O conceito de Poder de Mercado resulta de uma visão míope da economia. É um conceito que pressupõe mercados de consumo permanentemente próximos do equilíbrio. Se se considerar esse pressuposto, determinados agentes podem parecer ter o poder para aumentar o preço de um produto.
Vamos supor que uma dada empresa é o único produtor de um medicamento que cura a SIDA. Certamente que os adeptos do conceito do Poder de Mercado dirão que esta empresa tem muito poder de mercado. O problema dessa análise é que ela considera a situação próxima do equilíbrio que se estabeleceu depois de o medicamento estar criado. Não considera a situação longe do equilíbrio antes de o medicamento ter sido criado nem a forma como se atingiu a situação presente. Os mercados não podem ser analisados de forma estática. A situação actual resulta de escolhas livres realizadas por todos os agentes no passado.
Vamos recuar 10 anos. Existe uma doença mortal chamada SIDA e existem centenas de empreendedores capazes de reunir capital para desenvolver vários projectos. Considere-se duas realidades, R1 e R2.
Na realidade R1 um determinado empreendedor consegue reunir capital para criar um empresa para desenvolver um medicamento contra a SIDA. Nesta realidade mais nenhum empreendedor conseguiu reunir capital para fazer um medicamento, ou porque os outros empreendedores não tinham ideias suficientemente boas, ou porque os investidores entenderam que não há espaço para mais do que uma empresa. Como é evidente, estes investidores tomaram a sua decisão com base no preço futuro do medicamento.
Na realidade R2, ou porque existe menos capital disponível, ou porque as ideias dos empreendedores são piores, nenhum empreendedor consegue reunir capital para produzir medicamentos para a SIDA.
Ora, perante estes dois casos, o adeptos do conceito de "poder de mercado" concluiriam que na realidade R1 há uma empresa com poder de mercado e na realidade R2 não há nenhuma. O que é estranho, porque na realidade R2, onde não há nenhuma empresa com o tal poder de mercado, morrem todos de SIDA e na realidade R1, onde há uma empresa com poder de mercado, as pessoas que tiverem dinheiro para pagar o medicamento vão viver. De forma um tanto paradoxal, parece que o consumidor é melhor servido num mercado onde há empresas com poder de mercado do que em mercados onde não há.
O que é que está então errado com o conceito do "poder de mercado"? Quem o usa tende a confundir as consequências do empreendedorismo, do nível de escassez e da capacidade de previsão económica com "poder". Na verdade, o que acontece é que aquilo que é tomado como "poder" mais não é do que o resultado da escassez (de empreendedores e de capital) e da procura potencial. A escassez e a procura potencial determinam, quer o preço futuro dos medicamentos, quer o número de empreendedores que conseguem reunir capital para criar novos medicamentos.
Note-se que o preço de um medicamento não é fixado por uma alegado "poder de mercado" do produtor no presente. O preço do medicamento foi fixado há 10 anos. Há 10 anos, só foram seleccionados os projectos que podiam ser pagos pela procura potencial. Se actualmente só existe uma empresa e se essa empresa só vende acima de um dado preço é porque essa foi a única solução possível encontrada pelos empreendedores há 10 anos. Há 10 anos foram eliminados todos os projectos excepto um. Os que foram eliminados foram os que teriam que praticar preços ainda mais elevados para rentabilizar o capital.