“Em 1982 havia duas bombas de gasolina em Bucareste. À hora de ponta, quase não havia carros no Bulevardul Blacescu. Um Dacia, um táxi, um carro do governo, nada mais. Hoje, é esta confusão”.
O taxista que nos conta a história recente da capital romena fala inglês fluente. Aprendeu na escola, há mais de 30 anos. Conduz um taxi desde o tempo do comunismo. Primeiro para uma empresa do estado, depois da revolução de 1989 para um patrão e agora por conta própria. Trabalha das 6:00 às 14:00. Depois descansa.
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Fala-nos de futebol. Gosta do Sporting, por causa de Boloni e de Nicolai e porque uma vez ganhou 7-0 a um clube qualquer que ele detesta. Depois fala-nos das taxas de juro. Estão a descer. Ainda andam pelos 10%, para a compra de casa, mas já viu bancos a anunciar 7%. A inflação está a baixar e as taxas acompanham. E como a Roménia vai entrar no Euro, ainda vão baixar mais.
Entramos no Bulevardul Unirii e logo o Palácio de Ceasescu aparece, enorme, esmagador, estrategicamente plantado no topo da grande avenida. Ou então, ao contrário, a grande avenida é que foi plantada como plateia para o palácio.
"Tem mais de 2000 quartos", conta-nos. “Podem visitar, eles mostram 4 ou 5 quartos, só. Se quiserem ver todos têm que vir viver para cá 3 anos”.
E então, Ceasescu, o que é que dizem dele hoje, perguntamos.
“Fez coisas boas e coisas más. Todos os ditadores são assim, fazem coisas boas e coisas más. Quando a Rússia invadiu a Hungria e a Checoslováquia, Ceasescu avisou. Ao primeiro soldado, é a guerra. E eles não entraram. Depois arrasou a zona histórica para fazer estas avenidas e agora não temos turismo nenhum. Não há nada para ver. Ceausescu foi bom, ao princípio, mas depois fez muitas asneiras. Não percebia nada de economia.”
E agora é melhor?
“Nos primeiros 5, 6 anos da revolução, foi terrível. Desemprego, confusão, ninguém sabia o que fazer. Depois começou a melhorar. Agora já está muito melhor, para metade dos romenos. Para 2/3, na capital. Para os outros ainda está na mesma. Mas as coisas estão a melhorar e há alguma esperança, os jovens já pensam melhor que os velhos. It’s getting better, better.”
A cultura geral deste homem é inesperada, para um português habitaudo aos táxis de Lisboa. Sabe de tudo, fala de tudo e gosta de falar de tudo. Diz-se que os três maiores sucessos que os regimes comunistas alcançaram foram a cultura, a saúde e o desporto. Pelo menos no que diz respeito à cultura, não custa acreditar. Os três grandes falhanços também são óbvios. O pequeno-almoço, o almoço e o jantar.