Um Governo de 16 prof‘s doutores
Eles gostam é de estudar e de dar aulas. Passam o tempo cercados pelos livros e, nos tempos livres, montam «puzzles», a treinar para aprender a resolver os problemas do país. Neste Governo, o primeiro-ministro «só» tem pós-graduação, mas os académicos dão o tom
UM GOVERNO de timbre pardacento, em que as ligações passadas e presentes não emocionam. As virtudes são públicas e os gostos não precisam de ser privados.
O mais emocionante que se encontra no actual Executivo é o seu excessivo pendor académico. Dos 53 membros, quatro são catedráticos, 12 são doutores, dos quais quatro com provas de agregação prestadas. Há mais dois doutores a caminho, sete já são mestres e nove pós-graduados. Mas, como fica bem ter um pouco de tudo, há até um secretário de Estado que não completou a licenciatura.
Nesta equipa, aparentemente, o que de mais «suspeito» se pode apontar é que, semanalmente, realizam conselhos científicos na sala do Conselho de Ministros. ### Assim, a coligação mais forte não é partidária, mas universitária, fundamentada em três siglas: IST/ ISEG/ISCTE (Instituto Superior Técnico, Instituto Superior de Economia e Gestão e Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa). E quem não fez a licenciatura de um lado foi buscar o complemento de outro. Um exemplo é o de Augusto Santos Silva, que se licenciou em História na Faculdade de Letras do Porto, doutorou-se em Sociologia pelo ISCTE e dava aulas na Faculdade de Economia do Porto.
A formação dos senhores ministros também não chega para surpreender. Os governos continuam a fazer-se entre engenheiros e advogados, com os economistas a aproximarem-se a passo rápido do poder. E a regionalização não merece nota positiva: a zona do país que elegeu mais ministros foi Lisboa. Quando as há, as ligações aos grupos económicos são evidentes. Não é segredo para ninguém que Manuel Pinho fez praticamente toda a sua carreira no Banco Espírito Santo.
Passado o primeiro impacto da chegada a São Bento e com o ar do Verão a queimar o país, a equipa de José Sócrates não chega a suscitar excitação.
Mas há curiosidades, como o actual titular das Finanças, que viveu numa espécie de República com correligionários do Governo de Guterres (Augusto Santos Silva e Daniel Bessa, entre outros) quando vieram do Porto trabalhar para Lisboa. Agora, à procura de nova morada, dorme na casa do filho. No sofá da sala.
EXPRESSO, 13 de Agosto de 2005