Ainda sobre o debate no último P&C sobre a Ota, escreve-nos mais uma vez o leitor JBM:###
Só ontem pude ver o debate no Prós & Contras sobre a Ota com um grupo de engenheiros, o que me leva a confirmar algumas teses.
O debate pôs claramente em confronto dois grupos de engenheiros. Um, que designaremos por grupo OTA, que tem trabalhado e está a trabalhar para o governo actual e que não quer de maneira nenhuma que os seus estudos, ainda claramente incompletos, sejam confrontados com estudos paralelos que o outro grupo está a fazer a título gratuito e quer continuar. Estudos estes que apontam desde já para duas localizações a Sul de Lisboa em zona plana, de custos de obra muito mais baixos incluindo os das acessibilidades, sendo também os custos de exploração mais baixos para os utilizadores por ficarem mais perto da capital.
Para sustentar a sua posição a todo o custo o grupo OTA usou város estratagemas verdadeiramente incríveis: Um dos elementos desse grupo, logo a meio da 1ª parte do debate “concluiu” que “os engenheiros em presença no debate não iam chegar a conclusão nenhuma e que, por isso, era melhor entregar desde já a resolução do problema aos políticos...”, isto é, ao governo! São argumentos deste tipo que, como indiquei no comentário anterior levam a resoluções socialmente desastrosas: os políticos decidem contra o que a Engenharia (“Ciência Aplicada”) indica como melhor.
O mesmo grupo OTA argumenta com questões ambientais que levaram ao chumbo pela UE de Rio Frio, próximo de Poceirão e Faia, localizações que os estudos do outro grupo apontam como muito mais baratas e melhores. Agitaram-se também para estas localidades a existência de aves migratórias e potenciais prejuízos para a recarga do aquífero, problemas que também existem na Ota e ainda não foram avaliados pelos seus defensores. As questões dos ambientalistas são velhas: são “polícias” que tudo proíbem e nenhuma solução apresentam. Vejamos este caso: para voarem e nidificarem as aves (que até nos podem trazer o vírus da gripe das aves), não podem voar os aviões! Quanto ao prejuízo para a recarga do aquífero a questão está em que um terreno virgem permite a infiltração das águas e quando revestido, as águas são canalizadas directamente para os rios e o mar. Mas isto acontece não só na construção de aeroportos como na de auto-estradas, estradas, edifícios, construções industriais, estádios, etc. etc. Portanto, para os ambientalistas é melhor regressarmos à feliz(?) vida do selvagem da Idade da Pedra.
Pela teoria da recarga do aquífero do grupo OTA nada se poderá construir de novo a Sul de Lisboa: nem edifícios, nem complexos industriais, nem ruas, nem estradas, nem vias férreas, nem auto-estradas, etc, etc. Mas isso também é válido para a OTA que foi demonstrado estar no mesmo aquífero. De resto os mais categorizados engenheiros de ambiente não estavam lá, ficaram na Universidade de Aveiro...
Finalmente o grupo OTA junta outro argumento “decisivo”: o projecto tem de ser aprovado por Bruxelas e os ambientalistas de Bruxelas vão chumbá-lo se for a sul de Lisboa! Nesta heresia diz-se, e bem, que a contribuição máxima de Bruxelas é apenas de 20% e mais do que isso se pode poupar com projecto adequado.
Tudo o que o grupo OTA disse foi claramente “encomendado” pelo governo actual, para sustentar a decisão que o ministro das Obras Públicas revelou na TV já ter tomado, sem fundamento científico adequado. E, incrivelmente, o ministro das Finanças até disse esta “barbaridade”: O novo aeroporto nada vai custar ao Estado, porque serão os privados a pagá-lo...” Não Sr. Ministro, os grupos privados não pagam, financiam com juros, sejam quais forem as “engenharias financeiras” que apresentem. E neste sentido, os privados, incluindo os construtores, não estão interessados, obviamente, nas obras mais baratas, questão velha e válida para muitos outros casos. Daí que lutem com todas as armas em defesa da OTA.
Ou seja, os interesses da OTA, já estão instalados e travam uma luta titânica pela sua defesa. E o governo apoia. Porquê? Veta qualquer estudo paralelo ao que falta fazer para a OTA, o que não implica qualquer perda de tempo, e só por acidente a verdadeira questão veio a público. Aliás os prazos e os custos de conclusão previstos para as obras, em qualquer caso, “derrapam” sempre e derrapam mais quando os estudos são incompletos. Só alguns exemplos: O Centro Cultural de Belém, a Casa da Música do Porto, todos os 10 (dez) novos estádios de futebol, as Obras da Expo98, os Metros de Lisboa e Porto, o Túnel do Rossio, o Túnel do Marquês, o Túnel da Av de Ceuta, etc. etc. Haveria, aliás, muito que dizer sobre as razões do facto de grandes Obras Públicas neste País serem, sistematicamente, postas a concurso com projectos ou anteprojectos incompletos ou mesmo sem anteprojecto, invocando-se sempre a falácia da urgência na conclusão das obras.
E o governo já decidiu ao arrepio do que a “Ciência Aplicada” diz. Tudo está a acontecer como previ e as consequências serão catastróficas para a classe média que é quem tudo paga. Os ricos podem fugir sempre, os pobres nunca podem pagar. Agravam-se cada vez mais as desigualdades sociais em Portugal.
E, finalmente, eu continuo a perguntar: porque é que os dois principais partidos nunca sequer tentaram chegar a acordo para a escolha de um grupo técnico independente que execute um projecto ou, pelo menos um anteprojecto, num prazo definido, para o novo aeroporto com todas as justificações técnicas que sempre têm de existir, obrigando-se o governo que estiver “de serviço”, qualquer que ele seja, em qualquer altura, a mandar executar a Obra?
Braga, 28-03-07
JBM