A presidência irlandesa avisou hoje que o tempo pode ser o maior inimigo da mal chamada "CE".
Ou seja, o adensamento das negociações poderá - na visão peregrina de quem manda na UE - comprometer o destino do extensíssimo documento com que a Convenção giscardiana nos presenteou a todos.
Note-se que não é esta a primeira vez que se tenta impor esta ideia da impossibilidade da alteração do texto da dita "CE". O detentor do próprio dedo que a gizou - provavelmente, algures no Monte Sinai -, M. Giscard D'Estaing, já tinha sentenciado que o texto era «inalterável», que a dita "CE" era um todo «intocável»!
É, pois, a inamovibilidade do texto da dita "CE" que está, uma vez mais, em causa. A lógica do ultimato, tipo "take it or leave it", que certa vez no Verão passado fez indignar Vasco Graça Moura nas páginas do DN. Acompanhada, desde logo, de previsões escatológicas sobre as terríveis pragas que se abateriam sobre o continente europeu no caso da "palavra", integralmente considerada, de Giscard e seus acólitos não ser aceite sem qualquer rebuço.
Mas que "Constituição" é esta que não aguenta as mais singelas negociações? Que garantias pode dar aos povos europeus um documento que se pretende fundamental e fundacional e nem sequer suporta críticas, sugestões ou a possibilidade de alterações?
Que tipo de "democracia" iluminada estão os burocratas europeus a querer construir? Boicotaram o referendo, não aceitam negociações, nem querem ouvir falar em alterações! Dizem que se o tempo passar tudo pode estar perdido!
Que podemos esperar de gente assim? E de uma dita "CE" cuja fraqueza parece ser confessada pelo estilo frenético e desassossegado dos que ainda a defendem?