10.3.07

a santanização de paulo portas?

Se Paulo Portas quer conquistar o CDS para, a seguir, tentar convencer o centro-direita e o país, terá forçosamente de ir à luta. Neste regime de democracia mediática, «ir à luta» num partido político pela sua liderança significa dar a cara num Congresso, enfrentar os seus adversários, ser mais convincente do que eles, fazer intervenções galvanizadoras que levantem a assistência, conseguir a atenção das televisões, ou seja, dar a volta por cima, mesmo que, e sobretudo se, as condições iniciais forem adversas. Os grandes líderes dos partidos democráticos portugueses - Sá Carneiro, Cavaco Silva, Mário Soares, enfrentaram Congressos hostis, e conquistaram os seus partidos e a confiança do país nessas assembleias. Qualquer outra saída que dê a sensação de que está a fugir ao confronto é má para Paulo Portas e pode resultar na sua santanização, nome pelo qual ficou conhecido o processo de chegar ao poder com legitimidade democrática reduzida.###
É evidente que, na aparência, o jogo das directas é mais abrangente e democrático que um Congresso. Mas, num pequeno partido de caciques como o CDS, sem estruturas implantadas no terreno, sem poderes locais efectivos, quase sem militantes, e com listas de associados que nunca foram actualizadas em trinta anos de existência, se as eleições dos delegados aos Congressos são permeáveis, são-no certamente em muito maior escala a organização de «directas» por estruturas locais feudalizadas. Por essa razão, ainda que em condições sofríveis, um Congresso de um partido garante mais democracia e maior cuidado por parte dos seus protagonistas, pela simples razão de que está a ser visionado e escrutinado on line por algumas centenas de participantes, por jornalistas e pelo país.
Salvo melhor opinião, que os factos infirmarão ou confirmarão, se o Dr. Portas insistir caprichosamente – ao invés do que aparentemente está a fazer Ribeiro e Castro, numa única via para regressar ao partido, do qual saiu quando quis e porque quis, pode até chegar a conquistá-lo, mas não granjeará a confiança dos eleitores. Poderá resolver, no imediato, um problema, mas dificilmente deixará de condenar irremediavelmente o seu futuro político, à imagem e semelhança do que aconteceu ao seu amigo Pedro Santana Lopes.