"Tal como as coisas estão, a única palavra (que não pode ser utilizada)... em conversas sérias sem perturbar alguém, é «Deus»".
(Afirmação proferida em 1960 pelo teólogo católico norte-americano Michael Novak, citada por M. Albright, Os Poderosos e o Todo Poderoso: Reflexões sobre a América, Deus e a Política Internacional, Lisboa: Difel, 2006, p. 25).
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Embora com um atraso de 47 anos, que foi devido ao regime de Salazar, Portugal conseguiu também, neste aspecto, imitar a América.###
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A situação não é original. Portugal nunca conseguiu viver duradouramente em democracia e num clima de liberdade plena de expressão. Porque, sempre que a democracia e a liberdade de expressão existiram, desencadeou-se na sociedade portuguesa, sob a liderança de uma certa classe de intelectuais, um poderoso sentimento anti-religioso e anti-clerical que, a prazo, foi - na minha opinião - o principal responsável pela morte da democracia e da liberdade de expressão.
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Foi assim depois da Revolução Liberal de 1820, foi também assim após a Revolução Republicana de 1910 e eu creio que pode muito bem vir a ser ser assim depois da Revolução de Abril de 1974.
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O efeito, mesmo que não pretendido, do ataque à Igreja foi o de diminuir, senão mesmo de anular, a sua autoridade. Porém - como procurei argumentar em posts anteriores -, a noção de autoridade prevalecente na cultura portuguesa deriva precisamente da noção de autoridade possuida pela Igreja. Por isso, em Portugal, sempre que a autoridade da Igreja caiu, seguiu-se, uma a uma, a queda de todas as autoridades: a dos professores, a dos pais, a dos juizes, a dos médicos, a dos militares, a dos polícias e, finalmente, a dos governos. O resultado foi o caos generalizado. E, depois, o regresso à ditadura.