas por diversos membros do Partido dos Mares.
O Estado da Atlântida encontrava-se seriamente endividado. Perante esta situação, o Partido dos Mares resolveu despedir numerosos funcionários. Contudo, com alguma frequência, não escolheu para despedir pessoas ligadas à sua área, mas antes pessoas da outra área política.
Quando, algum tempo depois, o Partido dos Oceanos ganhou as eleições, deparou com uma situação inédita: não tinha pessoas afectas ao seu lado para colocar, como era tradição, em várias entidades do Estado – parte importante já não estava em funções.
O chefe, o sábio Pelágio, encontrou a solução - privatizar diversos sectores. Deparou com oposição dentro do seu próprio partido: Poseidon é contra as privatizações, é bem sabido!
Pelágio respondeu: Amigos, também eu não confio na iniciativa privada, simplesmente, não há outra solução.
Este texto constitui um exercício de ficção e qualquer semelhança com a não-ficção não será mais do que mera coincidência.
A propósito, cite-se Aristóteles:
“ Os habitantes de Bizâncio, numa altura em que andavam necessitados de dinheiro, venderam as terras sagradas pertencentes ao Estado: as que eram férteis foram alienadas a termo certo, as improdutivas definitivamente”
(“Os económicos”, Livro II)
José Pedro Lopes Nunes
Na Atlântida, o sistema político incluía vários partidos políticos, mas, na prática, apenas dois deles ocupavam alternadamente o poder. Infelizmente, a Atlântida estava a caminho da submersão.
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O Partido dos Mares encontrava-se no poder, após vencer as eleições, tendo ficado perdedor o Partido dos Oceanos. Como era costume, múltiplas posições de relevo, desde logo no aparelho do Estado, foram ocupadas por diversos membros do Partido dos Mares.
O Estado da Atlântida encontrava-se seriamente endividado. Perante esta situação, o Partido dos Mares resolveu despedir numerosos funcionários. Contudo, com alguma frequência, não escolheu para despedir pessoas ligadas à sua área, mas antes pessoas da outra área política.
Quando, algum tempo depois, o Partido dos Oceanos ganhou as eleições, deparou com uma situação inédita: não tinha pessoas afectas ao seu lado para colocar, como era tradição, em várias entidades do Estado – parte importante já não estava em funções.
O chefe, o sábio Pelágio, encontrou a solução - privatizar diversos sectores. Deparou com oposição dentro do seu próprio partido: Poseidon é contra as privatizações, é bem sabido!
Pelágio respondeu: Amigos, também eu não confio na iniciativa privada, simplesmente, não há outra solução.
Este texto constitui um exercício de ficção e qualquer semelhança com a não-ficção não será mais do que mera coincidência.
A propósito, cite-se Aristóteles:
“ Os habitantes de Bizâncio, numa altura em que andavam necessitados de dinheiro, venderam as terras sagradas pertencentes ao Estado: as que eram férteis foram alienadas a termo certo, as improdutivas definitivamente”
(“Os económicos”, Livro II)
José Pedro Lopes Nunes