27.8.07

A ETA voltou a ser terrorista?

Tenho acompanhado no PÚBLICO o evoluir dos nacionalismo e do terrorismo em Espanha. Os jornais portugueses são particularmennte fiéis às versões oficiais de Madrid nesta matéria. Sobretudo se em Madrid estiver um governo PSOE. Repare-se que há poucos meses a ETA nem sequer era JÁ DESIGNADA EM pORTUGAL COMO terrorista. Era um movimento independentista. Agora até tem bases algures no Algarve simplesmente porque o ministro Rubalcalba o sugeriu. Note-se que Rubalcalba chamava homens de paz ao mesmo Batasuna que agora diz que não tem autonomia da ETA nem para pedir um café.


ELES NÃO MENTEM NEM SE ENGANAM (25 D JUNHO DE 2007)

Existe um lugar na Europa onde há quem não compre os jornais da sua preferência para que os vizinhos ou o carteiro não possam identificar a sua ideologia. Nesse mesmo lugar os filhos de alguns candidatos a cargos municipais ou governamentais escondem o nome dos pais para não serem perseguidos nas escolas e vexados ou agredidos na rua. Esse lugar é o País Basco espanhol. Um lugar onde não ser nacionalista pode converter num inferno a vida de qualquer um.
Apesar da proximidade geográfica tendemos a ver o fenómeno da ETA como um anacronismo dum bando de desencaminhados, dotados duma estratégia aparentemente errante e errada. Infelizmente isto não é verdade. Aliás se fosse verdade a ETA já não existiria. A ETA não é um grupo de guerrilheiros jovens que perdeu o tino nas herriko tabernas ao escutar histórias de fugas à polícia e ainda não percebeu que vive na desapaixonada UE. Ao contrário do que gostaríamos de acreditar a ETA sabe muito bem o que quer e o que faz. E habitualmente não mente nem se engana. Quem se quis fazer enganado foi Zapatero. E o seu engano começou antes sequer de se ter tornado primeiro-ministro quando deixou que dirigentes do PSOE começassem a negociar com a ETA uma trégua. Negociações estas que iam contra a própria linha do PSOE, que impulsionara o Pacto Anti-Terrorista em que os socialistas espanhóis juntamente com os populares acordavam uma estratégia comum para combater o terrorismo. E continuou a querer enganar-se quando, já primeiro-ministro, deu o seu aval àquilo que a ETA chamou simplesmente cessar-fogo e que ele mesmo começou a chamar processo de paz. Um processo que transformava simultaneamente a terrorista ETA num exército e o PP num grupo de radicais que insistia em falar do pacto Anti-Terrorista, num momento em que oficialmente já não existiam terroristas.
O que aconteceu a seguir foi um acumular de erros: as vítimas foram postas no mesmo plano dos terroristas, a ETA passou a ser designada como grupo independentista, simultaneamente os vidros partidos, as cartas de extorsão e as ameaças que os etarras continuaram a fazer chamavam-se incidentes. Note-se que mesmo quando se deu o atentado de Barajas, Zapatero preferiu falar de acontecimentos trágicos e não de terrorismo. Pouco a pouco tornava-se mais era evidente que o governo espanhol estava pendente das declarações dumas criaturas que às segundas, quartas e sextas são conselheiros culturais do governo basco, professores de euskera ou controladores sindicais e que às terças, quintas e sábados enfiam uns capuzes e filmam-se enquanto prometem não deixar de matar até que se constitua a república de Euskal Herria. Ao Domingo param para ir à missa pois não só são muito devotos como não esquecem que muitos dos padres que lhes dão a hóstia estão disponíveis para os esconder a eles e às armas que nunca entregaram.
Afinal a ETA não existiria sem o apoio ou o silêncio da igreja católica basca e muito menos sem a enorme teia de cumplicidades e chantagens que urdiu com o empresariado e as lideranças políticas dos nacionalistas bascos.
Convém não esquecer isto quer agora neste verão em que a ETA voltou a ser designada como terrorista. Tal como não o deveríamos ter esquecido há alguns meses quando personalidades como Mário Soares eram apresentadas como os mediadores desse processo que se chamou de paz.