17.4.07

pelo preço de uma

Elevadas taxas de divórcio foram, em primeiro lugar, um fenómeno dos países de tradição protestante, e só muito recentemente começaram a ser também um fenómeno dos países de tradição católica, à medida que estes se dispuseram a imitar o modelo de família anglo-saxónico.###
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Como argumentei no meu post anterior, aos olhos do seu marido, a mulher protestante é uma mulher barata que lhe leva ao fim do mês apenas uma fracção do seu vencimento, a qual frequentemente não excede metade. Pelo contrário, a mulher católica é uma mulher caríssima - leva tudo quanto o marido ganha, em nome do governo da casa que, por tradição, lhe compete a ela.
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Em nome do igualitarismo moderno - frequentemente acompanhado por um sentimento de afirmação e independência que é próprio da adolescência -, um número crescente de jovens portuguesas passou a defender a tradição igualitária da família protestante, e a desdenhar da sua própria tradição, com uma intensidade e um ardor que desafiam toda a imaginação.
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Quando casarem, se é que algum dia o farão - assim argumentam -, todas as tarefas e responsabilidades domésticas serão repartidas em pé de estrita igualdade com os seus maridos: os trabalhos domésticos, os cuidados das crianças, o sustento da família. Em nome da sua independência perante os maridos, elas propõem-se contribuir para a casa com uma percentagem dos seus rendimentos - por exemplo, 50% - exactamente igual àquela com que os maridos também contribuem - 50%.
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Ao contrário da lenda, o homem católico nunca procurou na sua mulher principalmente a provisão de serviços domésticos, fazendo dela dona de casa. Seria irracional que o fizesse: os serviços de uma empregada doméstica ficar-lhe-iam, para esse efeito, bastante mais baratos. Aquilo que o homem católico - ou, para o efeito, qualquer outro homem -, em primeiro lugar, e acima de tudo, sempre procurou na sua mulher foi uma coisa bem diferente: sexo.
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Porém, aos olhos do homem católico, este bem sexual que até aqui lhe custava os olhos da cara, expurgando-o regular e religiosamente, ao fim de cada mês, anos a fio, da totalidade do seu vencimento, ele vai agora poder continuar a disfrutar dele por metade do seu dinheiro. O resultado da adopção do modelo protestante de família é o de que, aos olhos do homem católico, a sua mulher embarateceu, tornou-se vulgar, cheap e, agora, pelo preço de uma, ele vai poder ter duas ao longo da sua vida.
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Tanto mais quanto é certo que a sua mulher, fazendo questão que ele contribua apenas com 50% dos seu vencimento para as despesas da família - contribuindo ela com os outros 50% -, lhe deixa mensalmente no bolso o poder de compra necessário para esse fim.