9.6.07

Dia.... DE!

As forças republicanas criaram uma das maiores operações de propaganda já orquestradas, com as comemorações, em 1880, do 3º centenário da morte de Camões. Exaltou-se de forma quase fanática, não o seu génio literário (que nunca justificaria tanto entusiasmo popular), mas sim o mito nacionalista da saga, da gesta e da identificação dos portugueses com antepassados gloriosos. Passado que obviamente, se pretendia repetir, pudessem ser criadas as condições.... Foi um mito que pegou de estaca e no rescaldo da vitória republicana de 1910, com o fim dos feriados religiosos, em Lisboa substitui-se o popular Santo António pelo Dia de Camões como feriado municipal.
Evidentemente, o regime seguinte, aproveitou, bebeu e mitificou ainda mais essa imagem patrioteira, com a passagem a feriado nacional e tornando explícitos alguns elementos que os republicanos se tinham acanhado de assumir, como seja o Dia de Portugal, (para quem até se arranjou um anjinho), e o da raça, qual pedigree lusitano entre as nações.
Mais moderados, mas sem rebuço de manter uma qualquer exaltação pretensamente unificadora, a democracia lá se virou um pouco mais para o aspecto literário do homenageado, abdicou da raça e adicionou-se um folclore mais modernaço: as comunidades portuguesas. Legítimas herdeiras do espírito inicial da comemoração, pois não são, mais modestamente é certo, aqueles que levam o nome de Portugal aos 4 cantos do mundo, como o fizeram os grandes de antanho? O estuque ideológico, a argamassa nacionalista é a mesma. Só a cor exterior parece ligeiramente diferente.
E pronto, lá se arranjam umas cerimónias, criam-se uns tantos comendadores, enfarpelados com as suas luzidias sameiras, dá-se umas palavrihas de circunstância e já está Portugal comemorado. Seja lá isso o que for. E tenha algum interesse que seja.
Ou vai-se até á praia, que é lugar mais aprazível de partida para descobrimentos.