2.2.07

O nível do subsolo

Há muitas formas de desvirtuar um referendo. É possível enredar a questão que vai a votos em artifícios retóricos tentando confundir tudo e todos. Também se chega lá afirmando que nada do que é perguntado está perto do essencial. E assegurando que a pergunta esconde um sem número de perfídias, habilmente camufladas por detrás da gramática e apenas visíveis para iniciados devidamente legitimados. Outros chegam ao ponto de anunciar o fim dos "valores", da "moral", do "direito" e da "civilização" tal como os conhecemos, caso a sua posição não seja vencedora.
Tudo isso e muito mais foi usado e abusado pela campanha do "Não".
Mas nunca, até agora, se tinha atingido o ponto sem retorno da sordidez como aqui: a instrumentalização de crianças numa campanha eleitoral. Sem consentimento de ninguém, evidentemente, sem a compreensão das próprias.
É provável que quem julga deter a verdade na sua mão direita, para os que ostentam certezas absolutas e indisputáveis sobre as questões mais difíceis deste mundo (e do outro), nada disto pareça excessivo - no fundo, para os apóstolos da infalibilidade dos seus próprios dogmas, todos os meios são idóneos e possíveis para atingir o fim pretendido. Até as crianças, senhores...

Publicado no Sim no Referendo