Nos relatos acerca dos portugueses de quinhentos encontra-se um modelo que hoje parece estranho: o português orgulhoso de si e que nunca o esconde. De Afonso de Albuquerque a Luís de Ataíde, abundam figuras que contrastam com aquilo que hoje somos.
Mourinho parece uma recordação deslocada desses tempos. Gosta de vencer e de fazer por isso. Sabe que é o melhor e não o disfarça. Hoje quase ninguém gosta disso. Apreciam-se atitudes prenhes de falsas modéstias. Estima-se quem finge as emoções que não sente. Não se aplaude quem vence mas sim quem herda. E os “simpáticos” são adorados. Os tipos “porreiros”. Mourinho não é nada disso. Não herdou, fez-se à sua custa, aposta no seu mérito, arrisca, não finge, não é humilde e nunca quis ser agradável. Não gosta dos medíocres, dentro e fora do campo. E estes nunca lhe perdoaram: aqui, na Inglaterra ou na Rússia.
* Publicado no Correio da Manhã