Dele se diz que vende pai e mãe por um naco de poder, porventura pela sua especial habilidade em cativar as pessoas e em se descartar delas tão logo deixem de ter utilidade para as suas ambições. Ambições que têm o céu como limite, o que nunca consegue evitar que transpareça no seu discurso. Mas pede meças a qualquer um no arregaçar de mangas para a conquista do poder, pela persistência e capacidade de luta que demonstra como poucos. Persistência e capacidade de luta a que deve o recomeçar sempre a seguir a cada desaire, por maior que este seja. Nestas alturas, como aconteceu no célebre Congresso do Coliseu dos Recreios em Fevereiro de 1995, em que caiu a pique quando estava prestes a atingir o cume (neste caso, uma ambicionada vice-presidência), não consegue esconder a raiva pelo falhanço nem evitar afogar-se numa cascata de lágrimas, a que se segue profunda depressão existencial.###
É no entanto notável a sua tenacidade que o faz encetar a recuperação do zero logo no day after, se necessário a desenvolver a estratégia para a conquista da mais insignificante comissão política do mais obscuro núcleo. A partir daí, desenvolve como ninguém uma planificação à la longue para ir subindo degrau a degrau até ao topo. O seu próximo degrau é a liderança partidária e o topo a chefia do governo.
Ter obtido o poder por conquista e quase nunca por dádiva, faz dele um lutador e um adversário temível; ter sabido exercê-lo, ter alguma obra bem feita e melhor publicitada, faz dele um potencial vencedor em lutas futuras. A sua desmedida ambição a qualquer preço, mas sobretudo a coragem de ir a votos e ganhar, granjearam-lhe ódios por parte do "baronato" do partido, uma plêiade de "notáveis" geralmente com uma postura (que não necessariamente origem) sulista, elitista, estatista, centralista e muito pouco liberal, ao contrário do que ele afirmou no dito Congresso do Coliseu. Estes barões, sempre disponíveis na altura de distribuição de pastas governamentais mas que prudentemente se resguardam em épocas de oposição, estão em pânico com a perspectiva da tomada de poder por Menezes, alguém que sentem estar fora do seu controlo. Não é menor o desprezo que nutrem por Marques Mendes, mas infinitamente maior a capacidade de o influenciarem e de o convencerem da importância e do peso do seu apoio, na prática pouco mais que nulos.
Menezes tem agora a grande oportunidade de tomar o poder no partido, jogando a seu favor a confluência de vários factores:
- Marques Mendes está ferido de morte, vítima sobretudo das suas próprias asneiras e o aparelho do partido é implacável com derrotados;
- Rui Rio, o seu grande ódio de estimação (sentimento totalmente retribuído, mas sem exuberância), é talvez o único com a mesma tenacidade, capacidade de luta e hipóteses de o vencer, mas já anunciou estar fora da corrida, Não por falta de idêntica ambição, mas por simples calculismo. Convém-lhe a continuação de Marques Mendes em morte lenta, para aparecer como o salvador providencial em 2009 (há uns dias, foi pomposamente epitetado por "analista" amigo na SIC-N como o Cavaco do século XXI...);
- Menezes é talvez o único que já interiorizou a nova realidade das eleições directas e a reformulação estratégica que tal implica. Desde há mais de um ano, passou a ser um autarca virtual e candidato real em contactos permanentes com o PSD profundo de norte a sul. Contactos em que, qual Mário Soares laranja, se sente como peixe na água a usar os seus inegáveis poderes de sedução, acenando convenientemente com a cenoura do poder de que ele será o maior garante. Desde há mais de um ano que tem a funcionar bem oleada uma rede de contactos invejável (porventura algumas centenas de milhar de endereços electrónicos) para onde são remetidas as suas principais intervenções e as suas crónicas no "sulista" Correio da Manhã, o melhor jornal do país para fazer opinião. Sem esquecer, naturalmente, um site e um blogue, onde concentra todo o seu "pensamento político", uma mescla de liberalismo mal estudado com o habitual estatismo salvador mas que, no seu conjunto, constituem mensagens bem dirigidas e facilmente apreendidas pelos destinatários.
Aguiar-Branco, outro ódio de estimação de longa data, é a 3ª via de quem se fala e Menezes ansiará tê-lo (de novo) como adversário. Não só porque a divisão de votos lhe garantiria a vitória, mas pelo especial prazer em lhe infligir uma derrota humilhante.
Menezes tem porém contra si uma enorme instabilidade emocional e um imenso narcisismo que o leva a menorizar todos, incluindo os seus apoiantes, o que já lhe tem feito perder corridas à beira da meta. Se desta vez não cometer erros, terá 2 anos para se mostrar como líder da oposição e será, sem dúvida, infinitamente mais agressivo e eficaz do que Marques Mendes. E até 2009, tornará o aparelho inexpugnável, mesmo para Rui Rio.
Neste momento, está indiscutivelmente na 1ª linha da grelha.