Comparações erróneas e descontextualizadas são muito frequentes, entre nós, sobretudo quando está em causa o esbulho legal levado a cabo pelo Estado e que podemos designar por fiscalidade. Tal sucede, novamente, no âmbito de um suposto estudo encomendado pelo Governo, elaborado por peritos contratados também pelo Governo, para sugerir formas possíveis de se atenuar o buraco financeiro da Sáude. Em rigor, do SNS (Sistema Nacional de Saúde).
Curiosamente, como seria de esperar, tal estudo e respectivas conclusões parecem incidir apenas sobre o que pagam, ou não pagam, os utentes - ou seja, apenas sobre as eventuais receitas, nada dizendo sobre as irracionalidades do funcionamento do próprio sistema, a estrutura das carreiras do pessoal do SNS, as regras de acesso ao próprio SNS - enfim, em nada perspectivando a despesa existente....Aparentemente, portanto, a lógica de reforma do nosso SNS não passará pela racionalização das despesas do seu funcionamento, mas sim pela manutenção do actual nível de gastos, obtendo-se, desesperada e concomitantemente, mais receitas. ###
Voltando às comparações erróneas (e mal intencionadas), parece que o estudo conclui (ou observa) que "Portugal é dos países do mundo desenvolvido mais simpáticos para os contribuintes. Na Espanha, na França e no Reino Unido as despesas com a Saúde, pura e simplesmente, não são dedutíveis no IRS".
Falta, com efeito, comparar o nível de satisfação que os sistemas de sáude referidos garantem aos respectivos utentes, a sua eficácia e o âmbito da sua cobertura, com aquilo que o nosso SNS nos oferece; falta comparar o nível médio de rendimento per capita nos Estados referidos (no estudo noticiado), com o português; falta, enfim, comparar a taxa de esforço fiscal efectiva que os cidadãos espanhóis, franceses e britânicos suportam, com a que onera os portugueses (e, de uma vez por todas, deixarmos de referir, "para o ar", meras taxas nominais).
Em suma, falta sermos mais rigorosos e honestos, neste tipo de comparações!
P.S. - Infelizmente, já tive necessidade de me socorrer dos sistemas de saúde francês e espanhol...e, no fundo, isso ainda me faz notar mais a falácia deste tipo de comparações!