8.3.04

"Por detrás de uma grande mulher, há sempre outra ...mulher"!!?!

Sinceramente, já não há paciência!
Tens toda a razão, Sara!

De relance, logo de manhã, enquanto alinhavava uns trabalhos no escritório, com a televisão ligada, fui ouvindo vagamente os discursos-chavão do dia televisivo: a mulher, a mulher para aqui, a condição da mulher para acolá, etc., etc., etc.... Eis, senão quando algo mais insólito me faz parar: a arquitecta Helena Roseta, num determinado programa televisivo da manhã – e num cenário parecido com uma feira-popular em estúdio, com uma banda, um palhaço aos saltos, o padre “estrela de televisão” Borga, um apresentador tipo clone (apesar de tudo, mal conseguido) de Jorge Gabriel e a eterna jovem Sónia Araújo – lança, com um ar intelectual-sério, em contraste com o ambiente, a seguinte frase: “(...) porque eu digo, por de trás de uma grande mulher, há sempre outra grande ...mulher”!

Comecei a prestar mais atenção: o mesmo chorrilho de lugares-comuns já repetidos até à exaustão, os mesmos chavões de sempre reclamando melhores condições de vida para as mulheres (e para os homens?!), o mesmo discurso tipo “crónica feminina”, etc., etc., ... . Mas principalmente o mesmo ar de coisa menor, de “politicamente correcto” (variando entre o estilo "sisudo-preocupado" a despropósito de Helena Roseta e o estilo “sorrisos para coisas engraçadas” de Sónia Araújo), de que os assuntos da mulher são um gueto, o mesmo equívoco (inconsciente) de sempre!
O que porventura há a fazer relativamente a uma suposta melhoria da condição feminina (em rigor, humana) é reclamar-se (reclamarem as próprias) condições para uma efectiva igualdade de direitos (se é que não existe já! – pelo menos, em certas áreas), e não fecharem-se em volta de uma suposta lógica feminina contra o mundo dos homens (que, de resto, maior parte das mulheres que conheço e conheci não partilha), terem uma visão redutora do mundo, querem ser diferentes em direitos, reclamando e professando uma espécie de pensamento de quotas e o consequente tratamento de menoridade que, implicitamente, lhe anda subjacente!
É sempre mau quando se escolhe a diferença (um suposto direito natural à diferença) à custa da igualdade, de um efectivo Direito à Igualdade!


Enfim, tinhas razão, Sara!: trata-se o dia da mulher, como o dia dos namorados, o dia dos animais, o dia dos cozinheiros de filós, o dia da sameirinha em pista coberta, o dia das minoria das minorias recônditas, etc., etc., etc. Só falta (atenção, caros comerciantes!) institucionalizar-se também socialmente uma prenda própria para o dia da mulher!