30.3.07

acima da sua

Numa série de posts recentes, argumentei que o regime democrático de tradição anglo-saxónica, baseado numa tradição de autoridades iguais, descentralizadas e impessoais (a opinião pública), se ajusta mal aos povos de cultura católica, cuja tradição está assente em autoridades hierarquizadas, centralizadas e pessoais.###
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Mais recentemente, redireccionei a discussão para o tema da família, com o propósito de mostrar que também no seio desta instituição se verificam diferenças semelhantes entre os povos de tradição protestante e os povos de tradição católica. Neste caso, pretendo mesmo ir mais longe, e mostrar que a visão hoje prevalecente em certos sectores da opinião pública portuguesa, com o ênfase que coloca na igualdade dos géneros e na paridade de funções entre o homem e a mulher no seio da família, não é senão uma tentativa de, mais uma vez, adoptar o modelo anglo-saxónico.
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O tema é tanto mais interessante quanto esta alteração de paradigma tende a ser defendida sobretudo por jovens mulheres de um país de tradição predominantemente católica como Portugal - uma tradição que confere à mulher no seio da família uma autoridade, que mais tarde se espraia por toda a sociedade, que não tem comparação com a autoridade que uma mulher possui nos países de tradição protestante.
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Antes de prosseguir a discussão - o que farei em próximos posts - eu gostaria de utilizar este post para salientar como a discussão deste tema é, no entanto, particularmente difícil, sobretudo quando se tem do outro lado jovens mulheres particularmente afirmativas na defesa do valor supremo dos nossos tempos - a igualdade. Mas não apenas por isso. O tema é sobretudo difícil porque é um domínio em que se torna quase impossível fazer passar um argumento a quem nunca viveu a experiência de ter uma família - e, em particular, a experiência de ter filhos.
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Para ilustrar esta dificuldade, transcrevo em seguida uma passagem dum comentário da zazie ao meu post anterior: "este tipo de autoridade (parental) é desconhecido de quem não tem filhos...(envolvendo)... a capacidade de colocar a vida de outrém acima da sua".
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Não ocorreria a nenhum jovem adulto sem filhos a possibilidade de algum dia vir a sacrificar a sua vida por outra pessoa. Porém, quando este homem ou mulher se tornar pai ou mãe, essa dúvida acabará por lhe ocorrer ao espírito. Com o decorrer do tempo, aquilo que era inicialmente uma dúvida vai-se transformar numa certeza: se as circunstâncias da vida o exigirem, ela ou ele não hesitarão agora em sacrificar a sua própria vida pela de outra pessoa.