“…nous savons qu'il n'y a pas d'efficacité économique sans progrès social.”Reconheça-se alguma consistência à esquerda: insistem sempre nos mesmos erros. Acredita numa economia com crescimento regulado por decreto. Acredita na possibilidade de criação de um mundo desejável, sendo a boa economia uma consequência do perfeito planeamento da sociedade.
Marie-Ségolène Royal, no discurso no fim da noite de ontem, frase interrompida por entusiásticos aplausos.
###
Infelizmente há aqui uma inversão da ordem. Não há progresso social sem uma economia a funcionar mas mesmo num país pouco desenvolvido, pode e deve tentar-se que a economia funcione porque o crescimento económico é sempre o melhor motor para o progresso social.
Outra frase de belo efeito foi esta:
“J'appelle ce soir au rassemblement de toutes celles et ceux qui… veulent faire triompher toujours les valeurs humaines sur les valeurs boursières”É como dizer que preferimos que as alfaces ganhem às bicicletas. Ou não devemos deixar que a gasolina se imponha ao bife. Nunca percebi muito bem em que situação é que os valores humanos são beneficiados por um mau mercado de capitais. A esquerda continua convencida que se a economia funciona, a bolsa cresce e as empresas têm lucros, as coisas correm mal. É por isso que gosta de intervir na economia. A esquerda sempre preferiu os prejuízos públicos aos lucros privados.
Ainda mais um sound-byte para as televisões:
“J'entends instaurer des règles justes dans la mondialisation, maintenir en France nos centres de décision et notre tissu industriel, refuser la régression sociale qu'entrainerait l'abandon à un libéralisme effréné.”Subentende-se que, com Ségolène, a França dominará o mundo, regulará a globalização internacional, não permitirá a deslocalização de indústrias e não deixará vender empresas francesas a estrangeiros. O que Ségolène não diz é se concorda com a reciprocidade destas medidas, isto é, se as empresas francesas também devem ser impedidas de controlar centros de decisão fora de portas.
E, já agora, alguém deveria explicar a Ségolène que as indústrias se deslocalizam porque a França (ainda) é um pais demasiado rico. Se Ségolène pretende recuperar as indústrias deve esperar que o nível de vida francês diminua para patamares equivalentes aos dos países onde as indústrias encontram viabilidade.
O discurso económico de Ségolène Royal, durante toda a campanha, foi deveras indigente, e provocou cisões na sua equipa na campanha, devido ao disparate das promessas do seu programa eleitoral - uma sinfonia de medidas de despesa pública, que faz lembrar o custo das promessas de um antigo primeiro-ministro lusitano que também não sabia fazer contas e que também gostava de jargões à la Ségolène.
“As pessoas não são números”, dizia. Alguns anos depois de tão forte aposta nas pessoas ainda estamos todos pendurados nos números.