Planeou emprestar o partido a alguém que nunca lhe faria sombra. Regressaria quando lhe conviesse. Mas o Congresso não correu como era esperado. A sua pandilha, acantonada no grupo parlamentar, tudo fez para desacreditar a nova liderança. Mal o Congresso tinha terminado e já exigiam um novo. Depois deste realizado insistiram que era preciso mais um. Valia tudo: insultos, ofensas públicas, desafios roncantes. Só faltou que aqueles deputados espancassem o presidente do partido em directo, num telejornal. Ribeiro e Castro não teve o mínimo de tranquilidade para se poder sequer perceber se tinha ou não qualidade para ser líder na oposição. Um ano depois de dizer ter saído de cena, o instigador de toda esta pouca vergonha já se exibia solitariamente num monólogo excessivamente chato, na Sic-Notícias. Cultivando um aborrecido ar de austeridade postiça (porque esta direita sempre confundiu a sisudez com aquilo que julga ser o "sentido de Estado"). Mas, uma vez mais, repete-se até ao fim a fatalidade descrita na história da rã e do escorpião - não conseguindo conter a sua ânsia predadora e mesmo sabendo que este não é o momento adequado, anuncia com a pompa de que não prescinde um regresso que nunca o será. Sabe, no entanto, que nesta direita - a mais estúpida da Europa - não faltarão os aduladores de sempre e os que não se cansam de tentar descobrir mudanças naquilo que nunca se alterará. Agora, travestido de liberal, na mesma sala de onde Cavaco Silva anunciou a sua candidatura, o pano está prestes a abrir-se para a mais pressurosa drag queen da direita portuguesa. Como sempre, espera holofotes, luzes na ribalta e muitos, muitos, encómios.
A direita liberal em Portugal, essa, pode esperar.
###
Como escrevi aqui : «O Paulo Portas de que agora, sebasticamente, se diz que vai "regressar", não renasceu politicamente de geração espontânea - é o mesmo que foi ministro e vice-primeiro-ministro de um governo de que Barroso fazia gáudio em dizer "que não tinha nenhum liberal entre os seus membros". É o mesmo Paulo Portas que verberou o liberalismo e os seus princípios até mais não, garantindo, a propósito, que "Aveiro não é Chicago e Portugal não é os Estados Unidos" (?!). É o mesmo Paulo Portas que desmentiu o liberalismo em todas as acções do seu governo durante três anos e meio.
O que é que este Paulo Portas tem de diferente daquele senhor com o mesmo nome que foi um péssimo ministro de dois maus governos até há 2 anos? Quem é que o acompanha agora que já não tenha estado ao seu lado em todas as lutas que travou nos últimos 10 anos? Digam-me lá onde é que Paulo Portas teve a sua Estrada de Damasco liberal, intelectual, competencial ou funcional, porque, sinceramente, não a consigo enxergar...
Este não é o emergir, muito menos o regresso, de nenhuma "direita liberal" mas sim o reaparecimento da velhíssima direita conservadora que nunca saiu daqui, nunca se reciclou nem conseguiu, sequer, perceber essa indesmentível precisão.»