9.3.07

covenant


Na tradição protestante, Deus estabelece um compromisso (covenant) directamente com cada homem: "Tu cumprirás e farás cumprir a Minha Palavra e Eu confiro-te autoridade para a fazeres cumprir". Nesta tradição, cada homem é uma autoridade. E, no exercício desta autoridade para fazer cumprir a palavra de Deus, ele é inteiramente livre. A liberdade deriva da autoridade. O homem protestante é, assim, uma autoridade livre.###
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Na tradição católica é diferente. O compromisso (covenant) não é estabelecido com cada homem, mas apenas com os homens que estão na hierarquia da Igreja - os bispos, incluindo o Papa. Cada homem cumpre as suas obrigações para com Deus obedecendo à autoridade da Igreja e só é livre enquanto obedecer à autoridade da Igreja, a qual representa a autoridade divina na terra.
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O homem protestante, então, está habituado a ser livre sob a protecção da autoridade divina, a quem ele presta directament contas - daí a sua obrigação de accountability. E a sua liberdade é uma liberdade empenhada, porque existe afim de que ele possa fazer cumprir a palavra de Deus - daí a sua obrigação de commitment.
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Pelo contrário, o homem católico só está habituado a ser livre sob a protecção de uma autoridade terrena (a Igreja). Ele presta contas à autoridade terrena, não a Deus. E a sua liberdade está empenhada à autoridade terrena, não a Deus. É em relação a uma autoridade terrena, não em relação a Deus, que ele exerce as suas obrigações de accountability e de commitment.
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Então, e como reage o homem católico quando, por qualquer razão, desaparece a autoridade terrena que o protegia e o tutelava?. Neste caso, ele não tem de prestar contas a ninguém (accountability) nem se sente responsabilizado perante ninguém (commitment) e comporta-se, então, como o menino-mimado ou traquinas que temporariamente se vê liberto da tutela dos pais. Ele viola todas as regras da casa - bate nos irmãos mais novos, escreve nas paredes do quarto, come com as mãos, serve-se de tudo o que existe no frigorífico - e troça da autoridade ausente, fazendo caretas que imitam a expressão que o pai teria se o visse a fazer tudo aquilo.
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Para o homem protestante, a liberdade está sempre ligada à autoridade e é indissociável dela e do cumprimento dos seus deveres para com a Autoridade. Pelo contrário, para o homem católico a liberdade plena só se atinge quando não existe autoridade, pois só então ele não tem de prestar contas a ninguém nem tem obrigações para com ninguém. A liberdade degenera, então, em licenciosidade.