Depois dele, é como se a nação portuguesa nunca mais se tivesses encontrado consigo própria, é como se nunca mais se tivesse sentido na sua pele. A partir do Marquês de Pombal, a história de Portugal torna-se uma espécie de algazarra permanente - entrecortada por alguns períodos de acalmia -, uma sociedade profundamente dividida, onde predominam a intolerância, o radicalismo e frequentemente o ódio. É um filme com a duração de 250 anos, feito de revoluções, contra-revoluções, revoltas e contra-revoltas, golpes de Estado, levantamentos populares, confiscos, reformas e contra-reformas, exílios, um regícidio e alguns assassinatos políticos. ###
O Marquês de Pombal foi o pai das causas fracturantes no país e deixou-o dividido para sempre. Ele assumiu as suas causas com o mesmo sentimento de superioridade moral, a mesma intolerância e o mesmo ódio aos seus opositores que os seus descendentes modernos - e frequentemente eliminou-os. Ele teve duas causas principais - os jesuítas e a nobreza - que representavam a elite intelectual e a elite financeira do país. A partir de Pombal, nunca mais houve elites em Portugal, excepto talvez, por um breve período no século XX.
Numa campanha de opinião pública e panfletária que desafia toda a imaginação, mesmo por padrões modernos, o Marquês demonizou os jesuítas - e geralmente, todo o clero - fazendo deles os principais responsáveis pelo atraso cultural do país. Expulsou-os, mandou executar alguns - e, pormenor não diminuto, confiscou-lhes as riquezas. Depois de ter saneado todos os professores jesuítas da Universidade, que ele acusava de a dominarem, foi ele próprio lá sentar-se no lugar deles.
A nobreza era, para o Marquês, a principal culpada do atraso económico do país. Perseguiu nobres, mandou executar alguns - e sempre o mesmo pormenor unificador, confiscou-lhes as riquezas. Para um homem que, tendo nascido de condição modesta, detestava a nobreza e a perseguia, ele próprio não hesitou, como fez em relação aos jesuítas, apropriar-se das posições que ele próprio combatia. Acumulou dois títulos nobiliárquicos, primeiro o de Conde de Oeiras, e depois o de Marquês de Pombal.