4.4.07

Quem manda na GE?



A dificuldade que existe na cultura portuguesa em racionalizar processos e instituições impessoais é uma das causas maiores da nossa inadaptação ao modelo da democracia liberal prevalecente nos países do norte da Europa e da América do Norte. Já ilustrei esta dificuldade com certas instituições sociais como a lei, o mercado e a opinião pública. Acontece assim também com a instituição da sociedade anónima.###

Quem manda na General Electric, no sentido de ser o seu dono ou possuir uma fracção significativa da sua propriedade? A resposta é: ninguém. Os capitais da empresa são de tal maneira vultosos e estão de tal modo disseminados por milhões de accionistas espalhados por todo o mundo que não se pode dizer que exista algum, com uma fracção suficiente do capital, para mandar na empresa. O mesmo acontece com a IBM, a MacDonald´s, a Coca-Cola, o Citigroup, a Boeing ou a General Motors.

Seria impossível uma empresa destas nascer em Portugal. A primeira pergunta que iria aparecer nos jornais seria a de quem manda na empresa. E, não se chegando ninguém à frente, a opinião pública iria concluir que os donos da empresa se escondem e, por isso, a empresa não pode senão dedicar-se a negócios ilícitos. Mais cedo ou mais tarde, o Governo, em nome de uma qualquer inspecção, iria intervir e dar cabo da empresa.

Os portugueses precisam sempre de uma resposta concreta à questão: "Quem manda aqui?" porque só assim entendem a vida. Eles precisam sempre de um patrão, de uma autoridade pessoalizada na qual, eles próprios, acabam por pessoalizar a instituição.

Por isso, também existem sociedades anónimas em Portugal. Mas elas são anónimas apenas no nome, porque toda a gente sabe - exige saber, sob pena de a instituição ser destruída ou nem sequer chegar a nascer - o nome de quem, na realidade, manda nelas, no sentido de ser o seu maior accionista com uma influência decisiva sobre os seus destinos e o seu inquestionável patrão.

Quem manda na General Electric? Ninguém. E na Sonae?