A tradição protestante é uma tradição de autoridades iguais. Pelo contrário, a tradição católica é uma tradição de autoridades hierarquizadas. Por isso, na família protestante, as funções de representação competem igualmente aos dois, marido e mulher. Na família católica, em situações formais e perante terceiros, é geralmente o homem que fala, enquanto a mulher observa.###
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Para um observador exterior, dir-se-ia que a mulher tem mais poder e influência na família protestante do que na família católica. Puro engano. Mesmo em funções de representação da família, e por um mecanismo que não interessa aqui descrever, o homem católico, a prazo, sabe que não pode proferir um palavra que a sua mulher não aprove - uma restrição que não existe para o homem protestante.
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A governação da casa numa família protestante compete aos dois, marido e mulher, em partes iguais e em pé de igualdade. Pelo contrário, a governação da casa na família católica é feita através de um sistema de autoridades hierarquizadas, competindo a autoridade executiva à mulher e a autoridade suprema ao homem - sendo esta, porém, uma autoridade largamente simbólica.
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Por entre os milhares de decisões que, em cada mês, é necessário tomar para governar uma família, é a mulher que toma a esmagadora maioria dessas decisões numa família de tradição católica, enquanto que numa família de tradição protestante a repartição dessas decisões tende para a igualdade.
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Numa família de tradição católica, a mãe é uma espécie de Primeiro-Ministro e o pai uma espécie de Presidente da República, mas a analogia termina aqui, porque o pai e a mãe são autoridades livres em casa, enquanto o Primeiro-Ministro e o Presidente da República não o são no país - certamente que não num país democrático.
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No exercício das suas funções executivas, a mãe é a autoridade omnipresente em casa de uma família de tradição católica, e o pai uma autoridade distante. Na família de tradição protestante não existe esta distinção. A ideia do pater familias na tradição católica, do homem que chega a casa e se senta no sofá a ler o jornal e a ver a televisão, enquanto a mulher se desmultiplica em inúmeras tarefas que vão desde tratar dos filhos até fazer o jantar e arrumar a casa, não é uma ilusão.
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Porém, não foi ele que reclamou o jornal e o sofá. Foi a sua própria mãe, em primeiro lugar, que o sentou lá - e, em segundo lugar, a sua própria mulher. A mãe nunca o educou para o desempenho de tarefas domésticas, como educou as suas irmãs. Mais tarde, já casado, sem preparação para essas tarefas, mas prenhe de boa vontade, quando vê a sua mulher sobrecarregada de trabalho doméstico, e entra na cozinha para a ajudar, a reacção mais provável que vai encontrar é: "Olha, vai-te embora daqui que só me estás a atrapalhar".
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Na tradição católica, a mãe é, a grande distância do pai, a principal educadora dos filhos. Na tradição protestante, essa tarefa é repartida pelos dois em partes iguais. Daí a ligação extraordinária que, na tradição católica, os filhos possuem à mãe - uma ligação que não é sequer comparável na tradição protestante. Para uma pessoa da tradição católica, a pior ofensa que lhe podem fazer é aquela que menciona a sua mãe.
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Na tradição católica, a função principal do pai, para além da representação da família, é a de assegurar a unidade da família. Existem ameaças à unidade da família e tentativas de subverter a sua ordem, as quais, geralmente, partem dos filhos adolescentes. Na sua acção de autoridade executiva, a mãe é normalmente a primeira vítima dessas acções de subversão.
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É nestas alturas que a autoridade do pai é decisiva. Tal como o Presidente da República é o chefe supremo das forças armada de um país, também o pai é o detentor supremo das forças de coacção na família, que ele exerce, ou ameaça exercer, através do seu porte físico superior. Por isso, a função principal do pai na família de tradição católica é estar lá, afim de desencorajar - e, no limite, reprimir - usando a violência física se fôr necessário, toda a tentativa de subversão da ordem estabelecida.
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Na tradição protestante, esta hierarquia e separação de autoridades não existe, a autoridade permanece difusamente repartida entre o pai e a mãe. Nesta tradição, não se pode dizer que a mulher manda na casa; ela parece mais uma sócia da casa, possuindo uma quota de 50%, e em que o seu marido possui a outra quota de igual valor. Na tradição católica, pelo contrário, a mulher é inquestionavelmente a dona da casa, toda a a família gira à volta dela - uma verdadeira patroa.