24.1.08

Crash


Vamos supor que o banco central imprime notas e as empresta a juros baixos a meia dúzia de grandes clientes (bancos).

Como há mais notas em circulação, o dinheiro deveria passar a valer menos. No entanto, os agentes económicos não actualizam imediatamente o valor que atribuem ao dinheiro. Diferentes agentes actualizarão a sua percepção do valor do dinheiro a ritmos diferentes.

Os grandes clientes têm uma vantagem comparativa: são os primeiros a receber o dinheiro e podem gastá-lo antes que os restantes agentes económicos actualizem o valor do dinheiro.

Os grandes clientes podem aproveitar a sua vantagem comparativa de duas formas:

1. Investir na produção de bens e serviços

2. Trocar o dinheiro por algo que funcione como reserva de valor

A opção 1 demora tempo a gerar retorno o que faz com que se perca a vantagem competitiva inicial. A opção 2 pode ser realizada imediatamente.

Logo, os grandes clientes do banco central (e os clientes destes) tenderão a investir em tudo o que possa servir como reserva de valor e que possa ser comprado rapidamente: ouro, petróleo, imobiliário e acções.

O fluxo permanente de dinheiro fresco gerará compras permanentes dos mesmos activos (ouro, petróleo, imobiliário e acções). Mais dinheiro para os mesmos activos implica inflação (que não é detectável nos preços ao consumidor). O preço do ouro, petróleo, imobiliário e acções cresce de forma mais ou menos previsível o que atrai especuladores. A entrada de especuladores gera um processo de crescimento de preços que se realimenta a si mesmo. Os preços cresces porque todos acreditam que vão crescer. Temos uma bolha.

A bolha rebenta quando o banco central sobe as taxas. O banco central tem que subir as taxas antes que a entrada de dinheiro comece a gerar inflação no consumidor.

A probabilidade de a bolha rebentar não dissuade a especulação. A especulação é racional desde que os ganhos compensem o risco de a bolha rebentar.

Na verdade o banco central não tem meios para saber qual é o valor correcto das taxas. Por isso, tanto pode estar a errar quando as baixa como quando as sobe. Ninguém sabe.

Quando a bolha rebenta, a pressão política sobre os bancos centrais leva-os a voltar a baixar as taxas. A bolha volta a encher.

Solução socialista para este problema: maior controlo político sobre os bancos centrais. Resultado previsível: períodos mais longos com taxas baixas e bolhas maiores.