17.12.06

o cidadão está confundido


"Nas sociedades democráticas modernas o respeito pela esfera privada dos cidadãos está a desaparecer. A classe média - fortemente moralista, hipócrita e suspirando por segurança - fomenta e apoia um Estado cada vez mais omnipresente na esfera pessoal dos cidadãos. Trata-se de um despotismo mais soft do que aquele que era típico das sociedades autoritárias, como a de Salazar, mas mais tenebroso e preocupante.

Exemplos em Portugal: o fim da reserva de confidencialidade entre o advogado e o seu cliente; o novo decreto-lei que autoriza o Estado a instalar um microchip na viatura de cada cidadão; a nova lei da comunicação social, que reintroduz a censura, agora legitimada pela maioria; a impotência dos cidadãos perante o Estado e nos litígios com ele.

Sob uma chantagem permanente de natureza económica, emocional, psicológica e social, o Estado é cada vez mais senhor e dono das nossas vidas. Em nome do combate à alta criminalidade, à corrupção e à evasão fiscal, em nome frequentemente de proteger os cidadãos contra si próprios, o Estado torna-se cada vez mais forte e os cidadãos cada vez mais desprotegidos perante o seu poder tentacular.

Este poder cimenta-se na dependência da imensa maioria dos cidadãos face ao Estado - desde o funcionário público ao mero pensionista - uma dependência que o próprio Estado estimula. E é suportado por todos aqueles que, em nome da realização de utopias sociais, como a da igualdade, aceitam e até incentivam o fim da liberdade individual.

Ao mesmo tempo, os verdadeiros liberais perdem-se demasiado na defesa do capitalismo, quando aquilo que mais importava era voltar ao velho liberalismo de luta pela defesa dos direitos básicos e fundamentais do cidadão livre, de luta contra o obscurantismo, o despotismo e as tiranias, de luta contra os velhos senhores agora vestidos com novas roupagens.

O cidadão está confundido. Estamos hoje mais escravizados do que provavelmente alguma vez estivemos durante a ditadura de Salazar. E, no entanto, vivemos, pretensamente, numa sociedade livre e democrática.

(anti-comuna, comentário ao post as vítimas mais certas; editado)