A direita portuguesa vive, desde a morte de Francisco Sá Carneiro, à sombra de Aníbal Cavaco Silva.
Nos anos imediatamente seguintes, andou obcecada com o eventual regresso ao poder do austero professor de economia, tal como décadas atrás suspirara pela ascensão de António de Oliveira Salazar. Quando Cavaco chegou ao governo, por lá se deixou estar por mais de dez anos, reduzindo o PSD à sua pessoa e esvaziando o CDS à absoluta insignificância. Ambos os partidos se conformaram com isso e, no fim de contas, agradeceram ao professor por lhes retirar a responsabilidade enorme de pensar. Abandonado o governo e falhada a primeira aventura presidencial, a direita passou a viver, no PSD, dos seus herdeiros pessoais, sucessivamente, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes e Marques Mendes, todos filhos pródigos de Cavaco, seus ex-ministros ou conselheiros pessoais, enquanto que o CDS cresceu à conta de um líder, Paulo Portas, que se fez como referência de um contrapoder imaginário à sua pessoa. Muito antes de se realizarem as últimas eleições presidenciais, já a direita sonhava com o regresso do Messias, na expectativa de que ele pusesse o «país na ordem» a partir de Belém. Actualmente, nem no PSD, nem no CDS há autonomia em relação ao Presidente, que, pelo seu lado, segue placidamente o seu programa, muito próximo, por ora, do programa do governo socialista.###
Alguém, em tempos, comparou Cavaco Silva a um eucalipto que seca e torna árido todo o terreno à sua volta. Eu não sei se esse resultado se deve mais a Cavaco, se à índole medíocre da nossa direita. A esse propósito, quando recentemente António Pires de Lima dizia que a direita se tinha de preparar para voltar, um dia, ao governo, de modo a não repetir as asneiras da sua última passagem por lá, a ideia pareceu-me sensata e muito oportuna. Alguns acontecimentos posteriores, um certo interesse em debater ideias para o país e, sobretudo, para si própria, uma abertura evidente, pela primeira vez na sua história, ao pensamento liberal, algum desprendimento em relação às pessoas, diga-se, às pessoas de sempre, levaram-me a pensar que, desta vez, a direita portuguesa estava num processo de renovação, provavelmente o primeiro feito a sério desde 1974. Os acontecimentos das últimas semanas, o regresso à fulanização, a sensação de déjà vu e de esgotamento das soluções, e o alheamento sistemático dos partidos que a representam em relação aos problemas do país (veja-se, a esse propósito, que nem PSD nem CDS comentaram o resultado da OPA da PT), levam a acreditar que as coisas estão, afinal, ainda piores do que há seis anos atrás.
Até ao fim do segundo mandato presidencial de Aníbal Cavaco Silva, a direita portuguesa não terá qualquer projecção.
Nos anos imediatamente seguintes, andou obcecada com o eventual regresso ao poder do austero professor de economia, tal como décadas atrás suspirara pela ascensão de António de Oliveira Salazar. Quando Cavaco chegou ao governo, por lá se deixou estar por mais de dez anos, reduzindo o PSD à sua pessoa e esvaziando o CDS à absoluta insignificância. Ambos os partidos se conformaram com isso e, no fim de contas, agradeceram ao professor por lhes retirar a responsabilidade enorme de pensar. Abandonado o governo e falhada a primeira aventura presidencial, a direita passou a viver, no PSD, dos seus herdeiros pessoais, sucessivamente, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes e Marques Mendes, todos filhos pródigos de Cavaco, seus ex-ministros ou conselheiros pessoais, enquanto que o CDS cresceu à conta de um líder, Paulo Portas, que se fez como referência de um contrapoder imaginário à sua pessoa. Muito antes de se realizarem as últimas eleições presidenciais, já a direita sonhava com o regresso do Messias, na expectativa de que ele pusesse o «país na ordem» a partir de Belém. Actualmente, nem no PSD, nem no CDS há autonomia em relação ao Presidente, que, pelo seu lado, segue placidamente o seu programa, muito próximo, por ora, do programa do governo socialista.###
Alguém, em tempos, comparou Cavaco Silva a um eucalipto que seca e torna árido todo o terreno à sua volta. Eu não sei se esse resultado se deve mais a Cavaco, se à índole medíocre da nossa direita. A esse propósito, quando recentemente António Pires de Lima dizia que a direita se tinha de preparar para voltar, um dia, ao governo, de modo a não repetir as asneiras da sua última passagem por lá, a ideia pareceu-me sensata e muito oportuna. Alguns acontecimentos posteriores, um certo interesse em debater ideias para o país e, sobretudo, para si própria, uma abertura evidente, pela primeira vez na sua história, ao pensamento liberal, algum desprendimento em relação às pessoas, diga-se, às pessoas de sempre, levaram-me a pensar que, desta vez, a direita portuguesa estava num processo de renovação, provavelmente o primeiro feito a sério desde 1974. Os acontecimentos das últimas semanas, o regresso à fulanização, a sensação de déjà vu e de esgotamento das soluções, e o alheamento sistemático dos partidos que a representam em relação aos problemas do país (veja-se, a esse propósito, que nem PSD nem CDS comentaram o resultado da OPA da PT), levam a acreditar que as coisas estão, afinal, ainda piores do que há seis anos atrás.
Até ao fim do segundo mandato presidencial de Aníbal Cavaco Silva, a direita portuguesa não terá qualquer projecção.