24.3.07

autoridade ausente


Quando, em 1986, eu regressei a Portugal depois de oito anos a viver num país anglo-saxónico, Portugal tinha acabado de aderir à União Europeia.
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Eu fiquei então com a esperança que, depois dos sobressaltos da Revolução de 1974, Portugal iria agora adoptar os modos de fazer dos países do norte da Europa e que, sem perder a sua identidade cultural, rapidamente se aproximaria deles.
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E, com a esperança que é própria de um jovem adulto, dediquei-me a divulgar os princípios do liberalismo e da democracia liberal, tal como ela é entendida nos países anglo-saxónicos e que eu tinha, por experiência, vivido.###
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Passados 20 anos, o saldo dessa mudança cultural que eu antecipava é, aos meus olhos, praticamente zero. Na minha opinião, Portugal nunca será capaz de praticar o liberalismo do tipo anglo-saxónico, nem de viver duradouramente numa democracia-liberal, também ela uma instituição anglo-saxónica ou protestante. A questão central, tal como já aqui deixei antever, está no entendimento da autoridade.
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Logo após o meu regresso, eu tive um sinal que me deveria ter deixado de pé atrás, não fosse eu tão jovem e optimista. Não existe trabalho mais ingrato para um professor do que vigiar exames. Eu estava habituado, no país onde vivia, a deixar uma sala cheia de estudantes na Universidade a fazer exame e a ausentar-me da sala para tratar de outros assuntos.
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Eu estava também certo que, durante a minha ausência, ninguém copiava. Porque, se algum estudante o tentasse fazer, ele seria prontamente disciplinado por um colega, o qual, em última instância, o denunciaria ao professor.
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Regressado a Portugal, deixei cerca de 80 alunos numa sala a fazer exame e ausentei-me por cerca de meia-hora. Quando, dias depois, fui corrigir os exames, detectei 15 pares de exames - um total de 30 alunos, e estes foram somente os que eu detectei - em que as respostas eram iguais umas às outras.
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Sem a presença de uma autoridade que se respeita e/ou se teme, a liberdade em Portugal dá sempre nisto.