![](http://www.stel.ru/stalin/images/1939-2-VIIcongress-Comintern400.jpg)
Acho muita graça ao esforço atormentado da Nova Esquerda que faz questão de se demarcar da figura de José Estaline. Sobretudo pela insuficiência endémica dessa tentativa que mais se assemelha a um branqueamento angustiado.
Não me refiro aos socialistas que sempre pugnaram contra as ditaduras - mas, historicamente, são poucos.
Falo dos marxistas-leninistas e seus herdeiros, reconhecidos ou não, que assumiram aquele “caminho para o socialismo” e que pretendiam a construção de um “homem novo”.
Os que estavam de acordo com os fins e que nunca rejeitaram a qualidade dos meios que os regimes totalitários lhes colocaram à disposição para os atingirem.
Ninguém, seriamente, poderá hoje negar que Estaline foi um continuador legítimo e concludente das ideias e das práticas de Lenine. Desde o esboroar da URSS que milhares de documentos o comprovam e centenas de estudos o afirmam irrefutavelmente (saliento apenas um dos primeiros a fazê-lo – Dmitri Volkogonov, “Lenin, Life and Legacy”, HarperCollins, Londres, 1994).
Nunca poderá colher a tese que sustenta que aquilo que Estaline fez não correspondia à perfeição teórica do marxismo leninismo – foi Estaline quem construiu esse modelo numa sociedade concreta. E em todos os momentos da sua tentativa, fez um esforço consistente para seguir fielmente os dogmas fundamentais da sua ideologia.
A piedosa fábula que asseverava uma putativa “traição” de Estaline aos ideais da revolução russa e do socialismo leninista não tem, actualmente, qualquer hipótese de sustentação. Trata-se de uma alegação que remonta às primeiras dissidências trotskistas e que se sedimentou com a viragem na táctica política soviética protagonizada por Khrushev.
Estaline foi, de facto, quem tentou implementar na realidade os ensinamentos da teoria marxista-leninista. No planeamento económico, na visão global da sociedade, no modelo das explorações agrícolas, na organização industrial. Estaline seguiu de perto as políticas iniciadas por Lenine quanto à ferocíssima repressão das múltiplas etnias que existiam no espaço geográfico da União Soviética. Foi, também, um excelente aluno de seu mestre no esmagamento paranóico de tudo o que se assemelhasse a oposição à sua pessoa.
Estaline e Lenine tinham a mesma visão do Homem e comungavam do mesmo desprezo pelos mais elementares direitos das pessoas.
Estaline terá sido o líder do regime político que mais pessoas assassinou em toda a história da humanidade. Ultrapassando de longe exemplos monstruosos como o nazismo de Hitler e o outro de um seu fiel sicário ideológico, Phol Phot.
Lenine apenas não chegou a atingir os máximos de horror de Estaline porque morreu antes de o conseguir. Tentar encontrar as discrepâncias entre a obra de Estaline e as minudências dogmáticas do marxismo-leninismo é um comportamento inconsequente e historicamente inútil.
Estaline é Lenine com trinta e tal anos de poder absoluto. Estaline é o marxismo-leninismo posto em prática do modo mais “perfeito” que lhe foi possível.
O falhanço daquele regime e a subsequente demonstração da abominação das suas personagens são a confirmação dos fundamentos erróneos e anti-humanos dos pressupostos ideológicos em que assentavam.
Faz hoje 51 anos que morreu um tirano, i. é um homem com uma ideia dramaticamente iludida mas armado com um aparelho estatal fortíssimo, com capacidade e vontade de coagir e sem quaisquer restrições jurídicas ou éticas.
Foi o princípio do fim daquela ditadura e da ideologia em que se baseava.
A Nova Esquerda tem este vício originário no seu código genético. Livrar-se dele pressupõe abandonar o anacronismo que é o socialismo.
Sem mais desculpas de mau pagador.