Nos últimos dias, os rankings estiveram debaixo de fogo. São uma falácia, dizia e repetia vezes sem conta Ana Sá Lopes no Contraditório. São enganosos. São mentirosos. Não servem para nada. Só se trouxerem informações adicionais sobre a envolvente socioeconómica de cada escola, exigem alguns. Não se pode comparar o que não é comparável. São uma ilusão. Deviam ser proibidos.
Não é difícil perceber que a maior parte destes argumentos só ocorrem porque as escolas privadas aparecem à frente das escolas públicas em todos os rankings publicados. Se fosse ao contrário, não faltariam os mesmos críticos em procissão de loas aos méritos das classificações. ###
A verdade é que os rankings nunca poderiam apresentar outros resultados. Que outra razão haveria para alguns pais, depois de pagarem os seus impostos para que os seus filhos e mais os filhos dos outros frequentem a escola pública, ainda paguem outro tanto para que os seus filhos frequentem uma escola privada?
Um dos argumentos mais irritantes que se ouvem é o de que não se pode comparar o que não é comparável. Isto é o mesmo que dizer que escolas boas não são comparáveis com escolas más. Parece que as escolas más ficam afectadas. A verdade é que toda a gente sabe que os meninos ricos que frequentam a escola dos meninos ricos obtém melhores notas, em média, que os meninos pobres que frequentam a escola dos meninos pobres. Mas os rankings também servem para que os pais dos meninos pobres da escola de cima saibam que os seus filhos obtém piores resultados do que os meninos pobres da escola de baixo. Servem para que algumas escolas sintam vergonha e arregacem as mangas. Servem para que alguns pais percebam que não vele a pena inscrever os filhos no externato da esquina e prescindir da sua qualidade de vida durante uma dúzia de anos porque a escola pública ao lado tem melhores resultados. Servem para que os pais que pagaram um serviço caro possam exigir resultados correspondentes. Servem para premiar as escolas, públicas ou privadas, que estão bem organizadas e que fazem um bom trabalho. Servem para saber.
E servem para mostrar os pais o valor do direito à escolha. Hoje, só os ricos têm esse direito à escolha, comprado a peso de ouro por quem o pode pagar. Não deveria esta exclusividade ser suficiente para que os defensores do igualitarismo exigissem a mudança do status quo?
A expansão do direito de escolha para quem hoje não o tem, é um dos grandes objectivos do cheque-ensino. No entanto, ao ler algumas caixas de comentários dos postes do João Miranda, percebe-se que há uma grande coincidência entre quem critica os rankings e quem critica o cheque-ensino.
Há argumentos de crítica para todos os gostos. Há quem afirme que dar oportunidade de escolha a quem não a tem fará aumentar o elitismo e só beneficiaria os ricos, que já podem escolher hoje. Há quem utilize um somítico argumento geográfico, que os vouchers só poderiam servir nas cidades porque na província não há liberdade de escolha. O mesmo argumento poderia ser utilizado para exigir o encerramento das autoestradas em Lisboa porque faltam em Balurcos. Há quem argumente que as escolas se mudariam todas ao mesmo tempo para o Restelo, porque lá é que há gente rica, o que demonstra uma insuperável incapacidade de entendimento de fenómenos económicos básicos.
O cheque ensino e as classificações das escolas são dois lados da mesma moeda. Liberdade de escolha e conhecimento. É mau? É. Para as más escolas, públicas ou privadas, para os maus professores, do ensino público ou do privado.
Admito que também sejam terríveis para os sociólogos da escola do eduquês.