Não devemos iludir-nos: não é a direita que está em crise profunda, mas o próprio regime donde ela emerge como força política e social. Em condições historicamente normais para Portugal (aquelas em que vivemos nos últimos duzentos anos), isto é, se não estivéssemos integrados na União Europeia, a insatisfação social já teria, há muitos anos, condenado o regime a uns sustos valentes. É graças à tutela dessa organização supranacional que os temos evitado e, provavelmente, os continuaremos a evitar no futuro, pelo menos enquanto estivermos na União, o mesmo é dizer, enquanto ela existir. Neste particular aspecto, estou longe do pessimismo do Pedro Arroja. A crise dos partidos da direita não é, assim, muito distinta da dos partidos de esquerda quando estes não estão no governo. A sucessão rotativa no poder restitui o ânimo perdido na oposição, transforma pessoas banais em génios políticos, e projectos políticos falhados em programas de governo esperançosos. Não há, por isso, que desanimar: quem se aguentar na liderança nos partidos de direita chegará ao poder quando Sócrates o perder. La Palice puro!