7.4.07

A OTA vista do Porto (Notícia JN)

Desconfiança total a Norte

Hugo Silva

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, é radical fala de um eventual "assassinato" do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Menos contundente, mas na mesma linha de raciocínio, Rui Rio, presidente da Junta Metropolitana do Porto , considera que a aerogare internacional nortenha está a ser esquecida na "equação global" da estratégia aeroportuária nacional. Rio Fernandes, geógrafo, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, teme que a restruturação da ANA, associada ao novo aeroporto de Lisboa, implique uma centralização empresarial susceptível de prejudicar o aeroporto Francisco Sá Carneiro.


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O projecto da Ota levanta muitas dúvidas. A Norte, ainda mais. Adensa-se a preocupação com futuro do aeroporto Sá Carneiro, que usufruiu de obras de ampliação avaliadas em mais de 300 milhões de euros. "É um equipamento que, agora, nos orgulha a todos e está a ser esquecido na equação global. Fala-se da Ota como se fosse o único aeroporto do país", alerta Rui Rio.

O também presidente da Câmara do Porto "estranha" o que considera ser o "excessivo empenhamento pessoal" do ministro Mário Lino no projecto e não resiste a fazer a comparação com as inúmeras reticências do governante quanto às novas linhas do Metro do Porto. "Estamos a falar de investimentos que, no total, custam 400 milhões de euros, enquanto a Ota está avaliada em três mil milhões", contabiliza.

"Uma parte significativa dos fundos de coesão do QREN serão desviados para a Ota. Mas é preciso ter em atenção que esses fundos só vêm para Portugal porque há três regiões que divergem profundamente da média europeia. Não é razoável pegar nesses fundos e aplicar num projecto realizado na região mais rica do país", atenta Rui Moreira.

"O Governo determinou que a privatização da ANA e o processo da Ota decorrerão em simultâneo. Isso significa que quem ficar com a Ota ficará com o aeroporto Francisco Sá Carneiro. Numa empresa privada, a perspectiva será de economia de custos e, assim, a tendência será para centralizar as actividades na Ota. Só depois se olhará para o aeroporto de Sá Carneiro", analisa ainda.

A preocupação é partilhada por Rio Fernandes. Até porque o professor faz uma "avaliação positiva" da gestão recente do aeroporto. Ainda que "a região não promova o equipamento". Por outro lado, sustenta que o que é "preciso é uma companhia aérea nacional que pense verdadeiramente nos interesses nacionais e que pense no 'Sá Carneiro' como o grande aeroporto do Noroeste peninsular".

Sobre a Ota, Rio Fernandes admite ainda não estar "rendido à ideia de não existir uma alternativa mais barata" para o novo aeroporto de Lisboa.