7.4.07

Sobre os economistas indígenas

Há várias constantes nos últimos 100 anos de Portugal - uma delas, a principal sem dúvida, é a péssima situação económica e financeira do país. Melhor, das contas do Estado que, depois, por fatalidade volitiva, se transforma na ruína dos cidadãos portugueses.
Para além de um breve interlúdio durante alguns anos da ditadura salazarista (já agora, seria bom que o adorador de Oliveira Salazar, várias vezes assim confessado, o dr. Pedro Arroja, se recordasse que este era jurista e professor de direito -apenas a título de alguma réstea de coerência intelectual) e que logo se esvaiu, as finanças públicas estiveram sempre mal, a economia pior e os cidadãos portugueses, ontem e hoje, sentem-se pobres em comparação com os seus vizinhos europeus. As políticas económicas e financeiras foram quase sempre dirigidas por ilustres economistas: eles experimentaram todo o tipo de teorias (excepto as liberais, bem entendido), defenderam o incremento do investimento público, sustentaram o aumento da carga fiscal, ampararam o crescimento do aparelho administrativo do Estado com o mesmo fulgor com que hoje exigem o seu emagrecimento (às vezes, muitas vezes, os mesmos), promoveram receitas variadas garantindo-as como as mais seguras e eficazes.
Tudo falhou.
A uma teoria sucedeu-se outra e a seguir o seu contrário. Economistas tidos como os mais reputados deram a cara por remédios económicos que se revelaram um fracasso completo. Impunemente, continuaram publicamente a defender o que lhes dava na real gana e não me lembro de ouvir um só confessar que tinha errado quando teve poder de decisão público nas suas mãos (ver, como exemplo, o último Prós & Contras). Ainda que a situação esteja cada vez pior eles estavam carregadinhos de razão quando por lá passaram...
A culpa não pertence a uma só classe profissional, evidentemente - mas é inegável que grande parte da responsabilidade do mal em que estamos se deve aos economistas portugueses. Para mim, um dos exemplos mais cabais da irresponsabilidade colectiva no exercício de cargos públicos da nossa história recente e presente.
Claro, eles nunca o reconhecerão e continuarão, impavidamente, a sua insana experimentação em cima de todos nós...