5.9.07

Invenções vagamente 'apaneleiradas'

Fui coagido a comprar uma. Não sei se é do formato 'bomboca' das pastilhas de café, mas ainda não vi mulher alguma que não se desfizesse em suspiros de ansiedade consumista diante desta invenção da Nestlé.
A loja parecia uma ourivesaria. Meninas fardadas que andavam em bicos de pés, 'bombocas' coloridas por todo lado, as máquinas expostas como se fossem a última obra de um grande relojoeiro. Fiz perguntas. De imediato comecei a ficar levemente irritado com o tom afectado das explicações - parecia que se estavam ali a tratar de recônditos segredos do Universo e não de máquinas de café. Cada vez mais forçado, pedi preços: inundaram-me com uma amálgama de hipóteses e sub-hipóteses que me confundiram completamente. E irritaram-me mais. Sentindo-me o último dos pacóvios dirigi-me ao balcão pejado de teclados de computadores e fiz a compra. Aí, o ar pomposo da loja caiu por terra: «não temos multibanco nem Visa». Ironizei o mais que pude e paguei. Mas o fiasco não ficou por aqui: «não lhe podemos dar o recibo porque o sistema informático foi abaixo», disse-me uma carinha sorridente, «mas irá para a sua morada brevemente». Começava seriamente a pensar em engrossar o tom da coisa.
Depois, pediram-me os dados. Pessoais e outros. «Para quê?», perguntei. «Passará a fazer parte da nossa família, o Clube Nespresso». Assegurei à minha interlocutora que o único clube que me interessava pertencer era o FCP - e já sou membro dessa gloriosa comunidade há 30 anos. «Mas só poderá efectuar as compras do café se integrar o nosso Clube», informaram-me. Quê? «Então não posso comprar o maldito café sem pertencer a essa espécie de seita?», disse, deliciando-me antecipadamente com a polémica em perspectiva. Mas não estava sozinho. Mais: este era um dos muitos assuntos onde a minha vontade em implicar era completamente irrelevante para quem detém o verdadeiro poder de decisão política, i.e. a minha mulher. Rosnando desconsiderações várias para com o ambiente em redor, lá terminei a função e fui beber um cimbalino ao café de sempre, servido como sempre e acompanhado com a conversa de sempre.