
No estado geral da bovidade nacional, foi um prazer ouvir Avelino Ferreira Torres a dissertar no jornal da noite da TVI. Imagino que não seja politicamente muito correcto afirmar que se acha graça ao homem, aos pontapés que enfiou numas cadeiras junto ao relvado de um estádio com o seu nome e aos insultos proferidos, de dedo em riste, a um árbitro com físico para lhe enfiar dois ou três irrecusáveis pares de estalos. Tudo coisas que qualquer adepto ferranho de futebol (não é especificamente o meu caso) não tenha já sonhado fazer...
Mas o mais admirável no homem, que é um símbolo do nosso centenário caciquismo local, foi a falta de respeito e de medo com que tratou a comunicação social, representada pela TVI e personificada na Manuela Moura Guedes, poder ao qual se agacham todos os políticos da nossa praça. Começou por explicar à entrevistadora que ele há muitas formas de agressividade, e que a que ela vem exercendo há muitos anos nas televisões (que vitimou até o agreste Miguel Sousa Tavares) é muito mais nefasta e de consequências bem mais graves do que ar uns pontapés e insultar uns árbitros durante um jogo de futebol. E acabou a oferecer-lhe os seus óculos, o seu ordenado de presidente da Câmara do Marco e a (re)afirmar que preferia ter dado os mesmos pontapés aos membros do Conselho de Arbitragem do que ao vitimado mobiliário gimno-desportivo.
A poucos dias de começar a ser julgado pelos tribunais portugueses, numa posição em que qualquer político português tentaria passar uma imagem de bom e manso rapaz, as investidas verdadeiramente kitch deste figurão evidenciam uma consciência tranquila ou uma inconsciência total. De todo o modo, um regalo.