«O ponto mais espantoso do Acórdão do STJ que atenuou a pena a um condenado por abuso sexual de menores é o da pretensa “colaboração” da vítima.
Provou-se que o menor foi com o abusador por medo – “mas ele não podia ter dito que não?” pergunta o juiz neste jornal. Há aqui uma visão antiga: considera-se a vítima um auxiliar do crime porque não afugentou o criminoso.
A falta de vontade livre e o terror que o agressor inspira tornam-se meros pormenores. Daí até encarar a vítima como provocador é um simples passo. Que foi dado, durante muitos anos, na violação de mulheres. “Elas” tentavam o macho latino e este, coitado, seguia o seu instinto. Tudo porque “elas” (agora eles) não diziam “não” tão claramente como gostariam alguns doutos juízes.
Acontece que o medo tolda o discernimento de muito boa gente. Embora não seja a única razão.»
* Publicado no Correio da Manhã